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52 mil no olho da rua: o que está por trás da onda de cortes nas big techs?

Não foi apenas na Meta e Twitter: Amazon, Microsoft e outras também passam por crise - pcess609/iStock
Não foi apenas na Meta e Twitter: Amazon, Microsoft e outras também passam por crise Imagem: pcess609/iStock

Aurélio Araújo

Colaboração para Tilt, de São Paulo

09/11/2022 11h56

Uma onda de demissões nas chamadas "big techs", as grandes empresas de tecnologia dos Estados Unidos, tem dominado o noticiário nos últimos dias. Segundo levantamento do site CrunchNews, só em 2022, cerca de 52 mil funcionários do setor já perderam o emprego.

O impacto mais recente se deu no Facebook, que anunciou o maior corte da sua história: 11 mil funcionários, ou cerca de 13% da sua força de trabalho.

Na semana passada, foi o Twitter, reestruturado após a compra pelo empresário Elon Musk. A demissão em massa já era esperada, visto o tamanho das reformas prometidas por ele. Segundo informações internas obtidas pelo site Mashable, foram dipensados 3.750 pessoas, quase metade da empresa, em um único dia. Alguns dias depois, o Twitter voltou a atrás e tentou "recontratar" alguns deles.

Pandemia e inflação

Parte das demissões é explicada pela pandemia, como esclareceu o próprio Zuckerberg no anúncio dos cortes.

"No início da [pandemia de] covid-19, o mundo mudou rapidamente para o online e o aumento do comércio eletrônico levou a um crescimento desproporcional da receita", afirmou em texto publicado no blog da Meta.

"Muitas pessoas previram que isso seria uma aceleração permanente que continuaria mesmo após o fim da pandemia. Eu também, então tomei a decisão de aumentar significativamente nossos investimentos. Infelizmente, isso não aconteceu do jeito que eu esperava."

Também como consequência da pandemia, a inflação nos EUA chegou a um acumulado acima de 8% em 12 meses, a maior do país nos últimos 40 anos.

Tim Herbert, chefe de pesquisa da CompTIA, associação comercial americana da área de tecnologia da informação, afirmou ao Yahoo! Finance que há uma relação direta entre o clima macroeconômico do país e as demissões.

"O Federal Reserve [banco central dos EUA] continua com a intenção de desacelerar a economia, então algum grau correspondente de desaceleração no mercado de trabalho é inevitável", disse ele.

Twitter e Meta: enxugar para (tentar) crescer

Por serem mais midiáticas, as redes sociais tiveram mais destaque no noticiário do que outras empresas no setor.

O Twitter viveu uma conturbada disputa judicial com Musk ao longo de meses, até sua aquisição ser finalmente oficializada no final de outubro. O estilo imprevisível e brusco do bilionário foram sentidos no processo de desligamento.

"Recebemos apenas uma mensagem padrão, hoje pela manhã, dizendo que nossos acessos estavam suspensos. Sabemos o que isso significa, mas não recebemos a notícia oficialmente [...]. Tudo isso está sendo bem traumático", disse uma ex-funcionária brasileira da rede social na sexta-feira passada (4).

Segundo Musk, o Twitter estava perdendo US$ 4 milhões (R$ 20,6 milhões) por dia com sua estrutura anterior.

No caso da Meta, Zuckerberg prometeu tornar a empresa "mais enxuta e eficiente", focando mais em áreas de alta prioridade, como anúncios, inteligência artificial e o metaverso.

Segundo informações do site The Verge, a ascensão do TikTok e a mudança na política de privacidade da Apple foram quase mortais para a empresa, que ainda está buscando novos caminhos para voltar a crescer.

A briga com a Apple começou em 2021, quando o sistema operacional iOS 14.5 passou a exigir que todos os aplicativos com rastreamento de dados e atividades da pessoa dentro dele tivessem de pedir a permissão dela para isso.

Como o Facebook coletava dados e os utilizava para vender anúncios personalizados, esse foi um golpe duro na rede social, cuja receita vinha quase toda da publicidade digital.

Amazon e Microsoft: em apuros

Outras gigantes também estão passando por momentos delicados. A Amazon anunciou no início do mês que novas contratações corporativas estavam "pausadas". Antes disso, em outubro, as contratações para a área de varejo também já haviam sido congeladas.

A empresa de Jeff Bezos cresceu muito com compras online ao longo da pandemia, mas, ao que parece, também deu um passo maior que a perna. Entre as novas buscas por receita, passou a sublocar partes dos seus armazéns nos EUA. Ainda assim, analistas projetam uma Black Friday e um Natal com crescimentos modestos.

Já a Microsoft, embora não tenha o tamanho e a importância que já teve no passado, também chamou a atenção por mandar embora cerca de 1.000 empregados em outubro. Coincidência ou não, cerca de 1.000 vagas foram abertas na Microsoft da China no mesmo período.

Problemas em todo o setor

O Snap, empresa anteriormente conhecida como Snapchat, também demitiu 1.200 empregados em agosto, o equivalente a 20% da sua força de trabalho. Depois de negar uma oferta de compra por Zuckerberg em 2013, a companhia não encontrou um posicionamento lucrativo no mercado até hoje. Também se estima que o Snap tenha sofrido com a perda de publicidade pelas mudanças da Apple.

Já a Lyft, empresa de compartilhamento de carona similar ao Uber, também passou por demissões no início de novembro: 683 dispensas, cerca de 13% dos seus funcionários. Elas se somam às 60 que já haviam sido cortadas em julho.

A Qualcomm, grande fabricante de chips, não chegou a despedir funcionários ainda, mas anunciou que também congelou suas contratações devido a uma retração no mercado de smartphones.

Houve cortes ainda em empresas tecnológicas do setor imobiliário, como a OpenDoor (550 demissões), e de pagamentos online, como a Stripe (14% da sua força de trabalho, embora a empresa não tenha informado o total de pessoas).