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Kelly Fernandes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Uma nova visão para a mobilidade: zero tarifa, zero emissões e zero mortes

FernandoPodolski/iStock
Imagem: FernandoPodolski/iStock

Colunista do UOL

31/03/2023 04h00

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Como é a mobilidade dos seus sonhos? Trazendo para a realidade concreta, vou refazer a pergunta: como você gostaria que fossem os seus deslocamentos cotidianos? Qual seria o preço ideal para acessar o ônibus, as ruas ao redor da sua casa e a qualidade do ar que você respira?

Certamente cada pessoa que ler este texto responderá de maneira diferente, porque cada um de nós possui uma experiência particular de vida, portanto, de mobilidade, seja física ou social. Por isso pensar o conceito de mobilidade na vida prática torna mais fácil a resposta e permite visualizar alternativas e soluções de transporte público de qualidade.

Mas, como se trata de um assunto de interesse público, é importante construir oportunidades para colocar as ideias na mesa e procurar consensos, que aqui chamarei de visões, para uma coletividade diversa. Apenas desse modo, com a mão na massa e trabalho coletivo, as soluções podem sair do campo das ideias. É o caso da Coalizão Triplo Zero, lançada na última terça-feira (28), cujo propósito é reunir movimentos, organizações e pessoas por uma "Outra" mobilidade no Brasil.

A Coalizão reúne organizações e instituições como o Observatório da Mobilidade de Salvador, o Observatório dos Trens, a União de Ciclistas do Brasil, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, o Instituto de Estudos Socioeconômicos, os Movimentos Passe Livre e Tarifa Zero e a Rede NOSSAS. Todas elas são unidas pelo objetivo de ampliar o direito ao transporte através da tarifa zero, descarbonizar o sistema de transporte para combater a mudança climática e intervir no sistema de circulação para salvar vidas no trânsito.

Para tanto, a coalizão trabalha na construção de uma agenda política voltada para a criação de uma estrutura de gestão do sistema de mobilidade das cidades brasileiras, então chamada como Sistema Único da Mobilidade Urbana (SUM). O SUM teria como objetivo a ampliação da participação da esfera federal no que cabe à mobilidade urbana e ao transporte, em apoio aos governos municipais, que são atualmente os principais responsáveis pela gestão, monitoramento e financiamento do sistema de transporte.

Inspirada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), a Coalizão procura a adaptação de medidas aplicáveis ao contexto da mobilidade urbana, que carece de um modelo de gestão mais integrado entre os diferentes níveis de governo: municipal, estadual e nacional; ssim como de reconhecimento do papel da mobilidade enquanto serviço essencial para a realização de direitos básicos, obtenção de saúde e qualidade de vida e para o desenvolvimento social e econômico sustentável.

"Priorizar o que é prioritário" foi uma das falas que ressoou mais forte em mim durante o lançamento da Coalizão, que pode ser assistido no YouTube. Além dessa afirmação carregar o que já está explícito em políticas públicas e leis brasileiras, ela alerta para a incompatibilidade dessas com as cidades em que vivemos, marcadas pelo tráfego intenso de veículos, aumento das mortes no trânsito, poluição atmosférica e sonora, tarifas de ônibus cada vez mais caras etc. Contexto que torna a Coalizão ainda mais necessária, sobretudo porque surge com a intenção de unir sob um mesmo propósito pessoas, organizações e movimentos que nem sempre atuavam de maneira tão coordenada.

Caso você, seu movimento social ou a organização que você faz parte tenham interesse em conhecer mais ou participar, procure a Coalizão Triplo Zero na internet, pois você já encontrará um site estruturado, redes sociais e um formulário para se integrar a ela e apoiar na construção de novas visões de futuro para a mobilidade.