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Malala alerta que milhões de meninas devem abandonar estudos após pandemia

A ativista paquistanesa Malala Yousafzai durante participação no TED2020 - TED
A ativista paquistanesa Malala Yousafzai durante participação no TED2020 Imagem: TED

Fernanda Ezabella

Colaboração para Ecoa, de Los Angeles (EUA)

14/07/2020 04h00

Mais de 10 milhões de meninas pelo mundo correm o risco de perder seus direitos à educação devido à pandemia, de acordo com um relatório produzido pelo instituto de Malala Yousafzai, ativista paquistanesa e mais jovem personalidade a receber um Nobel da Paz.

"Jovens educadas também são críticas para a força de trabalho, a saúde pública e a recuperação econômica", alertou Malala, que completou 23 anos no domingo (12), durante participação no TED.

Aumento dos índices de pobreza e das responsabilidades na casa, trabalho infantil, casamentos arranjados em idade precoce e gravidez na adolescência estão entre os motivos, agravados pela pandemia, que levarão milhões de jovens à evasão escolar quando as escolas reabrirem.

A pesquisa do Malala Fund olhou para crises recentes como a epidemia de Ebola de 2014-2015 e a crise financeira global de 2008 para entender as consequências de curto e longo prazo da Covid-19 para as meninas mais marginalizadas em diversos pontos do mundo.

Malala, que recebeu o Nobel aos 17 anos, em 2014, foi também a mais jovem a virar Mensageira da Paz da ONU, em 2017. A Malala Fund, criada em 2013, está presente em seis países, incluindo o Brasil, onde mais de 3 milhões de crianças não frequentam a escola.

Entre práticas positivas de educação à distância durante pandemia, Malala contou que ativistas na Nigéria estão usando o rádio para dar aulas, enquanto no Paquistão educadores fazem o uso de aplicativos e programas de TV, ainda o meio de comunicação mais popular. Já no Líbano, pequenos aparelhos eletrônicos com conteúdo educacional estão sendo distribuídos pelo país e também por campos de refugiados sírios.

Durante a conversa no TED, Malala falou sobre a vida acadêmica na Oxford University, na Inglaterra, onde se formou em filosofia, política e economia faz apenas algumas semanas. Como precursora da recente onda de ativismo jovem, ela disse que tem esperança na nova geração, mas muito temor pelos governos que têm limitado investimentos em educação.

A paquistanesa virou ativista aos 11 anos, quando escrevia um blog para a BBC local sobre sua vida durante a ocupação do Talebã, que havia proibido meninas de estudar. A atitude lhe valeu uma bala na cabeça, disparada pelos fundamentalistas.

Leia abaixo alguns dos principais pensamentos de Malala:

Educação é ferramenta de emancipação

"Ainda me lembro daquele dia quando acordei em janeiro de 2009 e não podia ir à escola, porque o Talebã havia proibido a educação de meninas no vale do Swat. Percebi que educação era mais do que apenas aprender com livros didáticos ou ler e escrever. Era sobre emancipação para as mulheres. Eu me senti mais vulnerável a ser casada com idade precoce, a ser discriminada por não conseguir realizar meus sonhos [...] São coisas que são tiradas de você. Desde então, meu compromisso é com a educação de meninas."

Descobriu lado jovem na faculdade

"Os últimos três anos foram incríveis. Cresci muito e aprendi muito com meus amigos, tutores e professores [...] Honestamente, não me coloquei muita pressão acadêmica e permiti me divertir. Acho que precisava passar mais tempo com amigos e ser como outros estudantes [...] Eu descobri um lado meu mais jovem. Pela primeira vez, estava me envolvendo com gente da minha idade. Ao mesmo tempo, usei minhas férias e feriados para fazer meu ativismo."

Graduada e desempregada

"Fui visitar minha família na Páscoa e não pude mais voltar à universidade [...] Fiz meus exames finais em casa, foi um mês muito longo de provas, estava esgotada. Agora estou graduada, desempregada e procurando emprego [...] Nos últimos dias, dormi bastante e estou me permitindo relaxar e passar tempo com minha família. Consegui pegar minhas malas na universidade e trazer para casa. Estou arrumando meu quarto porque ainda estava com cara de quarto de menina de colégio."

Aberta a diversas áreas de atuação

"Quando tinha uns sete ou oito anos, queria ser mecânica de carros porque achava que era muito legal. No momento, sou favorável a qualquer coisa, como trabalhar em uma firma de consultoria ou numa dessas empresas da geração jovem para construir um futuro sustentável. Adoraria isso. Queria também dar uma pausa e viajar, mas essa opção não é possível agora."

Ativistas no Brasil são exemplo para ela

Nos últimos anos, o Malala Fund criou uma rede de ativistas pela educação, ajudando 60 jovens em sete países, inclusive três no Brasil desde 2018. "Sinto otimismo no trabalho de jovens ativistas locais apaixonados em trazer educação para suas comunidades. Eles podem estar trabalhando em áreas marginalizadas rurais do Paquistão, Nigéria ou Brasil e, mesmo com tantas dificuldades, eles trabalham muito duro. É bastante inspirador."

Pressão para que governantes cumpram promessas

"Quando você olha para os governos e para os recursos globais em educação, há tanta coisa faltando. É algo que realmente me preocupa. Quando líderes se comprometem com educação, eles precisam se comprometer com financiamento. Às vezes, eles se comprometem, mas, você sabe, raramente cumprem. Então é muito importante continuar pressionando líderes para que eles mantenham seus compromissos [...] Estou escrevendo cartas para diferentes presidentes e primeiros-ministros pedindo seu apoio."

Planos de entrar na política?

Malala não tem planos, ao menos por enquanto, de entrar para a política. "Empregos no governo são bem complicados e limitados [...] No Paquistão, com apenas alguns partidos políticos, dificilmente algum deles tem um bom histórico que não inclua corrupção ou escândalos. Meu foco é educação de garotas pelos próximos cinco a dez anos. Espero poder ver em vida todas as meninas frequentando escolas."

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Imagem: Arte/UOL

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