Algodão hidropônico pode revolucionar a indústria sustentável da moda

David René Rodríguez, cofundador da produtora de algodão Magtech, conhece de perto o lado sombrio da indústria da fast fashion. O empresário trabalhou quatro anos em Bangladesh e dois anos na Tunísia para um fabricante têxtil espanhol. "São criados muitos empregos, mas com um preço muito alto para o meio ambiente", afirma.

De acordo com Rodríguez, o algodão, cujo cultivo exige muita água, utilizado em fábricas instaladas em países onde a produção de roupas é mais barata, vem de todos os cantos do mundo. Nessas fábricas, as condições de trabalho são precárias, sobretudo nas da indústria da fast fashion, mas os funcionários "são gratos por terem um emprego", acrescenta.

De acordo com o Deutsches Umweltinstitut, mais de 25 mil toneladas de algodão são produzidas anualmente em todo o mundo. Os principais produtores são a China e a Índia, cada um com um volume de colheita superior a 6 milhões de toneladas por ano, seguidos pelos Estados Unidos, com cerca de 3 milhões de toneladas. "Muito vem da China com selos verdes falsificados", diz Rodríguez.

Proteção do solo, economia de água

Com a Magtech, Rodríguez deseja promover uma mudança nesse setor. Ele já produz algodão sustentável em Valência. "Com hidroponia. As plantas ficam suspensas em solução nutritiva e são cultivadas em estufas. Os holandeses já fazem isso com vegetais há muito tempo. É o futuro, porque economiza água, produtos químicos e poupa o solo."

Desde 2021, Rodríguez trabalha no projeto em parceria com o Conselho Nacional de Pesquisa da Espanha (CSIC) e a Fundação Cajamar. Além disso, realiza pesquisas com a Universidade Politécnica de Valência sobre a utilização de águas residuais para este processo. Ele já tem contratos com marcas de luxo na França e no Reino Unido, e negocia com possíveis clientes alemães. Na Espanha, entretanto, a meca da fast fashion, ele ainda não assinou nenhum contrato.

A hidroponia chegou na hora certa. A União Europeia (UE) tem como objetivo tornar todos os produtos do mercado interno mais sustentáveis. A indústria têxtil entra na mira regulatória a partir do próximo ano, explica a especialista do setor Beatriz Guerrero, da Universidade San Pablo CEU, em Madri.

A quantidade de roupa comprada por pessoa na UE aumentou 40% nas últimas décadas, segundo o Parlamento Europeu, e todos os anos cerca de 30% das peças produzidas não chegam a ser vendidas, devido ao modelo fast fashion. A partir de 2024, o Parlamento Europeu quer proibir que estas mercadorias sejam jogadas fora e acabem em "lixões têxteis" na África ou na América Latina.

O conglomerado de fast fashion espanhol Inditex, dono da rede Zara, entre outras, já está se mexendo e começou a reciclar os tecidos. Economia circular e mercadorias de qualidade com preços mais elevados estão sendo integradas em algumas das coleções. Segundo Estel Vilaseca, da escola de design de moda LCI, em Barcelona, essas empresas também já não conseguem acompanhar concorrentes como a Shein da China em termos de preço.

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"O mercado está, portanto, os afastando do segmento barato, mesmo sem as crescentes regulamentações ambientais da UE", acrescenta Vilaseca. Para o especialista, o modelo de fast fashion barato está saindo de linha na Europa e agora começa a batalha pelo material mais sustentável e pelos métodos de reciclagem mais eficientes.

Segundo Rodríguez, também é importante esclarecer os clientes. "Na minha opinião, o algodão é o melhor tecido. As roupas de tecidos sintéticos, especialmente o fleece, liberam fibras durante a lavagem. Cerca de 35% dos microplásticos nos oceanos do mundo vêm disso", explica René. A maior vantagem ecológica do algodão é que ele é biodegradável. Outras marcas espanholas sustentáveis, como a Ecoalf, ainda preferem trabalhar com plástico reciclado, o que faz parte da sua estratégia de marketing.

Comprar melhor, consumir menos

Embora nenhum fabricante têxtil espanhol tenha ainda adotado a ideia de Rodríguez, ele acredita que a hidroponia é solução para muitos dos problemas das indústrias alimentar e têxtil. "Já podemos aumentar o rendimento por algodoeiro num fator de 60 em comparação com os cultivos com métodos convencionais, e, ao mesmo tempo, reduzir o consumo de água em 70%".

A manipulação genética também torna possíveis outras cores de lã além do branco, o que eliminaria a necessidade de tingimentos prejudiciais ao meio ambiente. Em 2024, quando a UE pretende encorajar gigantes, como a Inditex, a produzir de maneira sustentável, a Magtech pretende colocar em funcionamento uma estufa de 2.400 metros quadrados com painéis solares em Valência.

Na avaliação de Estel Vilaseca, a ideia de Rodríguez é o caminho certo, até porque o algodão produzido de forma sustentável na Europa tornaria automaticamente as roupas mais caras. "Temos que comprar menos e melhor, não há como escapar disso".

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É o que também pensa a empresa de moda espanhola Adolfo Domínguez, que transita entre o fast fashion e as passarelas. Nas suas campanhas publicitárias, a empresa tem apelado corajosamente, já desde 2018, para que pessoas comprem menos e melhor. Seu modelo de negócios não é barato. Um pulôver custa 100 euros, e não 20. Eles também oferecem roupas para alugar.

"Como sociedade, nós, aqui na Espanha, ainda não compreendemos que não podemos comprar constantemente roupas novas. O comércio de usados só recentemente tem estado em franca expansão no nosso país, mas na verdade apenas contribuiu para que ainda mais mercadorias circulem", critica Guerrero.

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