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O que pode ser?

A partir do sintoma, as possíveis doenças


Edema mais comum afeta pernas e pés; causas mais frequentes são as varizes

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Imagem: iStock

Cristina Almeida

Colaboração para VivaBem

13/12/2022 04h00

Mais da metade do nosso corpo é formado por água. Todo esse volume líquido circula pela corrente sanguínea, mas também compõe a linfa, um fluido que percorre o sistema linfático. Este, por sua vez, é composto por tecidos e órgãos que produzem, armazenam e transportam as células de defesa do organismo. Quando esses fluidos se acumulam em determinada região do corpo, ela incha. A esse inchaço se dá o nome de edema.

O sintoma pode acometer qualquer pessoa, em todas as idades, mas o grupo feminino é um dos mais suscetíveis em razão das variações hormonais que podem levar à retenção de líquidos.

Em geral, trata-se de uma manifestação benigna, consequente a um processo inflamatório decorrente de um ferimento, mas também pode se relacionar a doenças graves como as renais, hepáticas e cardiovasculares, entre outras.

Quando o edema aparece em pernas e pés —seja em sua forma aguda ou crônica, a amplitude de possíveis doenças que ele sinaliza pode dificultar o diagnóstico e o tratamento.

Apesar disso, as estratégias terapêuticas começam pelo controle das doenças de base e se estendem à adequação da dieta, prática de exercícios, além de medidas que podem ajudar na drenagem dos líquidos, como o uso de meias elásticas.

O que é edema?

Também conhecido como inchaço, o edema é definido como o acúmulo de líquido (fluido intersticial, ou seja, o fluido entre as células) nos tecidos ou órgãos. Geralmente visível e palpável, ele pode ser agudo (aparece de repente) ou crônico (dura no tempo), e ainda unilateral ou bilateral (acomete só uma parte do corpo ou as duas).

Conheça os vários tipos de edema

O inchaço pode ter variadas manifestações, que são classificadas nas formas que você vê a seguir:

  • Idiopático - não tem causa conhecida;
  • Localizado - o acúmulo de líquido se dá em determinada área do corpo. São exemplos um ferimento ou uma reação alérgica;
  • Generalizado - pode acometer todo o corpo;
  • Cerebral - os fluidos se concentram no cérebro, devido a alguma doença como a meningite;
  • Pulmonar - o acúmulo de líquido vai para os pulmões, como consequência de doença cardíaca, por exemplo;
  • Linfedema - concentração de fluidos linfáticos após a lesão de seus canais (pode ocorrer após uma cirurgia de câncer de mama).

Por que isso acontece?

A retenção de líquidos pode ocorrer por diferentes causas. A mais comum é a chamada insuficiência venosa crônica, doença nas veias dos membros inferiores conhecida como varizes.

Apesar disso, o edema pode sinalizar outras enfermidades e situações, como as que você vê a seguir:

  • Inflamação consequente a lesões
  • Doenças renais
  • Insuficiência hepática (cirrose)
  • Insuficiência cardíaca
  • Desnutrição
  • Problemas hormonais (hipotireoidismo)
  • Doenças vasculares (trombose)
  • Efeitos colaterais de determinados medicamentos (ibuprofeno, minoxidil, anlodipino etc.)
  • Consumo exagerado de sal
  • Ficar muito tempo em pé ou sentado (especialmente quando faz calor)
  • Alergias (urticária, angiodema)
  • Apneia obstrutiva do sono
  • Redução da drenagem linfática

Quem está mais suscetível ao problema?

"O edema é um sintoma que pode se manifestar em qualquer pessoa, mas é mais frequente entre as mulheres. A razão para isso são as variações dos níveis do hormônio estradiol —que promovem a retenção de líquidos, especialmente entre aquelas que não fazem uso de anticoncepcionais", explica a médica de família Beatriz Mota Sampaio, do Departamento de Saúde Populacional do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.

Além disso, são mais propensos ao inchaço indivíduos que se encaixam nas seguintes condições:

  • Histórico familiar de varizes (doenças venosas)
  • Histórico de trombose venosa
  • Gestação
  • Ter idade avançada
  • Sedentarismo
  • Consumo exagerado de sódio e álcool
  • Ter doenças crônicas (obesidade, diabetes, enfermidades renais, do coração ou hepáticas, etc.)

Aprenda a reconhecer o edema

Na maioria das vezes, ele se manifesta por meio do inchaço nos membros inferiores (pernas, tornozelos e pés), mas também poderá ser observado em regiões como a face ou as mãos. O edema pode ainda ser acompanhado das seguintes condições:

  • Peso nas pernas
  • Dificuldade de movimentar as articulações (em especial, os pés e áreas mais inchadas)
  • Dor (quadros mais graves, como inflamações e infecções)
  • Falta de ar (quando acomete os pulmões)

Quando devo procurar ajuda médica?

O edema pode ir aparecendo aos poucos, iniciando com um ligeiro aumento de peso, olhos inchados ao acordar pela manhã e sensação de sapato apertado no final do dia.

"Esse desenvolvimento lento do sintoma, por vezes, faz que ele se torne maciço antes de os pacientes procurarem atenção médica", conta o médico intensivista Pablo Antônio Vidal.

Assim, a orientação do especialista é que todo sinal de inchaço que não passa deve ser considerado motivo suficiente para uma avaliação médica, principalmente quando ele se manifestar nos membros inferiores, e ainda estiver associado à dor e vermelhidão, bem como quando for simétrico (aparecer só de um lado do corpo).

O médico treinado para examiná-lo é o generalista, ou seja, o clínico geral, mas outros especialistas também poderão fazer essa avaliação.

Como é feito o diagnóstico?

Na hora da consulta, o médico ouvirá sua queixa, levantará seu histórico de saúde pessoal e familiar, e ainda fará o exame físico.

Como o edema possui variadas causas, o diagnóstico imediato pode ser difícil, e portanto, quando não é possível confirmar a suspeita levantada pelo profissional durante a consulta, ele solicitará exames complementares como o ultrassom, exames de sangue e, por vezes, cardíacos.

Saiba como o edema é tratado

De acordo com Edwaldo E. Joviliano, professor do Departamento de Cirurgia e Anatomia da USP, as estratégias terapêuticas dependerão do fator causador do edema e de sua intensidade.

A primeira delas, porém, é tratar as eventuais doenças de base. Em quadros como o edema pulmonar, por exemplo, o tratamento deve ser imediato porque se trata de uma urgência médica.

Na presença de problemas renais e hormonais, medidas específicas incluirão o uso de medicamentos e orientações para a modificação da dieta, como a redução do consumo de sal.

Já no caso das doenças venosas, causas mais frequentes do inchaço, podem ser programados exercícios físicos de rotina, perda de peso, medidas posturais, uso de meias elásticas e medicações, e até cirurgia.

Dá para prevenir?

Nem sempre. A depender da causa do edema, como predisposições genéticas para doenças cardiovasculares, ou a presença de enfermidades dos rins ou do fígado, não é possível prevenir o inchaço.

No entanto, quando ele aparece como consequência do consumo exagerado de sal, mudanças na dieta podem preveni-lo. Além disso, a ingestão regular de água, exercícios físicos e acompanhamento médico periódico evitam e/ou minimizam as principais doenças relacionadas ao sintoma.

Saiba como controlar o sintoma em casa

Algumas práticas podem aliviar o incômodo ou potencializar o tratamento do inchaço. Confira:

  • Eleve as pernas ao sentar-se ou deitar-se;
  • Esforce-se para usar meias elásticas quando elas forem indicadas para você. O objetivo de usá-las é evitar que os fluídos se concentrem nas pernas ou nos tornozelos;
  • Evite permanecer sentado ou em pé por longos períodos de tempo;
  • Controle o consumo de sal e de açúcar, na forma indicada pelo seu médico;
  • Prefira manter a temperatura da casa mais fresca;
  • Alterne movimentos com os pés para favorecer a circulação ao viajar de carro, ônibus ou avião;
  • Evite automedicar-se para prevenir efeitos colaterais indesejados de remédios;
  • Procure meios de se manter ativo e exercite-se;
  • Evite ou reduza o consumo de álcool e tabaco;
  • Prefira calçados confortáveis, evitando usar saltos altos por muito tempo.

Fontes: Beatriz Mota Sampaio, médica de família do Departamento de Saúde Populacional do Hospital Sírio-Libanês (SP); Edwaldo E. Joviliano, professor do Departamento de Cirurgia e Anatomia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP (Universidade de São Paulo); Pablo Antônio Vidal, médico intensivista do HULW-UFPB (Hospital Universitário Lauro Wanderley da Universidade Federal da Paraíba), vinculado à rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares). Revisão técnica: Beatriz Mota Sampaio.

Referências: Lent-Schochet D, Jialal I. Physiology, Edema. [Atualizado em 2022 Maio 8]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2022 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK537065/.