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Novo remédio promete combater câncer resistente à quimioterapia

Substância é esperança no tratamento do câncer de mama triplo-negativo agressivo - Sakan Piriyapongsak/IStock
Substância é esperança no tratamento do câncer de mama triplo-negativo agressivo Imagem: Sakan Piriyapongsak/IStock

Wanderley Preite Sobrinho

Do UOL, em São Paulo

07/10/2019 16h27

Um novo medicamento promete ser a solução para o combate a tumores agressivos que se tornaram resistentes à quimioterapia, concluiu um estudo do Instituto de Pesquisa do Câncer de Londres. A droga, avaliada com sucesso em células cultivadas em laboratório e em ratos, agora é testada em pacientes com tumores agressivos.

O segredo do composto, conhecido como BOS172722, é forçar as células cancerosas a se dividirem tão rapidamente que erros fatais ocorrem durante a separação do DNA. A descoberta é importante pois o câncer hoje é uma das doenças que mais matam no mundo todo. O Brasil deve registrar cerca de 600 mil novos casos em 2019, de acordo com estimativas do Inca (Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva). O câncer de pele não melanoma é o mais frequente no país, seguido pelo câncer de mama, para mulheres, e o câncer de próstata, para homens.

O primeiro estudo clínico do novo tratamento já começou. Ele vem sendo utilizado em tumores sólidos, como o câncer de mama triplo-negativo agressivo, mas os pesquisadores acreditam que a droga também será eficaz contra outros tipos de câncer de crescimento rápido, como o câncer de pulmão e o de ovário.

O novo estudo, publicado na revista especializada Molecular Cancer Therapeutics, indica que o remédio bloqueia uma molécula chamada MPS1, que desempenha papel central na organização dos cromossomos durante a divisão celular.

Ao bloquear a molécula usando o novo medicamento, as células cancerosas acabam morrendo porque aceleram a divisão celular ao ponto de provocar um erro no número de cromossomos que se dividiram.

Segundo os pesquisadores, células de divisão rápida são especialmente sensíveis aos efeitos do BOS172722, como câncer de ovário, de pulmão e de mama triplo-negativo, "a forma mais letal de câncer de mama para a qual existem poucos tratamentos bem-sucedidos", diz o professor Spiros Linardopoulos, que liderou o estudo.

Atualmente, as pessoas com esse tipo de tumor recebem apenas a quimioterapia, que impede a divisão celular, provocando a morte do câncer. O problema é que algumas células escapam e se tornam resistentes à terapia, dando origem a mais tumores.

Enquanto todas as células tratadas com a combinação de quimioterapia e BOS172722 dividiram-se com anomalias e morreram, 40% delas permaneceram vivas quando apenas a quimioterapia foi utilizada.

De acordo com o professor do Center for Cancer Drug Discovery, Rajesh Chopra, "a capacidade do câncer de evoluir e se tornar resistente a medicamentos é a razão para a grande maioria das mortes causadas pela doença. O inibidor da MPS1 (...) pode renovar uma quimioterapia que deixou de ser eficaz".

Suicídio celular

Professora do departamento de Oncologia Clínica e Experimental da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Gisele Colleoni explica que vem se popularizando entre os cientistas o uso de compostos que atrapalham o ciclo celular do tumor. "É como um suicídio da célula. Adiantam tanto seu relógio biológico que ela não consegue lidar. A célula carrega tantas alterações que induz a própria morte."

A professora acredita que o desempenho da nova terapia sobre o câncer de mama agressivo indica que ela pode ser eficaz para outros tipos de tumor agressivos e com metástase.

"Agora, nem sempre o que acontece in vitro e em animais ocorre também em pacientes. Os resultados foram muito promissores, mas ainda precisam de comprovação clínica", diz.

Se ainda assim o tratamento em humanos for um sucesso, o medicamento pode demorar alguns anos até chegar às farmácias. "Por outro lado, muitas drogas que interferem radicalmente no ciclo celular estão em teste nesse momento."

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