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Ex desejou "muitos anos de vida" no aniversário dela e a matou dias depois

Mesmo com medida protetiva, Guislene Avelar foi morta pelo ex três meses após sair de casa - Arquivo pessoal
Mesmo com medida protetiva, Guislene Avelar foi morta pelo ex três meses após sair de casa Imagem: Arquivo pessoal

Luiza Souto

De Universa

14/11/2019 04h00

A sapateira Guislene Avelar, 39, morou com o namorado por 13 anos, em Franca (SP). Nunca sofreu violência doméstica ou percebeu qualquer sinal de que Fabrício Fabiano Mathias, 38, pudesse machucá-la. Mas, três meses após sair de casa, no dia 21 de outubro, ela foi esfaqueada no pescoço e morta pelo ex, que não aceitou a separação. Fabrício foi encontrado morto no dia seguinte.

Na conversa com a reportagem de Universa, o irmão da vítima, o pedreiro Gilberto Ferreira, 37, chega a elogiar o ex-cunhado, com quem trabalhou por três anos. Diz, por exemplo, que Fabrício era um homem bom, tranquilo e trabalhador —ele estava atuando como pintor numa escola. Até que lembra detalhes do crime.

"Nunca pensamos que ele pudesse fazer isso. Não havia indícios. Não vem escrito na testa quem vai cometer algo assim", ele afirma.

Guislene estava hospedada na casa do irmão e nada falou sobre ter sofrido qualquer tipo de agressão. Pelo contrário. Ela até pensou em reatar o relacionamento, não fosse a ameaça que sofrera do ex, conforme conta Gilberto:

Um mês antes de tudo acontecer, o Fabrício veio aqui na porta tentar reatar o casamento e ela disse que não queria nada mais. Os dois discutiram e ele disse que mataria ela e quem estivesse com ela. Eu vi tudo. Neste dia, minha irmã correu atrás de uma medida protetiva e conseguiu em menos de uma semana. Ele tinha que manter uma distância de 100 metros dela.

Após conseguir a medida protetiva, Guislene seguiu sua vida normalmente. Dois dias antes de morrer, comemorou o aniversário. Ela passou o dia 19 de outubro com a mãe, os três irmãos, a sobrinha de seis anos e seu filho, de 21. No dia anterior, recebeu no trabalho uma cesta de café da manhã enviada pelo ex. Nela, um bilhete em que desejava "muitos anos de vida" e que ela fosse "livrada de todo mal lançado contra ela". Como era a primeira vez em 13 anos que passava o aniversário solteira, comentou que, apesar de tudo, estava sentindo falta de Fabrício.

"Ela falou que se não fosse a ameaça, teria reatado, mas ficou com medo", lembra Gilberto.

O dia do crime

Na manhã de 21 de outubro, por volta das 6h, Guislene saía com o carro do irmão para o trabalho quando foi abordada pelo ex, que estava de moto. Fabrício a teria rendido com uma faca, entrado no carro e ferido a ex no pescoço. Guislene chegou a sair do carro para pedir ajuda, enquanto ele fugia. Uma mulher que passava pelo local tentou socorrê-la, mas ela não resistiu. No dia seguinte, Fabrício foi encontrado na casa onde os dois viveram. "Ele se matou", confirma Gilberto.

O filho de Guislene agora mora com o tio. Gilberto tem ainda uma filha de quatro anos.

"Parece que virou moda matar mulher. Todo pai deveria ensinar ao filho, desde cedo, a saber perder, porque quem faz isso não sabe ouvir 'não'", diz.

É uma dor irreparável. E, se esperar a justiça agir, vou enterrar minha filha como enterrei minha irmã. Ela denunciou, conseguiu medida protetiva, fez tudo certo, mas o ex sequer foi chamado para depor. É uma tremenda covardia, falta de humanidade e amor ao próximo.