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Sergio Moro estuda combater sexualização precoce; entenda o que é

Sergio Moro fala em investimento em educação baseada em princípios - Reprodução/ Flickr Ministério da Justiça e Segurança Pública
Sergio Moro fala em investimento em educação baseada em princípios Imagem: Reprodução/ Flickr Ministério da Justiça e Segurança Pública

Luiza Souto

De Universa

30/01/2022 04h00

Pré-candidato à presidência da República, o ex-juiz Sergio Moro (Podemos) escreveu recentemente em seu perfil no Twitter que sua política para crianças e adolescentes incluirá combate à sexualização precoce, além de "investimento em educação de qualidade, formação baseada em princípios e valores e combate a todo tipo de violência."

Procurada para comentar o que seria sexualização precoce e quais as ferramentas o ex-juiz pretende acionar para evitá-la, a assessoria de Moro informou que o tema ainda está em discussão. Portanto ele, que defende a manutenção da legislação atual sobre o aborto, falará sobre o assunto mais à frente.

Universa procurou então especialistas no tema para entender, afinal, o que contribui para a sexualização precoce e quais formas eficazes de combate-la.

Primeiro é preciso entender que o alemão Sigmund Freud [1856-1939], o pai da psicanálise, escreveu que a nossa construção como indivíduos passa pela sexualidade: segundo ele, as crianças sentem prazer com pulsões ligadas ao corpo como a sucção e masturbação, sem no entanto ter relação com a reprodução ou centralizadas em um objeto sexual.

É debruçada nessa teoria que a psicopedagoga e psicanalista de crianças e adolescentes Mônica Pessanha, de São Paulo, aponta que o mais correto é se falar em erotização precoce. Na sua definição, trata-se da exposição da criança a conteúdos inapropriados para sua idade. "Nesse caso, precisamos englobar tanto uma peça publicitária que exponha o corpo da criança de forma sexualizada quanto um abuso sexual consumado", ela exemplifica.

A presidente da Associação Mães & Pais pela Democracia, a socióloga e especialista em segurança pública Aline Kerber também concorda que o fácil acesso a materiais de sexo explícito como vídeos na internet facilita esse cenário negativo. Na sua opinião, isso pode ser combatido com maior monitoramento dos pais e moderação prévia da escola com aulas sobre gênero e sexualidade, além de mais políticas públicas para o enfrentamento dessas violências.

"A sexualidade precoce pode vir de abusos na infância e da falta de diálogo com os pais e escola. Meu filho de 2 anos, por exemplo, já sabe que ninguém pode tocar na sua genitália. Ensinamos que ele não precisa beijar no rosto ou abraçar quem não quer, que ele pode gostar de qualquer cor de roupa ou tipo de brinquedo e que ele, como um menino, pode e deve cuidar das coisas da casa, de si e dos outros, assim como demonstrar sentimentos. Isso é educação em gênero e sexualidade", Aline aponta.

Para ela, o tabu que existe em torno do tema, muitas vezes, acontece por causa da religião da família e, nas suas palavras, pela onda conservadora no país.

"Movimentos como o Escola Sem Partido, Homeschooling e Escolas Cívico-Militares ferem a liberdade de aprender dos nossos filhos, impedindo com que vivam a pluralidade de ideias e a diversidade", Aline opina.

"Responsáveis precisam estar nas escolas"

Pesquisadora e professora na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, Adla Betsaida Teixeira endossa o discurso de que os pais e responsáveis também precisam ir para a sala de aula, até para pensar nas respostas mais adequadas às dúvidas que a criança leva sobre o tema.

"Já vi pai dizendo que se o filho foi estuprado é porque ele é gay, porque pediu. E havia suspeita do crime de estupro mesmo. E acompanhei uma criança que se masturbou na carteira. Quando chamamos a mãe para conversar, ela bateu na filha. Mas ela fez isso por ignorância. É preciso que todos sentem para juntos pensarmos nessas questões", ensina Adla, especialista em Metodologia de Ensino, Gênero e Direitos Humanos.

Ela levanta ainda outra questão para além do conteúdo dado em sala de aula: é preciso cuidar da vestimenta que crianças e adolescentes estão usando. "Certas roupas deixam meninas ou meninos parecendo a cópia de um adulto. E muitos se comportam imitando adulto. Transformar uma criança, por exemplo, em uma dançarina do É o Tchan não é adequado. Até que ponto ela está servindo de bibelô para esses responsáveis?", questiona Adla, citando famosa banda de axé dos anos 1990.