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Manual Universa de Jornalismo e a luta contra o machismo que mata mulheres

Deborah Faleiros/UOL
Imagem: Deborah Faleiros/UOL

Dolores Orosco

Editora-chefe de Universa

25/11/2020 04h00

Tatiane Spitzner. Sandra Gomide. Yasmin Costa dos Santos. Eliza Samudio. Eloá Cristina Pimentel.

Assim como eu, e talvez como você também, essas mulheres faziam planos profissionais, trocavam confidências com a melhor amiga, tinham uma cor de esmalte preferida, familiares que amavam. Tinham sonhos. Mas jogando seus nomes na internet, os principais resultados da busca indicarão a cobertura jornalística de seus assassinatos. Toda a história dessas mulheres se resumirá ao momento brutal em que o namorado, o marido ou o ex decidiu que elas deveriam morrer.

Na redação de Universa lidamos diariamente com essas tragédias. Afinal, o Brasil é o quinto país que mais mata mulheres no mundo. Como equipe 100% feminina que somos, noticiamos esses crimes pautadas pelas condutas do bom jornalismo, mas também estarrecidas e sensibilizadas.

Entendemos que não, não são "crimes passionais" praticados por homens incapazes de controlar sentimentos. Em nossas reportagens, tratamos essas mortes como feminicídio - uma tipificação que conta como agravante em homicídios praticados por discriminação de gênero.

O feminicídio, na maioria dos casos, é o nível extremo de ciclos de violência que passam por torturas psicológicas, agressões, estupros. Em um país estruturalmente machista como o nosso, muitas mulheres têm dificuldade em reconhecer que vivem situações abusivas ou em identificar no parceiro um algoz.

Foi pensando em informá-las da maneira correta, para que não tenham suas vidas ceifadas, e para que a sociedade respeite e acolha essas vítimas que elaboramos este "Manual Universa Para Jornalistas - Boas práticas na cobertura da violência contra a mulher" - que você pode baixar aqui.

Nele, reunimos uma série de diretrizes para que nós, jornalistas do UOL, não percamos de vista durante a apuração o sofrimento de entrevistados que choram a perda de suas mães, filhas, irmãs, amigas. Para não cairmos nas armadilhas de estereótipos sexistas que transformam mulheres agredidas em rés. Para que nossas reportagens encorajem vítimas a buscar justiça e que elas não tenham que implorar pelo respeito dos "excelentíssimos" nos tribunais.

Convido à leitura deste manual todos os profissionais de imprensa e estudantes de Jornalismo. Para que nos registros da internet, histórias como as de Tatiane, Sandra, Yasmin, Eliza e Eloá sejam contadas com empatia e dignidade.