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'Me desculpe por isso': fundador do Twitter quebra silêncio sobre demissões

Jack Dorsey, cofundador do Twitter - Mike Blake/Reuters
Jack Dorsey, cofundador do Twitter Imagem: Mike Blake/Reuters

Bruna Souza Cruz

De Tilt, em São Paulo

05/11/2022 13h20Atualizada em 08/11/2022 10h06

Jack Dorsey, um dos fundadores do Twitter e ex-CEO da rede social, quebrou o silêncio neste sábado (5) após a demissão em massa que atingiu funcionários da empresa ontem (4). Calcula-se que cerca de 3.700 pessoas tenham sido desligadas, o que representa 50% do total do quadro de colaboradores.

"As pessoas do Twitter do passado e do presente são fortes e resilientes. Elas sempre encontrarão um caminho, por mais difícil que seja o momento. Percebo que muitos estão com raiva de mim. Eu assumo a responsabilidade de por que todos estão nesta situação: eu cresci o tamanho da empresa muito rapidamente. Me desculpe por isso", publicou Dorsey em seu perfil na própria rede social.

"Sou grato e amo todos que já trabalharam no Twitter. Eu não espero que seja mútuo neste momento... ou nunca... e eu entendo", acrescentou.

O executivo não fazia publicações diretas em seu perfil desde o dia 30 de outubro. Seu último retuíte (quando alguém compartilha o conteúdo publicado por outro usuário) foi realizado em 2 de novembro.

Diante da possibilidade de compra por Elon Musk (que se prolongou por meses), Dorsey disse, em abril deste ano, que a venda para o empresário é "a única solução na qual confio".

O cofundador da plataforma foi diretor-executivo em dois momentos da empresa. De 2006, quando a rede social foi fundada, até 2008. Na época, Evan Willians, outro fundador, passou a liderar a companhia.

Em 2015 ele voltou ao cargo e permaneceu até novembro de 2021. Parag Agrawal, que atuava presidente de tecnologia da empresa (CTO), assumiu a posição na sequência. Ele foi demitido recentemente após a conclusão de compra do Twitter por Elon Musk.

Por que Elon Musk está demitindo geral

O empresário, fundador da Tesla e da SpaceX, comprou o Twitter por US$ 44 bilhões. Os argumentos para as demissões, segundo ele, envolvem a necessidade de a empresa equilibrar as conta e se tornar lucrativa — a cobrança de um valor mensal para as contas que são verificadas, inclusive, é uma das estratégias já anunciadas.

Segundo a agência de notícias Reuters, um comunicado interno teria sido enviado aos funcionários na noite de quinta-feira (3) anunciando que uma série de demissões iria começar a ocorrer a partir de sexta —alguns profissionais alegam que já na noite de quinta não conseguiram ter acesso aos logins da empresa.

O jornalista do The Washington Post Will Oremus postou o conteúdo do que parece ser o comunicado interno oficial por email. A mensagem diz que aqueles que não foram afetados pelas demissões seriam informados por meio de seus emails de trabalho e os que fossem demitidos seriam informados em seus emails pessoais.

"Aqui está a primeira comunicação oficial da nova liderança do Twitter para sua equipe, uma semana depois que Musk assumiu: um jogo divertido onde você descobre se foi demitido ou não às 9h de amanhã, com base em se o email aparece em sua conta do Twitter ou conta pessoal", comentou.

Relatos dos profissionais demitidos

Nos Estados Unidos, um grupo de ex-funcionários demitidos do Twitter já está se mobilizando para abrir processos judiciais com a alegação de que não receberam aviso prévio da rescisão do contrato, o que fere as leis trabalhistas dos EUA.

Alguns dos demitidos pertenciam ao quadro de colaboradores desde o início das operações da rede social. Foi o caso do diretor-geral na França, Damien Viel. "Todos os meus pensamentos, respeito, energia e amor a todos os tweeps ao redor do mundo hoje. Construímos juntos o aplicativo mais incrível do planeta. Vamos nos orgulhar de tudo que fizemos e como fizemos #lovewhereyouwork", declarou.

"Tweep" é o modo como os funcionários se chamam dentro da companhia.

"Rolar (a tag) #LoveWhereYouWork é de partir o coração. Esta empresa foi feita dos seres humanos mais talentosos, orientados para a missão e atenciosos. Essas pessoas fizeram dele um lugar tão especial", postou a diretora de comunicação externa e relações públicas, Audrey Herblin.

Parte dos funcionários demitidos faziam parte de equipes ligadas às atividades de moderação de conteúdo, ética, transparência, responsabilidade e inteligência artificial. Esse trabalho é fundamental quando se pretende construir uma plataforma capaz de identificar, filtrar e bloquear posts em texto e imagem que contenham discurso de ódio, por exemplo.

"Sim, a equipe se foi. A equipe que estava pesquisando e pressionando por transparência algorítmica e escolha algorítmica. A equipe que estava estudando amplificação algorítmica. A equipe que estava inventando e construindo ferramentas e metodologias de IA éticas. Tudo isso se foi", lamentou a engenheira de software Joan Deitchman.

Frustrada, a profissional já alterou a bio de sua conta no Twitter, como ex-gerente de engenharia sênior da empresa. "Provavelmente minha última mensagem no Slack no Twitter. A equipe de Ética, Transparência e Responsabilidade do ML foi única. Eternamente grata que @ruchowdh deu uma chance a mim e eu pude ser uma pequena parte disso", declarou.

"Estou oficialmente fora. Foi o maior prazer fazer parte da família de pesquisa de ML Responsável no Twitter no último ano e meio - mais anúncios estão por vir", afirmou a analista de experiência do usuário (UX) Irene Font Peradejordi.

Além das hashtags, a maioria das postagens sobre os desligamentos contém o emoji "cara de saudação", representando um gesto de continência, mas que representa respeito e apreço aos amigos, sejam superiores ou subordinados.

"Essa tela cinza poderia ter sido um encontro? #LoveWhereYouWorked #OneTeam #TwitterBlue", disse Karen Zapata.

"Estou chorando. Não porque eu perdi meu emprego. Mas por causa do amor e apoio entre todos os Tweeps agora! Realmente me sinto tão sortudo por ter tido a chance de experimentar algo tão magnífico e especial. #LoveWhereYouWorked", declarou o ex-diretor de arte do Twitter, Anton Schulz. Logo em seguida, em outro tweet, ele contou que estava chorando muito.

O brasileiro Edson Caldas, que também era funcionário do Twitter, lamentou sua saída.

"Trabalhar no Twitter mudou completamente minha vida. Por mais de 4,5 anos, trabalhei com o grupo mais talentoso de pessoas (em vários países). E sempre terei orgulho do impacto que tivemos na plataforma. Se você precisa de profissionais altamente qualificados, basta #HireATweep !", disse Edson.

*Com texto de Rosália Vasconcelos, em colaboração para Tilt