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Sandra Caselato

O desafio em dizer "não" para as festas de fim de ano

Encontros mais curtos, de no máximo meia hora, sem comida, com menos pessoas, utilizando máscara e em local externo são propostas mais seguras - Getty Images
Encontros mais curtos, de no máximo meia hora, sem comida, com menos pessoas, utilizando máscara e em local externo são propostas mais seguras Imagem: Getty Images

Sandra Caselato

15/12/2020 04h00

Sabemos como é muitas vezes incômodo ouvir um "não" quando pedimos algo a alguém. Dizer "não" é um desafio ainda maior para muita gente.

Tenho enfrentado este problema nos últimos dias. Venho recebendo vários convites para visitar amigos e familiares, ir a festas e comemorações de fim de ano. Tenho também escutado algumas pessoas contarem que estão enfrentando este mesmo dilema: aceitar ou não os convites que recebem? Será que é seguro encontrar as pessoas? Será que este isolamento todo não é exagerado?

Vejo muitos amigos e conhecidos indo a bares, viajando, participando de eventos, retiros e festas. Imagino que as pessoas estejam, assim como eu, cansadas de ficar em casa, de usar máscara ao sair, de constantemente se preocupar em não se aproximar das pessoas, evitar encostar nas coisas, lavar as mãos a toda hora, usar álcool gel etc.

Me parece que toda aquela tensão e estresse que pairava no ar no início da pandemia vem se dissipando e as pessoas estão mais relaxadas, mais tranquilas, se acostumando com a situação e também flexibilizando os cuidados.

Mesmo com o número de pessoas infectadas e de óbitos aumentando, neste fim de semana, bares e locais badalados em São Paulo estiveram lotados.

As vacinas em teste são uma esperança, mas os cuidados deverão continuar após a vacinação. A vacina vai proteger da covid mas, mesmo imune, você poderá transmitir vírus.

Mesmo sabendo de todos esses dados e perigos, ainda assim, dizer "não" parece estar cada vez mais difícil, principalmente neste momento de fim de ano em que o 'espírito natalino' começa a aparecer nas luzinhas de Natal e nos panetones. O clima de fim de ano e férias começam a se aproximar, a vontade de encontrar familiares e pessoas queridas aumenta, junto com o desejo de celebrar em companhia e se conectar.

Além disso, muitas vezes queremos mostrar para a pessoa que nos convidou o quanto ela é importante para nós e temos receio que o "não" represente para ela falta de valorização ou consideração.

Como então colocar tudo isso na balança e encontrar uma solução que cuide de tudo que está presente e de todos os envolvidos? O momento exige que tomemos cuidado redobrado neste fim de ano para evitar um aumento ainda maior de infecções por covid-19. Como dizer "não" e ao mesmo tempo manter o cuidado e a conexão com a outra pessoa?

Marshall Rosenberg, criador da Comunicação Não-Violenta, sugere que em vez de simplesmente dizer "não", busquemos nos conectar com a intenção da pessoa ao realizar o convite e com minhas próprias motivações ao dizer "não". Posso então expressar qual o "sim" por trás do "não": os valores subjacentes ao "não".

Posso dizer por exemplo que compartilho da vontade da pessoa em celebrar e desfrutar da companhia de entes queridas, que valorizo e sou grata por sua amizade e ao mesmo tempo quero me manter em isolamento, mesmo sendo difícil fazer essa escolha, pois prezo muito pela saúde de todos e quero evitar riscos.

Expressando as motivações e valores que estão por trás do meu "não" ele se torna mais compreensível, assegurando que o "não" é somente para o convite e não para a pessoa diretamente. Posso inclusive demonstrar o quanto me importo com ela, buscando apoiar a pessoa a atender o que é importante para ela.

Se conseguirmos manter nossa atenção voltada para aquilo que mais importa aos envolvidos, podemos encontrar juntos formas alternativas de cuidar de todos que funcionem melhor.

O infectologista Estêvão Urbano dá algumas dicas nesta matéria: Festas, almoços de família e até o Natal da pandemia: o que dá para fazer?

Encontros mais curtos, de no máximo meia hora, sem comida, com menos pessoas, utilizando máscara e em local externo, por exemplo, são propostas mais seguras para esta época de fim de ano apresentadas na matéria.

Espero que você esteja podendo cuidar de si e das pessoas ao seu redor, e que possamos superar essa crise mantendo o distanciamento para que possamos logo nos abraçar novamente!