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Advogada de vítimas rebate Prior: "Como elas se beneficiariam com isso?"

Felipe Prior está sendo acusado de dois estupros e uma tentativa por três mulheres - Reprodução/Globoplay
Felipe Prior está sendo acusado de dois estupros e uma tentativa por três mulheres Imagem: Reprodução/Globoplay

Camila Brandalise

De Universa

03/04/2020 22h12

Advogada das três mulheres que denunciam o ex-BBB Felipe Prior de estupro e tentativa de estupro, Maira Pinheiro, que está a frente do caso com a advogada Juliana Valente, afirmou em entrevista a Universa que, durante a investigação das acusações contra ele, membros de entidades estudantis relataram outros casos, com vítima de outras universidades, que também teriam relatado abusos por parte de Prior.

"Que dia", disse Maira, no começo da conversa por telefone na noite desta sexta-feira (3). As denúncias vieram à tona em reportagem da revista Marie Claire, publicado nesta manhã. Sobre as vítimas, afirma que estão "abaladas emocionalmente" e que a preocupação agora é protegê-las, bem como as outras 11 testemunhas ouvidas pelas advogadas.

Rebateu, ainda, as diversas críticas de que as denúncias foram divulgadas apenas agora por interesse, já que Prior, no momento, é um ex-BBB e uma pessoa conhecida. "O único limite temporal para denunciar é o estabelecido por lei, de 16 anos", explica.

"O que as pessoas acham? Que uma mulher que reporta uma violência se beneficia ao falar sobre isso? Ela vai ser vitimada para o resto da vida. Além do mais, nenhuma das vítimas se identificou, e esperamos que permaneça assim."

O começo da investigação

Maira e a colega Juliana Valente entraram no caso no final de janeiro, depois que uma mulher escreveu no Twitter que sabia da "fama" de Prior: acusado de assediar mulheres, havia sido expulso dos jogos universitários InterFAU, que reúnem estudantes de faculdades de Arquitetura e Urbanismo.

Duas das denunciantes procuraram a autora do tuíte, que colocou ambas em contato. Depois disso, elas procuraram as advogadas, e chegaram a uma terceira denúncia.

A notícia crime foi protocolada no dia 17 de março no Departamento de Inquéritos do Fórum Central Criminal, em São Paulo. Esse tipo de ação incita a abertura de uma investigação policial. Na quinta-feira (2), porém, uma juíza extinguiu a notícia crime dizendo não poder decidir sobre os casos, pois eram em cidades diferentes.

"Foi uma decisão que entendo como tecnicamente questionável, mandaram extinguir dizendo que estávamos fazendo uma investigação parela, mas na verdade foi uma investigação defensiva, seguindo o provimento da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil)", afirma Maira. Ela e Juliana entrevistaram 11 pessoas, que são também testemunhas dos casos, além das denunciantes.

"Uma das testemunhas, por exemplo, estava ao lado da barraca do denunciado no dia em que a vítima disse ter sido estuprada. Ouviu ela pedindo para parar e, no outro dia, ainda confirmou o que tinha acontecido."

Próximos passos

Maira soube pela imprensa que o Ministério Público pediu a instauração de um inquérito para investigar os casos.

"Não sei se será instaurado um único inquérito ou mais, já que os crimes foram praticados em datas e cidades diferentes. Ainda estamos aguardando para ver quais serão as providências", afirma.

Ela afirma que há passos para seguir a partir de agora, como protocolar documentos com a identidade das vítimas. Além de acompanhar o trabalho das autoridades, do Ministério Público e da polícia.

"Vai demorar bastante para chegar em um desfecho. Tem um longo caminho pela frente e a gente quer que todas as etapas sejam cumpridas dentro do processo legal."

Outro lado

Em um vídeo postado nas redes sociais na noite desta sexta-feira, Felipe Prior afirma que não tomou conhecimento do teor das acusações, diz que jamais cometeu os crimes que lhe são imputados e que jamais os cometeria.

Diz, ainda, que "repudia veementemente as levianas informações espalhadas sobre supostos fatos que teriam ocorrido há anos, mas somente agora, depois de ter adquirido visibilidade pública, são manobrados."

"Estou muito chateado", diz no vídeo. "Nunca cometi nenhuma violência sexual contra ninguém, sou inocente. O que me deixa mais chateado é que depois que entrei na casa as pessoas apresentaram uma denúncia pesada contra mim", sugerindo interesses das mulheres em acusá-lo justamente agora.

"Esse tipo de comentário sempre surge", afirma Maira. "O que as pessoas acham? Que uma mulher que reporta uma violência se beneficia ao falar sobre isso? Tem a ver com desconhecimento do que é viver uma situação dessa. A mulher que reporta um fato desse não se beneficia em nada, se se identifica, a tendência é a de ser vitimada pelo resto da vida. E as vítimas nem se identificaram. Pretendemos que fique assim."