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Carla Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Além do tênis da Rayssa: moda deve investir nas atletas, não só vesti-las

Rayssa Leal nas eliminatórias do skate nas Olimpíadas de Tóquio - LUCY NICHOLSON/REUTERS
Rayssa Leal nas eliminatórias do skate nas Olimpíadas de Tóquio Imagem: LUCY NICHOLSON/REUTERS

Colunista de Universa

30/07/2021 04h00

Nos Jogos Olímpicos com maior participação feminina de todos os tempos, o Brasil já começou batendo recordes. Rayssa Leal, uma maranhense de 13 anos, levou a prata e se tornou a medalhista olímpica mais jovem da história do país e dos últimos 85 anos de jogos — fato que rendeu à "fadinha" menção no Guinness Book.

Desde então, a danada já contabiliza mais de 6 milhões de seguidores no Instagram - um crescimento de mais de 700%) - e 3 milhões no TikTok. O impacto cultural da estreia da modalidade nas Olimpíadas e da skatista de Imperatriz do Maranhão é enorme. Prova disso é que só a Netshoes, um dos maiores e-commerces do Brasil, viu aumentar em 30% a busca por skates no site.

Ainda falando em estilo, as pesquisas por "calça cargo" e pelo modelo de tênis que Rayssa usava na competição tiveram pico de buscas no Google durante a apresentação. Já recebi até newsletter de loja online usando a vitória de maranhense para vender peças similares ao estilo da skatista, além das várias matérias na imprensa especializada. Sem falar da quantidade imensa de posts virais falando do look — eu mesma, Carla, estou exercendo o meu direito de consumidora e exigindo uma coleção assinada pela fadinha.

Entretanto, apesar dos holofotes para os uniformes oficiais, a marca responsável não se preparou para atender a demanda do poder de influência da Rayssa e do skate — uma pena. O tênis dela, por exemplo, não tem previsão de lançamento no Brasil. Além disso, vale abrir um parênteses e lembrar que a Nike rescindiu o contrato de patrocínio da Confederação Brasileira de Skate poucos meses antes do início das Olimpíadas, alegando perdas financeiras em razão do adiamento da competição.

O estilo skatista fez sucesso entre garotas desde o início dos anos 2000. Mas, por mais que a calça cargo, o tênis e as correntes bombassem entre as meninas rebeldes, tendo Avril Lavigne como grande ícone, faltou incentivo para que elas, de fato, praticassem o esporte. A Karen Jonz, tetracampeã mundial de skate, relatou a Universa que tentava se disfarçar entre os garotos no início para poder andar de skate.

Me pergunto se não é assim até hoje com o tal do "Athleisure", o novo nome bonitinho para moda esportiva feminina. Ainda vejo marcas que se apropriam da estética das roupas, porque faz com que as mulheres sintam diferença na performance, mas usam mulheres sem relação direta com a prática de esportes nas campanhas. Como contei aqui em Universa, quando escrevi sobre o reposicionamento da Victoria's Secret, que tem duas atletas no seu novo time de embaixadoras, "moda esportiva" é o segmento que mais cresce na moda tendo projeção de faturamento de 547 bilhões de dólares até 2024 segundo a Forbes. E nós, mulheres, precisamos de inspirações reais.

Torço pra que o sucesso do estilo da Rayssa e os números conquistados pelas atletas nas redes sociais por meio da visilibidade das Olímpiadas façam com que as marcas de moda reconheçam a importância de colocar dinheiro no esporte feminino

Olha a influência positiva que essas atletas cativam! É preciso ir além dos #publis individuais. Espero que invistam coletivamente nas modalidades e projetos sociais para que ainda mais medalhistas olímpicas possam surgir. É esse o tipo de influência positiva que a gente precisa.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL