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Quem é a médica que ancora a opinião de Bolsonaro para uso da cloroquina

A médica Nise Yamaguchi: defesa do uso da cloroquina até o quarto dia do aparecimento dos sintomas - Reprodução/YouTube
A médica Nise Yamaguchi: defesa do uso da cloroquina até o quarto dia do aparecimento dos sintomas Imagem: Reprodução/YouTube

Camila Brandalise

De Universa

07/04/2020 11h09Atualizada em 07/04/2020 18h26

Uma mulher tem sido a âncora das opiniões do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre o uso da hidroxicloroquina no combate à infecção causada pelo corononavírus. Seu nome ganhou força ontem quando, em meio às especulações sobre uma possível demissão do ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, ela foi alçada à lista de cotados para substituir Mandetta.

Aos 60 anos, a médica oncologista e imunologista Nise Yamaguchi conta com o apoio de olavistas - o que já a faz ganhar pontos com o presidente - por apostar, assim como Bolsonaro, na adoção da cloroquina já nos estágios iniciais da doença. O uso da substância é um dos pontos de conflito entre Bolsonaro e Mandetta, que se recusou ontem a editar um protocolo liberando o tratamento por falta de embasamento científico.

Ontem, Nise almoçou com o presidente da República no Palácio do Planalto e foi convidada para integrar o gabinete de crise do governo que trabalha para conter a disseminação do coronavírus no país.

Assim como Bolsonaro, Nise também é a favor do isolamento vertical.

Testes com cloroquina e projeto de replicar uso da substância em todo Brasil

Nise defende que, com base em estudos de outros países, a hidroxicloroquina pode ser usada com sucesso nos primeiros dias da infecção causada pelo novo coronavírus e que a substância poderia diminuir o risco da doença se agravar.

No almoço com Bolsonaro, explicou que o uso do fármaco, aliado ao do antibiótico azitromicina, pode conter o avanço da doença se administrado até o quarto dia do aparecimento dos sintomas. Os remédios juntos fortaleceriam as células humanas e impediriam a replicação do vírus, segundo ela.


Discussão sobre eutanásia e trabalho importante sobre Aids

A médica tem um currículo extenso, com frequentes participações em congressos e em centros de pesquisa, sendo bastante respeitada no meio científico e premiada internacionalmente por suas descobertas. Atualmente, trabalha no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, e é diretora de relações institucionais da Associação Brasileira de Mulheres Médicas do Estado de São Paulo e do Brasil.

Também dirige o Instituto Avanços da Medicina, que tem "como foco o paciente e a família, além do suporte dos amigos, como interface fundamental para o sucesso dos tratamentos, de forma personalizada e individualizada", como escreveu em seu Linkedin. "Todo o conhecimento científico deve se voltar para o bem-estar biopsicossocial do indivíduo", afirma, também na plataforma.

Formada pela USP (Universidade de São Paulo) em 1982, se especializou em imunologia e alergia. Em suas falas, ressalta a necessidade de um tratamento mais humano e individualizado em relação aos pacientes.

É uma das pesquisadoras responsáveis por importantes descobertas no tratamento da Aids, tendo se dedicado também a pacientes soropositivos com câncer.

Foi representante do Ministério da Saúde em São Paulo entre 2008 e 2011 e é cofundadora do World Cancer Alliance, com sede em Lyon, na França, cuja pesquisa é focada em melhorar o acesso ao tratamento do câncer em países de baixa e média renda. Já deu aula na faculdade de Medicina da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, seguindo sua linha de pesquisa sobre medicina personalizada no tratamento do câncer.

Em 2005, em um artigo para a Folha de S.Paulo, defendeu a "eutanásia passiva", ou, como preferia chamar, "ortotanásia". "É cuidar dos sintomas sem recorrer a medidas intervencionistas de suporte em quadros irreversíveis. [...] Quem já compartilhou essa situação com dignidade, com diminuição da dor, com paliação dos sintomas desconfortantes sabe o quão especial pode ser. Nesses momentos, a vida bem vivida valeu a pena."