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Carla Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Quem foi Marlene Dietrich, atriz de cinema que combateu o nazismo com arte

Estrela era assumidamente bissexual e deu o primeiro beijo entre mulheres do cinema - Reprodução
Estrela era assumidamente bissexual e deu o primeiro beijo entre mulheres do cinema Imagem: Reprodução

Colunista de Universa

04/06/2021 04h00

Enquanto tem estrela da televisão brasileira que clama pelo direito delirante de "não se posicionar" politicamente, eu aproveito a proximidade com o Dia da Vitória, lembrado em 8 de maio como a data da rendição das tropas nazistas na Segunda Guerra, para compartilhar aqui a história de Marlene Dietrich, a grande estrela de Hollywood que se comprometeu a combater o autoritarismo por meio da arte.

Marlene era alemã e, desde criança, vivia envolvida com música. Depois de um acidente que a impossibilitou de seguir carreira no violino, começou a cantar e fazer shows em cabarés em Berlim. A cena cultural da cidade fervilhava e, em uma de suas apresentações, chamou a atenção de um diretor americano que procurava uma estrela para seu novo filme.

A extrema direita estava em ascensão, com o clima cada vez mais duro em Berlim. Assim, no dia da estreia de "Blue Angel", Marlene seguiu com o diretor para os Estados Unidos, onde assinou com a Paramount — que queria transformá-la na grande estrela do cinema falado. Assim aconteceu.

Já na sua estreia hollywoodiana, em 1930, no filme "Morocco", Marlene apareceu vestida em smoking e deu o primeiro beijo entre mulheres da história do cinema norte-americano. No mês da visibilidade LGBTQIA+, é importante dizer ainda que este ícone era assumidamente bissexual.

Com pouco mais de cinco anos em Hollywood, aos 38, Marlene Dietrich se tornou a mulher mais bem paga das telonas. Em 1937, durante férias europeias, foi abordada pelo próprio Hitler que queria que ela, a grande estrela do cinema americano, voltasse para sua pátria e estrelasse filmes de propaganda para o 3º Reich. Ela, que era firmemente anti-nazista, recusou e logo voltou para os Estados Unidos, emendando um pedido de cidadania.

Ela até chegou a fazer mais alguns filmes, mas logo largou o cinema novamente e passou a se dedicar ao ativismo. Marlene passou a fazer apresentações para entreter as tropas da linha de frente da guerra. Gravou uma série de álbuns anti-nazistas e entrevistas, que eram transmitidos em linhas alternativas de rádio.

Os programas faziam com que os combatentes duvidassem, cada vez mais, das ideologias fascistas e nazistas. Diziam que os programas eram devastadores para o moral alemão. Uma das canções de Marlene fazia tanto sucesso com as tropas do Eixo (Alemanha e Itália) que, mesmo quando os nazistas proibiram a execução da música, os soldados se rebelaram exigindo o direito de ouvi-la!

Mesmo sendo uma grande estrela, Marlene dormiu em tendas, enfrentou doenças e frio extremo. Fez mais de 500 apresentações para as tropas aliadas. Quando perguntavam suas motivações, ela dizia que era por decência

Ela estava comprometida com a liberdade em tudo que fazia. Combateu ideologias conservadoras, seja no front, seja vestindo calças em Paris, na França, quando mulheres não podiam.

A trajetória dela é um exemplo de como a cultura e os artistas têm um grande poder na luta contra os regimes autoritários e genocidas. E, não, isso não é uma escolha difícil.