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Sandra Caselato

O discurso de Joe Biden

O presidente eleito dos EUA, Joe Biden, discursa em Wilmington, Delaware - Tasos Katopodis/Getty Images
O presidente eleito dos EUA, Joe Biden, discursa em Wilmington, Delaware Imagem: Tasos Katopodis/Getty Images

10/11/2020 04h00

Nesta noite, o mundo inteiro está olhando para a América. Acredito que em nosso melhor momento a América é um farol para o mundo. E lideramos não pelo exemplo de nosso poder, mas pelo poder de nosso exemplo."

Joe Biden, Wilmington, Delaware, 7 de Novembro de 2020.

Vivemos um período histórico em que as fake news (notícias falsas) se tornaram um fenômeno global influenciando eleições pelo mundo todo.

Mentiras em escala sem precedentes, principalmente nas mídias sociais, com memes, teorias de conspiração e propaganda manipuladora mobilizaram diversos países a eleger candidatos de extrema direita, como Trump nos Estados Unidos e Bolsonaro no Brasil, por exemplo.

Parece que as oligarquias mundiais descobriram a 'fórmula mágica' moderna para persuadir os pobres a votarem pelos interesses dos mais ricos.

Se faz necessário, então, mais do que nunca, que a população aprenda a distinguir o que é verdade do que é mentira, principalmente nas mídias sociais, a fim de não ser tão facilmente manipulada. Isso não é muito difícil. Este guia da BBC Brasil, por exemplo, indica 7 passos simples para identificar uma notícia falsa.

A não reeleição de Trump para presidência dos Estados Unidos me trouxe esperança de que isso começou a acontecer, pelo menos por lá.

O discurso de vitória, dia 7/11, do novo presidente, Joe Biden, foi quase uma antítese das falas que Trump vem proferindo ao longo de seus 4 anos de mandato, espalhando fake news e desinformação em relação a assuntos diversos, como o coronavírus por exemplo, além de frases misóginas, machistas e racistas.

No discurso, Biden disse que seu governo terá como objetivo unir o país em um momento tão difícil e polarizado. Falou de diálogo e compaixão, frisando que vai governar para todos os americanos. Pregou a cooperação entre todas as pessoas, independentemente de raça, gênero, preferência política, classe social e orientação sexual. Também ressaltou que pretende combater o racismo e a LGBTfobia, além de enfatizar que seu governo vai se apoiar na ciência de modo geral e especialmente no combate ao coronavírus. Prometeu investimento contra a emergência climática e mais fundos para as universidades, além de apoio aos sindicatos.

Por outro lado, o jornalista Glenn Greenwald, em entrevista para a Folha, diz que Biden foi eleito senador defendendo os interesses dos bancos e contribuiu com a aprovação de leis que aumentaram a população carcerária do país, além de ter exercido grande influência na invasão do Iraque e a favor da guerra. Segundo ele, o Partido Democrata tem se distanciado dos trabalhadores.

As ações de Biden em seus 50 anos de política mostram que sua contribuição talvez tenha servido mais para a manutenção do status quo do que para transformações mais efetivas e estruturais em favor da justiça social e do povo.

O discurso de Biden foi bonito e inspirador, anunciando uma Administração progressista, pelo menos no papel. Vindo de uma pessoa em posição de tanto poder, enquanto presidente dos Estados Unidos, sua fala tem grande influência no modo de pensar e no comportamento não apenas dos cidadãos do seu país, mas também do mundo todo.

Palavras e intenções são importantes e exercem grande impacto, porém não são tudo. Ações concretas e mudanças efetivas nas estruturas políticas é que possibilitam de fato mais justiça, equidade, igualdade e dignidade para todos.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.