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Como Malala sobreviveu atentado e foi para uma das melhores universidades

Malala postou foto coberta de papel picado no Twitter para comemorar formatura - Reprodução/Twitter @Malala
Malala postou foto coberta de papel picado no Twitter para comemorar formatura Imagem: Reprodução/Twitter @Malala

Marcos Candido

De Ecoa, em São Paulo

19/06/2020 14h02

Malala Yousafzai, 22, se formou ontem (18) na Universidade de Oxford após encabeçar uma jornada que embalou o mundo pelo direito universal à educação e a emancipação das mulheres por meio do ensino.

Aos 14 anos de idade, a paquistanesa levou um tiro na cabeça em um ônibus escolar. Os autores pertenciam ao Talibã e considerava a educação de meninas um valor ocidentalizado. Refugiada no Reino Unido para fugir da morte, Malala ganhou o Nobel da Paz em 2014, sendo a mais jovem a receber o prêmio.

"Não é fácil expressar minha gratidão agora que consegui meu diploma de filosofia, política e economia em Oxford. Não sei o que está no porvir" Malala

"Efeito Malala"

A então estudante gerou uma espécie de "efeito Malala", no qual foi reforçado o papel da educação como uma ferramenta transformadora para a busca da paz e dos direitos das mulheres.

A estudante tem a filosofia de que é possível provocar mudanças estruturais com a educação de meninas. A ação é especialmente importante para Malala em países fragilizados e sob mandatários patriarcais.

Protagonista de livros e debates pelo mundo, a ativista usou da sua popularidade para colocar em pé projetos como a Fundação Malala, instituição que apoia educadores à frente de projetos educacionais de inclusão em países em desenvolvimento. Além de Índia, Afeganistão, Nigéria e Paquistão, também há projetos desenvolvidos por educadores brasileiros.

A vencedora do Nobel da Paz Malala Yousafza fala durante entrevista na sede da ONU - Darren Ornitz/Reuters - Darren Ornitz/Reuters
A vencedora do Nobel da Paz Malala Yousafza fala durante entrevista na sede da ONU
Imagem: Darren Ornitz/Reuters

Início da jornada

A jornada de Malala começou em 2009, quando ainda pré-adolescente manteve um diário na BBC para relatar o medo que sentia ao estudar com a presença do Talibã no Vale de Swat, região noroeste do Paquistão. No período, escolas foram bombardeadas pelo grupo e reabertas apenas para meninos. O país vivia um conflito armado e cultural. A ação dos grupos armados era destruir valores considerados ocidentais, como acesso universal à educação.

No mesmo ano, Malala estrelou um documentário para falar sobre o medo e a vontade de estudar. Foi um dos pontos de partida para torná-la um fenômeno mundial, símbolo pacifista e um alerta de que ainda havia mulheres em busca de direitos básicos, alcançados há séculos nos países desenvolvidos. Outra consequência também foi tornar-se alvo prioritário do Talibã.

Três anos depois, um homem armado subiu no ônibus escolar e atirou contra Malala, ferindo ainda duas colegas. O Talibã já havia perdido o domínio do território onde a estudante vivia, mas ainda nutria a missão de tentar matá-la devido à repercussão internacional sobre a região.

Malala foi socorrida por médicos britânicos e levada para o Reino Unido.

Nova vida, nova missão

Após dez dias em coma induzido, acreditava-se que a estudante teria sequelas cognitivas. Para surpresa da família e dos profissionais de saúde, recuperou-se do trauma sofrido. A mudança para a Inglaterra acabou sendo permanente.

Menos de um ano após acordar, fez um discurso na Assembleia de Jovens das Nações Unidas, em uma fala incisiva contra as tentativas de intimidá-la. "Pensaram que a bala iria nos silenciar, mas falharam", disse na ocasião. "Nossos livros e nossos lápis são nossas melhores armas".

O ex-primeiro-ministro britânico Gordon Brown, agente da ONU, introduziu o discurso de Malala como "a garota mais corajosa do mundo".

Ida à universidade

Em 2017, foi aprovada para o curso de Filosofia, Política e Economia da Oxford, uma das universidades mais respeitadas do mundo, criada em 1096. O curso é famoso por formar grandes intelectuais britânicos.

No ano seguinte, retornou ao Paquistão com um forte esquema de proteção e um discurso em prol da educação ao lado do primeiro-ministro paquistanês. Uma passagem curta, de apenas quatro dias, que envolveu uma operação militar para reencontrar alguns poucos amigos do tempo de escola.

11.jul.18 - Malala bate um pênalti com meninas do Complexo da Penha - Ricardo Moraes/Reuters - Ricardo Moraes/Reuters
Malala bate um pênalti com meninas do Complexo da Penha
Imagem: Ricardo Moraes/Reuters

Vinda ao Brasil

Em 2018, Malala esteve no Brasil para uma palestra a convite de um banco. "É importante que mulheres se expressem", discursou. A vinda ao país teve como objetivo "achar meios para que as 1,5 milhão de meninas fora da escola tenham acesso à educação". Foi quando deu o pontapé para articular com educadores locais a introdução de meninas, especialmente negras, ao sistema educacional.