Topo

Kelly Fernandes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Como os SUVs deixam saldo negativo para as áreas urbanas

Uriel Punk/Futura Press/Estadão Conteúdo
Imagem: Uriel Punk/Futura Press/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

14/04/2023 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Sempre quando caminho pelas ruas, me assusto com carros, seja pela velocidade, seja pelo comportamento pouco cuidadoso de quem dirige. Mas nada se compara com a tensão adicional que os SUVs geram. Os Sport Utility Vehicles (SUVs, Veículos Utilitários Esportivos no português) são veículos cada vez mais populares em todo o mundo. Quando se trata de áreas urbanas, para além do fato de esses veículos grandes e pesados serem mais difíceis de manobrar e estacionar em ruas e avenidas com alto fluxo, podendo ocasionar problemas de trânsito e congestionamento, SUVs também estão associados a um problema de segurança.

A popularidade dos SUVs nos últimos anos tem gerado preocupações em relação à segurança de pedestres, especialmente crianças, pessoas cadeirantes e de baixa estatura. Devido à sua altura e ao seu tamanho, esse tipo de veículo prejudica tanto a visibilidade de quem o conduz quanto de pessoas conduzindo outros veículos, de ciclistas e de pedestres. Isso é ainda mais evidente quando se trata de áreas que não podem ser vistas diretamente pelos espelhos retrovisores ou pela linha de visão de quem dirige o veículo.

Ademais, a força do impacto em um atropelamento envolvendo um SUV, que tem uma carroceria alta, é geralmente muito maior do que em um acidente envolvendo um carro menor. Existem estudos demonstrando que os SUVs podem ter uma maior probabilidade de gravidade de lesões e mortalidade ao atropelar pedestres, devido à sua maior massa e altura em relação aos carros de passeio. A baixa visibilidade de um SUV pode aumentar, portanto, o risco de lesões graves e mortes no trânsito.

Esses fatores são ainda mais preocupantes em áreas urbanas, sobretudo em lugares de entornos escolares, onde crianças podem ser imprevisíveis em suas ações e movimentos. Os dados sobre atropelamento de crianças e riscos são alarmantes e revelam a necessidade urgente de medidas para aumentar a segurança nas estradas.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o atropelamento é a segunda maior causa de morte por lesão entre crianças de 5 a 14 anos em todo o mundo. Uma análise realizada pela Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança e do Adolescente revelou que, em 2019, 1.570 crianças e adolescentes de 0 a 19 anos foram vítimas fatais de acidentes de trânsito no Brasil.

Com isso em vista, existem medidas práticas que podem ser adotadas para reduzir a circulação de SUVs, como a cobrança de impostos de taxa mais elevada; restrição à circulação em centros urbanos e zonas históricas; impostos mais altos por serem veículos potencialmente mais poluentes, de modo a incentivar o uso de veículos mais eficientes e sustentáveis.

É o caso da iniciativa adotada pela cidade de Paris, França, que implementou restrições de acesso para veículos de grande porte em certas áreas da cidade. Além disso, a cidade oferece incentivos fiscais para a compra de bicicletas elétricas e scooters, incentivando o uso de meios de transporte não poluentes.

Também na Europa, a cidade de Londres impôs uma taxa de congestionamento para veículos que entram no centro da cidade, incentivando motoristas a optarem pelo transporte público ou veículos mais eficientes em termos de combustível. Ademais, a cidade tem planos para introduzir uma zona de baixa emissão, onde será cobrada uma taxa adicional para veículos mais poluentes, caso das SUVs.

Por outro lado, há uma tendência mundial de crescimento nas vendas de SUVs. No Brasil, de acordo com dados da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), a venda de SUVs vem crescendo nos últimos anos. Entre 2016 e 2020, houve um aumento significativo na compra de SUVs, de mais de 80% na participação de mercado desses veículos. Em 2020, mesmo com a pandemia, a venda de SUVs representou 29,8% do total de carros vendidos no Brasil.

Frequentemente o porte do veículo gera segurança individual e a aquisição é motivada por status social e econômico, não pela necessidade funcional. Por isso, essas pessoas talvez também não percebam que sua visão de trânsito pode ser significativamente reduzida, apresentando alterações comportamentais, algumas delas retratadas na pesquisa "The Car Cushion Hypothesis: Bigger Cars Lead to More Risk Taking - Evidence from Behavioural Data", de autoria de B. Claus e L.Warlop, que mediu a intensidade de condução dos e das motoristas por meio de um simulador, e o resultado foi que pessoas em veículos de grande porte assumem mais comportamentos de risco na direção.

É papel das montadoras e do Estado induzir o uso de meios de transportes mais sustentáveis e seguros e ampliar o acesso da população a campanhas de conscientização, tendo em vista que, infelizmente, muitas pessoas proprietárias de SUVs e outros veículos com carroceria alta talvez não estejam cientes desse problema, deixando o saldo para a sociedade.

Quer ler mais sobre o mundo automotivo e conversar com a gente a respeito? Participe do nosso grupo no Facebook! Um lugar para discussão, informação e troca de experiências entre os amantes de carros. Você também pode acompanhar a nossa cobertura no Instagram de UOL Carros.