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Só para ricos? Por que não comemoro a volta do VW Golf ao Brasil

A Volkswagen confirmou a volta do Golf para nosso país, o que parece ser um motivo para comemorarmos. O modelo é uma lenda mundial e começou sua vida com a dura missão de substituir o Fusca na Europa, há exatos 50 anos.

Por aqui, só fomos conhecer o Golf em sua terceira geração, que imediatamente fez sucesso e se tornou sonho de consumo. A quarta geração - primeira fabricada no Brasil - também foi bem sucedida, e durou até mais do que gostaríamos.

Perdemos as duas gerações seguintes e só voltamos a nos alinhar com o resto do mundo na sétima geração. Curioso que, nos primeiros anos, a sétima conviveu com a quarta nos showrooms das concessionárias da marca.

E tudo acabou em 2020, ano do último modelo do Golf disponível no Brasil, a rara versão híbrida GTE. Mas, na real, ele já vinha morrendo aos poucos. Um ano antes foi a despedida do esportivo GTI, e 2018 foi o último ano das versões mais civilizadas e acessíveis. Como podem perceber, estamos sem Golf há uns bons anos.

Quem matou o Golf no Brasil

O 'assassino' do Golf tem nome: T-Cross, o SUV responsável por assumir a antiga linha de produção na fábrica de São José dos Pinhais (PR). Não dá para dizer que a VW errou do ponto de vista financeiro, já que o SUV vende igual pãozinho quente na padaria e o coitado do 'irmão' vendia cada vez menos.

Infelizmente nosso mercado se convenceu de que SUVs são melhores que hatches, sedãs e peruas. Pode até ser para alguns, mas não para todos.

O que vem acontecendo nos últimos anos é que utilitários esportivos compactos, baseados em modelos mais simples, substituíram os verdadeiros carros médios do passado - e parece que poucos perceberam o quanto perdemos com isso. Quem não é fã de SUV, tem cada vez menos alternativas no mercado.

O que perdemos com o fim da linha do Golf

A segunda vez que guiei um carro na minha vida foi um Golf GLX 1995 do pai de um amigo. Não tinha muitas referências para comparar, mas lembro que era um carrão.

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Anos depois, tive a oportunidade de guiar um Golf GL da esposa de um antigo chefe. Era bem mais simples que o GLX, tinha motor mais fraco e era pelado de equipamentos. Mas, nessa época, já tinha tido experiência com outros carros e pude comparar melhor. Apesar de ser simples, era um automóvel delicioso de ser guiado. Nunca me esqueço da suavidade das trocas de marchas. Foi naquele momento que o Golf ganhou meu respeito.

E na real, ele sempre foi um carro espetacular, tido como referência no segmento em qualquer lugar do mundo. Todas as três gerações comercializadas aqui (3ª, 4ª e 7ª) foram de carros caprichados, bonitos, bem acabados e, como já disse anteriormente, sonhos de consumo.

Quem entra em qualquer Golf percebe logo de cara a boa qualidade dos materiais, em especial painel e laterais de porta. Na sétima geração, até mesmo as colunas das janelas tinham revestimento antirruído, algo pouco visto.

O abrir e fechar das portas transmite a sensação de solidez e qualidade construtiva. Viajar com o Golf é garantia de suavidade e silêncio, graças ao perfeito isolamento acústico típico de carros médios. Fora a excelente posição de dirigir e da agradável sensação de contornar curvas sem a carroceria se inclinar tanto, como nos SUVs.

Já o T-Cross pode até ser bom, mas nem se compara. Tem acabamento mais simples, bancos de carro de entrada e isolamento acústico mais próximo do Gol. Para mim, um apaixonado por carros, sempre foi deprimente vê-lo no lugar do Golf, assim como Renault Duster no lugar de Megane Grand Tour.

Os SUVs ganharam espaço por serem mais altinhos, portanto mais amigáveis com obstáculos do dia a dia. Mas sejamos francos, qual a dificuldade de guiar um hatch médio nas mesmas condições? Qual lugar um T-Cross consegue ir que o Golf também não vá?

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Por que não comemoro a volta do Golf

Ele estará de volta no ano que vem, então deveria estar feliz. Mas não estou. Trazer a versão GTI da oitava geração só fará a alegria de poucos endinheirados dispostos a tê-lo como um brinquedo na garagem.

Eu, como alguém do meio automotivo e com fácil acesso para testar um desse por uns dias, obviamente vou gostar da experiência e ficarei feliz nesse período. Mas vamos falar de mundo real, de carros práticos e usáveis, que eu e outros podem comprar.

Não quero somente o GTI nas nossas ruas, mas sim todas as versões do modelo, como sempre tivemos. A maior parte dos Golfs que rodam em nossas ruas são nas versões de entrada das gerações passadas. O GTI sempre foi versão de nicho.

Na Europa tem Golf zero-km com motor de 115 cv. Tragam ele também. Pode ter certeza que, apesar das calotas, é um legítimo Golf, melhor para pegar estrada que qualquer T-Cross com rodas de liga-leve. Claro que esse é só um exemplo, tem outras versões intermediárias para agradar a todos os gostos.

No configurador da Volkswagen de Portugal, são oito versões. Tenho certeza que eu poderia sonhar com alguma delas, mais coerentes com meu bolso, e dificilmente seria o esportivo GTi.

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Comemorar a volta do Golf GTi, é o mesmo que celebrar a presença de Honda Civic Type R e Toyota Corolla GR. Todos carros sensacionais, mas nem vemos andando pelas ruas. Tão raros quanto um Ferrari ou Lamborghini.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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