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'Depois da covid e do medo da morte, entramos no mundo da troca de casais'

Patrícia e Rogério começaram no swing depois de levarem sustos da vida - Arquivo Pessoal
Patrícia e Rogério começaram no swing depois de levarem sustos da vida Imagem: Arquivo Pessoal

Hysa Conrado

De Universa, em São Paulo

30/09/2022 04h00

"Hoje a minha vontade é fazer um gang bang [sexo com mais de quatro pessoas ao mesmo tempo]". O fetiche atual de Patrícia, 42, e a tranquilidade com que ela fala sobre seus desejos, não combinariam em nada com a mulher insegura com o corpo e fechada para o diálogo sobre sexo que ela era há alguns anos.

O que a fez virar a chave, no entanto, nada tem a ver com tesão ou experiências de prazer: seu marido, Rogério, 43, sofreu um infarto há dez anos, por consequência de uma rotina exaustiva de trabalho. Depois disso, os dois refletiram sobre a necessidade de viver a vida com um pouco mais de aventura. Foi quando o assunto swing deu as caras pela primeira vez. O casal pediu que não tivesse o sobrenome divulgado.

Juntos há 28 anos e pais de dois filhos, tinham "uma vida chata", segundo Patrícia. A dinâmica sexual do casal era "normal, aquela coisa do papai e mamãe". Ainda assim, não foi fácil para Rogério convencê-la a ir para o meio liberal, como é chamada a comunidade que pratica swing. "Sempre fui contra. Na verdade, tinha medo", afirmou ela a Universa.

Uma série de perdas familiares em um curto espaço de tempo, além da pandemia, se encarregaram de entregar urgência à vontade que os dois tinham de viver a vida além do que o cotidiano oferecia. "Nós tivemos covid a primeira vez antes da vacina e ficamos mal, depois tivemos covid de novo. Aí a gente para e pensa, né? Poxa, eu podia ter morrido na primeira vez, podia ter morrido na segunda. Aí voltou o assunto do swing", conta Patrícia.

Foi lendo matérias sobre o tema na internet que ela começou a levar o assunto em consideração, mas não sem pensar que talvez o marido não estivesse satisfeito com o relacionamento. Quando conheceram a Voluptas Society, uma sociedade secreta destinada à prática do swing, ela decidiu que era a hora de tentar.

Depois que entramos na sociedade, passamos a ter uma visão melhor sobre o que era o swing. Porque eu sempre fui muito complexada com o corpo, eu imaginava 'poxa, ninguém vai querer nada comigo'. Mas, chegando lá, vi que era diferente.
Patrícia

A primeira troca de casal foi "tensa", mas não desencorajou

Quando começaram a namorar, ela tinha 14 anos e ele 15. Tiveram as primeiras experiências sexuais juntos e, até conhecerem um casal na Voluptas Society e decidirem fazer a primeira troca, nunca haviam compartilhado a vida sexual com outra pessoa. Por ciúme, Patrícia combinou com Rogério que não teria penetração durante a interação dele com a outra mulher.

"A gente chegou lá [na casa do casal], não sabia o que fazer, comemos uma pizza e, como eles eram mais experientes, acabaram começando a interação", conta. O que ela não esperava era que o combinado fosse desrespeitado. "O marido pegou um preservativo e deu na mão do Rogério", conta ela, que acabou cedendo porque "não queria quebrar aquele clima, não queria nada que fosse traumático".

Apesar de considerar que "a noite estava gostosa" e que, no final das contas, "foi tudo bem", Patrícia se lembra de ter ficado com medo do que ia sentir quando visse o marido com a outra mulher, já que ambos os casais estavam no mesmo ambiente. "Uma coisa é você falar e outra coisa é você ver. Foi um pouco assustador, me incomodou um pouco, mas acabou de uma maneira tranquila", afirma.

Rogério, por outro lado, lembra do momento como "o mais tenso da minha vida"."Fiquei pensando 'será que ela só está concordando pela situação? Será que eu não tô fazendo mal para ela?' Era só isso que passava na minha cabeça."

Na volta para casa, ainda de madrugada, Patrícia lembra de ter vivido "um misto de sentimentos". "A gente estava feliz porque tinha dado certo, conversamos sobre o ponto da quebra do acordo. Mas o que Rogério sempre falou é que o que importava era eu, que ele jamais faria algo para me deixar chateada", conta ela, que considera a confiança no marido o principal motivo de tê-la encorajado a continuar na sociedade de swing.

"Já fizemos de tudo"

As experiências seguintes fluíram mais prazerosamente. Do papai e mamãe ao "já fizemos de tudo" foi um processo que só deu certo pela confiança cultivada pelo casal. "Hoje, sempre quando vamos encontrar alguém, conversamos se é isso mesmo que queremos", diz Patrícia.

Ter a certeza de que ele vai estar no swing, mas quando sair de lá é comigo que ele vai estar, é o que me deixa feliz e segura.
Patrícia

Há dois anos no meio liberal, a lista de experiências que os dois já viveram juntos tem de tudo um pouco: ménage masculino, "feminino ainda não, mas temos vontade de fazer também", afirma ela; exibicionismo, voyeurismo —prática sexual em que uma pessoa se sente excitada assistindo a outras fazerem sexo.

"Quando aparece alguma coisa nova, se der vontade, a gente vai e faz", diz Patrícia, que considera ter interagido sexualmente com outras mulheres o tipo de experiência que ela não pensava que faria antes de entrar para o meio liberal. "Para mim foi diferente por ser uma curiosidade", lembra.

Rogério também já interagiu com outros homens durante as práticas no swing, mas encara o fato como algo "normal". "Nunca tive esse problema de preconceito", afirma ele. "Vai do clima do dia. O bom do meio liberal é que tudo é permitido, nada é obrigatório, você não é recriminado pelo que faz ou deixa de fazer".

Depois do swing, o casal considera que a relação é "muito melhor". "Se hoje a gente tem vontade de alguma coisa ou um fetiche, não temos mais vergonha de dizer um ao outro", afirma Patrícia, que também passou a se sentir mais segura em relação ao seu corpo. "Antigamente eu colocava uma roupa e falava 'nossa, essa roupa tá assim, a pessoa vai ficar olhando como eu tô'. Hoje, não mais".

Ciúme sempre vai ter. Mas é um misto com ansiedade e expectativa, então, no momento, não é algo ruim.
Patrícia

Para Rogério, "não tem como negar" que ela se tornou mais segura de si. "Eu sinto prazer em ver ela sentindo prazer, isso para mim não tem explicação, é muito bom ver o rostinho dela, o que ela faz na hora. É fantástico", afirma.