Ela perdeu toda sua fé após sonho premonitório, mas hoje é líder espiritual

Nasci Tatiana Aleluia Freitas Martins em uma típica família brasileira de classe média do Rio de Janeiro e vivíamos uma vida comum. Porém, minha experiência de vida pessoal era cheia de misticismo, ioga, meditação, conexão com Deus e fatos mágicos, entre eles sonhos premonitórios.

Quando eu tinha 26 anos, previ em um sonho que meu pai morreria. Corri com ele para fazer uma bateria de exames médicos, acreditando que assim eu poderia evitar sua morte, mas um mês depois ele foi assassinado. Naquele momento eu acreditei que todo aspecto espiritual que manifestei durante toda a minha vida me abandonou quando mais precisei.

Cortei relações com Deus e briguei com ele por não conseguir lidar com a frustração de não ter conseguido evitar o assassinato do meu pai.

Depressão e retiro no exterior

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Entrei em depressão e, mesmo com um filho pequeno, sai do Brasil e fui morar na Argentina. Por quase dois anos evitei todo tipo de contato com a espiritualidade e a religião. Isso foi algo inédito na minha vida, porque sempre foi muito sensível à espiritualidade e me conectava profundamente com as divindades através da natureza.

Além disso, passava muito tempo com meu avô materno, que era ocultista e meditador. Foi meu primeiro grande mestre. Eu me sentava muitas vezes ao seu lado em meditação e mergulhava no meu próprio vazio cheio de plenitude. Ele faleceu quando eu tinha 11 anos e me senti muito sozinha, porque ele era o único que não me achava estranha em uma família com uma grande diversidade de credos. Meu filho, por exemplo, é evangélico.

Faltando pouco para completar 28 anos, tive uma experiência espiritual que me fez compreender o porquê vivi tudo o que vivi. Me senti muito grata, inclusive pela morte do meu pai. Então abri novos estudos na linha espiritual.

Descobri que a meditação do meu avô era influenciada pelo Budismo Theravada, que pratica a meditação Vipassana. Ao investigar sobre a meditação Vipassana, acabei descobrindo algumas escolas de ioga e meditação que ressoavam mais comigo e que tinham influências mais hinduístas.

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Da Argentina para a Índia

Eu mergulhei profundamente nessas práticas na Argentina e comecei minha peregrinação por países como a Índia. Desenvolvi a técnica que hoje é conhecida como TATri Padma Dhyana, uma técnica simples de atitude meditativa que não objetiva a busca da própria meditação, mas sim a máxima concentração sem diálogo, que logo lhe entrega o que chamo de 'silêncio transcendente'.

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Comecei a me sentir realmente parte do hinduísmo em 2015. Aceitei o caminho de Sanyasi (Sadhvi celibatária) no dia 23 de janeiro de 2016. Antes do celibato, eu me considerava bissexual e posso dizer que me identifico como uma pessoa não-binária.

Muitas pessoas me criticam por eu nunca ter negado minha história humana e até por falar alguns palavrões, mas aprendi com a própria vida que o mais sagrado é ser humano

Antes de encontrar meu guru, eu estava vagando, entrando e saindo de algumas escolas e tradições hinduístas sem realmente procurar algo específico. No entanto, sentia uma grande inquietude.

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Um dia, ao olhar um jornal aqui na Índia, vi a foto de Shree Shree Shankaracharya Swaroopananda Saraswathi, o único Shankaracharya da história do hinduísmo que liderava duas das quatro tradições originais do hinduísmo. Fiz alguns contatos e consegui um encontro.

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Estava tão emocionada que ignorei todos os protocolos de aproximação ao Shankaracharya e encostei minha testa nos seus pés e senti um silêncio assombroso. Quando olhei para o Guruji, ele me fulminava com os olhos. Fui embora me sentindo a mais ignorante de todos os sadhus da Índia.

Quando eu estava prestes a sair do ashram, um dos devotos me chamou e disse para voltar no dia seguinte, pois Guruji me receberia novamente. No reencontro, para minha surpresa, fui iniciada e nunca mais me afastei dele até a sua morte.

Saudação dos pés

Quando uma pessoa se curva e toca meus pés, eu me sinto muito abençoada e agradecida. O tema da saudação aos pés é algo muito controverso para a maioria das pessoas. No entanto, aprendemos que os pés representam, na astrologia védica, o planeta Vênus, que simboliza a prosperidade física e material.

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Assim, quando um devoto reverencia os pés de seu guru, é um ritual que beneficia a ambos humanamente.

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Fui nomeada duas vezes como cidadã ilustre da cidade de Potrero de los Funes, em San Luis, Argentina. Fui a primeira mulher Sadhvi a receber o prêmio ÃDI Shakti, que foi concedido pela organização do Sanatan Dharma em reconhecimento ao meu serviço social e espiritual na sociedade indiana e internacional.

O último prêmio que recebi, o Shankaracharya Seva Samman, também me surpreendeu, sendo concedido pelo meu compromisso com o serviço espiritual e social. Hoje atendo pelo nome de Paramahansa Sadhvi Tridevi Maa e fico muito feliz com essas conquistas, mas, sinceramente, sinto que ainda não realizei nem um terço do que pretendo concretizar.

Sei que há muito a ser feito, muito a contribuir. Eu não poderia ter conquistado nada disso sem o auxílio incondicional de todos os devotos que escolhem servir a Deus através dos meus passos limitados.

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