De olho em trabalhadoras, Djamila Ribeiro abre instituto em bairro nobre
É em um sobrado de esquina na alameda Tupiniquins, em São Paulo (SP), que agora mora a realização de um sonho antigo da filósofa Djamila Ribeiro. O janelão de vidro na fachada enfeitado com adesivos de flores coloridas estampa também o nome do local: Espaço Feminismos Plurais. Um instituto sem fins lucrativos. Ali, a partir de amanhã (5), serão oferecidos atendimentos e serviços gratuitos variados para quem bater à porta.
Acostumada desde a infância a acompanhar o pai em reuniões do movimento negro de Santos e, depois, já adulta, a trabalhar em organizações sociais, a filósofa conta que aprendeu na prática a importância do fazer em coletivo e de ter um espaço onde a troca de ideias entre pessoas de diferentes lugares seja constante. Algo a que ela deseja dar continuidade no espaço próprio.
"Agora, nesse momento da vida em que consegui uma certa visibilidade, chegou a hora de devolver para a sociedade o que recebi e aprendi nesses espaços", diz Djamila
No Espaços Feminismos Plurais - batizado com o mesmo nome da coleção de livros escritos por pessoas negras que a filósofa vem publicando desde 2017 -, tudo faz referência a personalidades negras que marcaram a história: do primeiro ao segundo andar, dos quadros que decoram as paredes até os nomes escolhidos para batizar cada cômodo.
A recepção ganhou o nome da historiadora e professora sergipana Beatriz Nascimento; a Sala Toni Morrison, em homenagem à escritora preferida de Djamila, possui computadores e uma biblioteca que estão disponíveis para quem quiser trabalhar ou estudar dali - em parceria com a Vivo, a filósofa conseguiu dois anos de internet de graça.
Há também um espaço amplo no primeiro andar, a Sala Lélia Gonzalez, onde acontecerão as formações, cursos, palestras, workshops, exposições de arte e lançamentos de livros — entre os nomes conhecidos que já procuraram Djamila e se voluntariaram a compartilhar conhecimento estão o historiador Leandro Karnal e a jornalista Sônia Bridi. Já a Sala Maya Angelou, mobiliada com uma mesa grande e cadeiras, receberá os atendimentos psicológicos em grupo ou individual com a psicóloga Débora Guimarães e a terapeuta Marília Salles.
Djamila conta que pensou no espaço para conseguir atender diferentes demandas da população, especialmente de mulheres negras. Por isso, quis um local onde fosse possível ofertar cuidados com a saúde - o espaço também disponibiliza tratamento odontológico com a dentista Paula Alves -, educação e desenvolvimento pessoal e profissional.
"Lembro, na faculdade, que três colegas negros cometeram suicídio, lembro da minha mãe que usava dentadura e o quanto isso afetava a autoestima dela... Então, acho importante trabalhar com esse todo porque não somos compartimentos separados. E o instituto vem para ser um espaço de bem-estar social", explica.
Localizado em meio a grandes prédios e casas luxuosas no bairro de Moema, o Espaço Feminismos Plurais só virou realidade com ajuda de um amigo de Djamila, o empresário Maurício Rocha, proprietário da casa e que prontamente cedeu o espaço para a filósofa assim que soube da ideia.
"Essa corajosa iniciativa da Djamila Ribeiro, que tenho orgulho de participar e contribuir, existe pois compartilhamos dos mesmos incômodos. E dentre outras questões, o espaço terá atendimento psicológico para acolher, tratar dessas feridas e colocar em debate e foco temas que precisamos discutir", explica o empresário, que esteve presente em cada parte do processo de construção do instituto.
A escolha pelo local também foi estratégica, conta a filósofa. Há cerca de quinze minutos a pé da linha Lilás do metrô, a iniciativa quer trabalhar em conjunto com instituições da rede pública de São Paulo, indo até bairros periféricos próximos às estações Campo Limpo e Capão Redondo para convidar pessoas da região para as atividades no local.
Também é um ato político a gente estar aqui. Estamos em um bairro de classe média, e as pessoas pensam que as pessoas da periferia não têm direito de ocupar esse espaço da cidade... Mas muitas mulheres que queremos contemplar trabalham aqui.
Djamila Ribeiro, filósofa e idealizadora do Espaço Feminismos Plurais
Djamila quer quebrar estereótipos. "Então, às vezes as pessoas têm uma ideia de que institutos têm que ser só em áreas específicas, como se a classe trabalhadora também não circulasse pela cidade, e não trabalhasse nesses bairros de classe média", diz ela. Para conseguir atendimento, basta chegar ao local e passar por uma triagem que encaminhará a pessoa para a área desejada.
Serviço:
Espaços Feminismos Plurais
Aberto de segunda à sexta-feira, das 9h às 17h, e aos sábados, das 10h às 15h
Alameda dos Tupiniquins, 343, Moema, São Paulo
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