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Secretário de Esporte de Bolsonaro despacha de casa e não vai a Brasília

Cerimônia de posse de Marcelo Reis Magalhães como Secretário Especial do Esporte - Francisco Medeiros/Ministério da Cidadania
Cerimônia de posse de Marcelo Reis Magalhães como Secretário Especial do Esporte Imagem: Francisco Medeiros/Ministério da Cidadania

23/05/2020 12h00

Enquanto o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) faz campanha pela volta do futebol em meio a uma pandemia que já matou mais de 20 mil brasileiros, a principal autoridade de esporte no seu governo, o secretário nacional de Esporte Marcelo Magalhães, despacha há mais de dois meses de dentro de casa, no Rio de Janeiro. Ele não foi a Brasília nem mesmo para a reunião entre Bolsonaro e os presidentes de Flamengo e Vasco da Gama, que se deslocaram do Rio para discutir o retorno dos treinamentos.

A ausência de representantes da Secretaria Especial do Esporte no almoço entre Bolsonaro e dirigentes dos clubes chamou atenção de pessoas ligadas ao esporte. O presidente convidou até o ator Mario Frias, cotado para substituir Regina Duarte na secretaria de Cultura, mas não incluiu na conversa a área esportiva do seu próprio governo.

Bolsonaro tem amizade pessoal com o secretário de Esporte, que é amigo de infância do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho mais velho do presidente e que também participou ao almoço. Magalhães inclusive diz que o convite para assumir o cargo partiu do próprio presidente, com quem teria boas relações.

Nomeado em 29 de fevereiro, Magalhães levou quase duas semanas até tomar posse em 11 de março. No dia seguinte, uma quinta-feira, pelo que consta em sua agenda oficial, teve uma reunião com o secretário executivo do Ministério da Cidadania. Ele passaria o fim de semana no Rio e, depois, teria três reuniões no dia 17 de março, terça-feira, que acabaram canceladas. Nunca mais a sua agenda, disponível no site do ministério, foi atualizada.

A secretaria diz que, por causa da pandemia, Magalhães não conseguiu fazer sua mudança para Brasília e, por isso, despacha do Rio de Janeiro. Ainda de acordo com a pasta, o secretário não foi nenhuma vez à capital por causa das limitações de tráfego, o que não impediu que dirigentes de Flamengo e Vasco fizessem esse deslocamento. Procurado, Magalhães não respondeu às tentativas de contato do blog.

O Olhar Olímpico pediu à secretaria uma lista de compromissos oficiais do secretário nas últimas duas semanas, mas não obteve resposta. A pasta também não comentou por que Magalhães não participou do encontro com os clubes de futebol, nem confirmou desde quando Magalhães está no Rio de Janeiro.

Em nota, disse que as agendas oficiais das autoridades da secretaria "estão armazenadas e serão publicadas retroativamente (a contar de janeiro deste ano) após a finalização dos ajustes técnicos no portal que passa atualmente por migração de servidor".

Desde o início da pandemia, Magalhães assinou oito portarias publicadas em Diário Oficial. Sete delas são atos burocráticos designando um mesmo servidor para servir de fiscal em diferentes acordos de parceria. A outra amplia o prazo de validade de certidões de entidades esportivas. Quando a secretaria decidiu ampliar pela segunda vez esse prazo, na última segunda-feira, a portaria foi assinada por André Barbosa Alves, secretário adjunto, que como Magalhães também tem residência fixa no Rio de Janeiro.

A secretaria alega que "tem trabalhado nos últimos meses em várias medidas técnicas e administrativas para apoiar atletas, clubes e entidades no enfrentamento da pandemia de Covid-19" e que "todas as ações foram conduzidas pelo chefe da pasta, Marcelo Magalhães', o que seria comprovado por uma série de reportagens do site da secretaria que citam Magalhães. Essas matérias, porém, só citam duas reuniões com a presença do secretário: do Conselho Nacional de Atletas (CNA) e do Conselho Sul-Americano de Esporte (Consude), ambas virtuais.

De acordo com funcionários da secretaria, quem dá as cartas diariamente na pasta é Diego Tonietti, funcionário de carreira do antigo Ministério do Esporte, que foi diretor da Secretaria de Alto-Rendimento no governo Michel Temer (MDB) e que agora é chefe de gabinete de Magalhães.

Antes de ser secretário, Magalhães foi diretor do Escritório de Governança do Legado Olímpico (EGLO). Durante os 20 dias que permaneceu no cargo, nunca apareceu para trabalhar, de acordo com seu então superior direto, o coronel Marco Aurélio Araújo, naquela época secretário adjunto.