Fizeram História

Lélia Gonzalez: Há 86 anos nascia uma das maiores intelectuais do Brasil

Por Paula Rodrigues

Lélia é uma autora que escrevia para os grandes veículos de comunicação, para a imprensa alternativa. Que estava nos debates culturais, acadêmicos, populares, nas favelas... Era uma intelectual que ficava com sua máquina de escrever em seu escritório, lendo seus livros, mas que também estava nas ruas, nos lugares onde gente do cotidiano estava, fortalecendo aquelas bases.

Flávia Rios,
Socióloga e uma das autora da biografia de Lélia Gonzalez (1935 - 1994)
Mineira nascida em 1 de Fevereiro de 1935, Lélia Gonzalez conseguiu dois diplomas, um de Filosofia e outro de História. Depois chegou a fazer carreira como professora universitária no Rio de Janeiro, para onde se mudou aos 8 anos quando o irmão mais velho Jaime de Almeida foi contratado para ser jogador do Flamengo.
Divulgação
Um dos principais gatilhos que a fez despertar para a militância, com quase 40 anos, ocorreu quando, em 1964, se casou com o filósofo Luiz Carlos Gonzalez, de quem herdou o sobrenome. O problema começou porque a família de Luiz não concordava que ele, um homem branco, se casasse com uma mulher negra.
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Pronto, daí aquilo que estava reprimido, todo um processo de internalização de um discurso 'democrático racial' veio à tona, e foi um contato direto com uma realidade muito dura.

Lélia Gonzalez
Ao final da década de 1970, já estava mergulhada no movimento negro. Foi uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado, criado em 1978, e passou dar formação política para vários militantes à época. Chegou também a realizar diversas viagens dentro do país para ajudar a consolidar o movimento negro e o debate sobre pautas raciais em outras regiões do Brasil.
Ademir/Folhapress

Ela tinha uma preocupação muito grande em ter esse olhar para várias formações culturais e políticas. As contribuições africanas, latino-americanas, das culturas que naquele contexto não tinham autoridade intelectual, que eram tidas como culturas de menor valor, ela tinha uma preocupação muito grande em valorizar essas culturas tradicionais e formações intelectuais de outros continentes que não só o Europeu.

Flávia Rios,
Socióloga e uma das autoras da biografia de Lélia Gonzalez

Interseccionalidabe

Para Lélia, a sociedade possui diversas opressões que se relacionam. Por isso, acreditava que era preciso trazer as questões raciais para o seio do debate feminista, assim como o movimento negro deveria olhar com mais cuidado para questões de gênero.
Reprodução

Tanto questões de gênero quanto de raça foram os pilares de suas campanhas eleitorais -- primeiro em 1981 para deputada federal pelo PT (Partido dos Trabalhadores) e depois para deputada estadual pelo PDT (Partido Democrático Trabalhista). Não conseguindo se eleger em nenhuma das ocasiões. Desistiu de concorrer novamente, mas se manteve presente na vida pública e política até 1989, quando saiu do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM).

Flávia Rios,
Socióloga e uma das autoras da biografia de Lélia Gonzalez
Mesmo após sua morte em 1994, Lélia influenciou e ainda influencia nomes que são expoentes dos movimentos feministas e negros. Quando veio ao Brasil em 2019, a filósofa Angela Davis disse para o público que a assistia: "Eu acho que aprendo mais com Lélia Gonzalez do que vocês poderiam aprender comigo."
Editora Boitempo
Publicado em 01 de fevereiro de 2021.
Reportagem: Paula Rodrigues;
Edição: Fred Di Giacomo;