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Remédios e Tratamentos

Um guia dos principais medicamentos que você usa


Ácido mefenâmico, indicado para cólica menstrual, é usado para várias dores

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Imagem: iStock

Cristina Almeida

Colaboração para VivaBem

20/12/2022 04h00

Descoberto na década de 1960, o ácido mefenâmico tem sido utilizado para o tratamento da dor aguda, aquela que aparece de repente.

O que é ácido mefenâmico?

Trata-se de um medicamento classificado como AINE (anti-inflamatório não esteroidal), que é derivado do ácido antranílico e possui ação analgésica e antitérmica (antipirética).

Dado o perfil de seus efeitos colaterais, esse medicamento só deve ser utilizado sob prescrição/orientação médica, farmacêutica ou de um dentista.

Em quais situações a medicação é indicada?

O fármaco é utilizado na prática clínica há mais de 60 anos e seus efeitos são bastante conhecidos. Contudo, é importante que você faça o uso racional desse remédio, ou seja, utilize-o de forma apropriada, na dose certa e pelo tempo adequado.

A ácido mefenâmico pode ser indicado isolado ou em conjunto com outros medicamentos nas seguintes situações:

Entenda como o remédio funciona

De acordo com o farmacêutico Leonardo Coutinho Ribeiro, "o ácido mefenâmico diminui a inflamação, alivia a dor e reduz a febre porque inibe a ação de substâncias mediadoras do processo inflamatório".

Quando tomado, é absorvido pelo trato gastrointestinal e espera-se que, entre 2 a 4 horas, ele alcance seu efeito máximo. O medicamento é eliminado do corpo pelas vias renal e fecal.

Conheça as apresentações disponíveis

Ponstam® é a marca de referência da ácido mefenâmico. Mas você pode encontrar as versões genéricas.

A apresentação e dose disponível é em comprimidos simples ou dispersíveis de 500 mg.

Cuidados com a automedicação

Embora esse medicamento não exija retenção de receita, o ideal é evitar a automedicação, dado o perfil dos efeitos colaterais dos anti-inflamatórios em geral. "O mais indicado é que o uso seja orientado pelo médico, após o diagnóstico das doenças para as quais o ácido mefenâmico é usado, ou seja, a utilização deve ser restrita a situações específicas e pelo menor tempo possível, de 5 a 7 dias", esclarece o clínico geral, Erick Barreto Pordeus.

Quais são as vantagens e desvantagens desse medicamento?

De acordo com os especialistas consultados, por ter sido objeto de muitos estudos, o ácido mefenâmico é considerado seguro e efetivo, tem baixo custo e, portanto, é acessível para a maioria da população.

No entanto, apesar de ser um fármaco que pode ser comprado sem receita, ele não é totalmente isento de efeitos colaterais, especialmente entre pessoas com hipertensão descontrolada, doenças do coração e cerebrovasculares, diabetes, etc. Isso significa que entre esses pacientes, o uso deve ser cuidadoso e sob supervisão e orientação médica ou farmacêutica.

Saiba quais são as contraindicações

De modo geral, o grupo de medicamentos ao qual o ácido mefenâmico pertence é considerado eficaz e seguro, mas existem algumas contraindicações e cuidados relacionados ao perfil de seus efeitos colaterais.

Assim, o fármaco não deve ser usado por pessoas que sejam hipersensíveis (ou tenham conhecimento de que alguém da família tenha tido reação semelhante) ao seu princípio ativo ou a qualquer outro componente de sua fórmula.

Fique também atento na presença das seguintes condições, que nem sempre são contraindicações absolutas, mas exigem atenção de quem prescreve e de quem irá tomar o medicamento. Confira:

  • Doença inflamatória do intestino
  • Histórico de sangramento ou perfuração gastrointestinal relacionados ao uso de AINE
  • Histórico, evento ativo ou recorrente de úlcera péptica ou hemorrágica
  • Doenças graves do coração, dos rins ou do fígado
  • Reação anterior ao uso de outros AINEs (ibuprofeno, por exemplo)
  • Último trimestre da gestação
  • Tratamento da dor após intervenção cardíaca (ponte de safena)
  • Ter idade inferior a 14 anos

Crianças e idosos podem usá-lo?

O medicamento tem indicação somente para adolescentes com idade superior a 14 anos. Pacientes idosos também podem ser beneficiados, mas dada a idade avançada, a possível presença de doenças crônicas e o uso de outros medicamentos, eles estão mais expostos aos potenciais efeitos colaterais da medicação.

Caso esta seja necessária, a orientação é que seja indicada a menor dose possível e pelo menor tempo possível.

Além disso, a população geriátrica deve ser monitorada para controle de eventual sangramento gastrointestinal, especialmente quando o paciente esteja desidratado ou tenha alguma doença renal.

Estou grávida e pretendo amamentar. Posso usar o ácido mefenâmico?

Anormalidades congênitas já foram relatadas com o uso de AINE. Embora as pesquisas científicas não tenham apresentado resultados consistentes, o uso dessa classe de medicamento é contraindicada no último trimestre da gestação. A razão para isso é que pode haver atraso no parto, além de possível sangramento na mãe e no bebê.

A recomendação é que nos primeiros 2 trimestres da gravidez não sejam indicados AINEs para mulheres grávidas, exceto quando o médico considerar que os benefícios superam os riscos aos quais elas estariam expostas.

Como traços da medicação podem passar pelo leite materno, é desaconselhado utilizá-lo durante a amamentação.

Qual é a melhor forma de tomar esse medicamento?

Prefira tomá-lo com água, respeite o esquema de doses sugerido pelo seu médico e evite partir o comprimido.

É aconselhado ingeri-lo junto ou próximo do horário das refeições para evitar desconforto estomacal.

Existe uma melhor hora do dia para usar esse medicamento?

Não. O importante é que o ácido mefenâmico seja utilizada na forma indicada pelo seu médico.

O que faço quando esquecer de usar o remédio?

Quando isso ocorrer, tome-o assim que for possível. Caso observe que o horário da dose posterior está próximo, espere a hora certa para a administração da dose, e reinicie o esquema de uso do medicamento. É desaconselhado tomar duas doses de uma vez para compensar a que foi esquecida.

Se você sempre se esquece a hora certa de usar remédios, acione algum tipo de alarme para lembrar-se.

Quais são os possíveis efeitos colaterais?

Este medicamento é considerado bem tolerado, seguro e eficaz quando usado na forma prescrita pelo médico.

Apesar disso, os efeitos colaterais mais comuns são dor de cabeça, tontura, sonolência, náusea, diarreia, desconforto abdominal, azia, edema na face, dedos, pés ou pernas.

Além disso, podem ser observadas outras reações, destacando-se as descritas a seguir:

Luciana Canetto, farmacêutica e vice-presidente do CRF-SP, acrescenta que outro efeito colateral temido —comum a todos os medicamentos da classe a que pertence o ácido mefenâmico— "é o risco ligeiramente aumentado para eventos trombóticos cardiovasculares, incluindo infarto e AVC. Além disso, já foram relatados zumbido e ruído nos ouvidos e até a perda da audição".

Assim, a sugestão da especialista é evitar a automedicação e, caso observe a presença de outros sintomas mais intensos durante o tratamento com esse medicamento, o melhor a fazer é informar o seu médico o mais rápido possível.

Interações medicamentosas

O ácido mefenâmico possui algumas interações com outros medicamentos. Quando isso ocorre, pode haver alteração ou redução de seu efeito.

Avise o médico, o farmacêutico ou o dentista, caso esteja fazendo uso (ou tenha feito uso recentemente) das substâncias abaixo descritas, que são apenas alguns exemplos das possíveis:

Embora não existam muitos dados na literatura sobre a interação com fitoterápicos, sabe-se que o uso do medicamento junto à ginkgo biloba pode aumentar o risco de sangramento gastrointestinal.

Informe ao médico ou o farmacêutico sobre o uso dessa planta medicinal para que eles possam orientá-lo. Você deve também comunicá-los sobre o uso de algum suplemento.

Interação com álcool

Bebidas alcoólicas podem potencializar o efeito adverso/tóxico dos AINEs, principalmente o risco de sangramento gastrointestinal, que pode aumentar com esta combinação.

Interação com exames laboratoriais

O medicamento pode produzir resultado falso positivo em exames de urina, em especial os que pesquisam compostos biliares (biliúria). Quando há suspeita disso, a conduta é realizar outros procedimentos diagnósticos, como o teste de Harrison.

Caso esteja utilizando ou tenha utilizado recentemente o ácido mefenâmico, informe ao médico ou ao pessoal do laboratório.

Em casa, coloque em prática as seguintes dicas:

  • Observe a validade do medicamento indicado no cartucho. Lembre-se: após a abertura, alguns fármacos têm tempo de validade menor, o que também é influenciado pela forma como você os armazena;
  • Leia atentamente a bula ou as instruções de consumo do medicamento;
  • Ingira os comprimidos inteiros. Evite esmagá-los ou cortá-los ao meio --eles podem ferir sua boca ou garganta;
  • Em caso de cápsulas, não as abra para colocar o conteúdo em água, alimentos ou mesmo para descartar. Sempre use a cápsula íntegra;
  • No caso de suspensões orais, agite bem o frasco antes de usar. Sempre limpe o copo dosador antes e após o uso e armazene junto ao frasco do medicamento, para evitar misturar com outros remédios;
  • Respeite o limite da dosagem indicada;
  • Escolha um local protegido da luz e da umidade para armazenamento. Cozinhas e banheiros não são a melhor opção. A temperatura ambiente deve estar entre 15 °C e 30 °C;
  • Guarde seus remédios em compartimentos altos. A ideia é dificultar o acesso às crianças;
  • Procure saber quais locais próximos da sua casa aceitam o descarte de remédios. Algumas farmácias e indústrias farmacêuticas já têm projetos de coleta;
  • Evite descarte no lixo caseiro ou no vaso sanitário. Frascos vazios de vidro e plástico, bem como caixas e cartelas vazias podem ir para a reciclagem comum.

O Ministério da Saúde mantém uma cartilha (em pdf) para o Uso Racional de Medicamentos, mas você pode complementar a leitura com a Cartilha do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos - Fiocruz) (em pdf) ou do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (também em pdf). Quanto mais você se educa em saúde, menos riscos você corre.

Fontes: Amouni Mourad, farmacêutica, professora do curso de farmácia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP) e assessora técnica do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia de São Paulo); Erick Barreto Pordeus, médico clínico geral do HC-UFPE (Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco), que integra a rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), mestrando do Departamento de Medicina Tropical e professor das disciplinas de semiologia e de urgência e emergências da mesma instituição; Leonardo Coutinho Ribeiro, farmacêutico, especialista em farmácia clínica e análises clínicas, é doutorando em assistência farmacêutica; integra a Unidade de Farmácia Clínica e Dispensação Farmacêutica do HUCAM-Ufes (Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes da Universidade Federal do Espírito Santo), que integra a rede Ebserh; e Luciana Canetto, farmacêutica e vice-presidente do CRF-SP, integrante do Departamento de Assistência Farmacêutica da Secretaria Municipal de Saúde de Piracicaba (SP). Revisão técnica: Amouni Mourad.

Referências: Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária); LiverTox: Clinical and Research Information on Drug-Induced Liver Injury [Internet]. Bethesda (MD): National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases; 2012-. Mefenamic Acid. [Atualizado em 2020 Jan 10]. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK548029/.