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Raiva, choro e ataques a Musk: o que os demitidos do Twitter estão postando

Sede do Twitter em San Francisco, Califórnia (EUA) - Getty Images
Sede do Twitter em San Francisco, Califórnia (EUA) Imagem: Getty Images

Rosália Vasconcelos

Colaboração para Tilt, do Recife

04/11/2022 15h48

Demissões em massa no Twitter: desde o início da manhã desta sexta-feira (4), dezenas de funcionários passaram a subir, na própria plataforma, as hashtags #LoveWhereYouWorked e #OneTeam, informando que foram desligados da empresa.

Há relatos de cortes em escritórios nos Estados Unidos, na França e no Brasil, mas a análise é de que a redução ocorrerá em diversos países.

Alguns dos demitidos pertenciam ao quadro de colaboradores desde o início das operações da rede social. Foi o caso do diretor geral na França, Damien Viel. "Todos os meus pensamentos, respeito, energia e amor a todos os tweeps ao redor do mundo hoje. Construímos juntos o aplicativo mais incrível do planeta. Vamos nos orgulhar de tudo que fizemos e como fizemos #lovewhereyouwork", declarou o executivo. "Tweep" é o modo como os funcionários se chamam dentro da companhia.

"Rolar (a tag) #LoveWhereYouWork é de partir o coração. Esta empresa foi feita dos seres humanos mais talentosos, orientados para a missão e atenciosos. Essas pessoas fizeram dele um lugar tão especial", postou a diretora de comunicação externa e relações públicas, Audrey Herblin.

Muitos dos funcionários demitidos faziam parte de equipes ligadas às atividades de moderação de conteúdo, ética, transparência, responsabilidade e inteligência artificial. Esse trabalho é fundamental quando se pretende construir uma plataforma capaz de identificar, filtrar e bloquear posts em texto e imagem que contenham discurso de ódio, por exemplo.

"Sim, a equipe se foi. A equipe que estava pesquisando e pressionando por transparência algorítmica e escolha algorítmica. A equipe que estava estudando amplificação algorítmica. A equipe que estava inventando e construindo ferramentas e metodologias de IA éticas. Tudo isso se foi", lamentou a engenheira de software, Joan Deitchman.

Frustrada, a profissional já alterou a bio de sua conta no Twitter, como ex-gerente de engenharia sênior da empresa. "Provavelmente minha última mensagem no Slack no Twitter. A equipe de Ética, Transparência e Responsabilidade do ML foi única. Eternamente grata que @ruchowdh deu uma chance a mim e eu pude ser uma pequena parte disso", declarou.

"Estou oficialmente fora. Foi o maior prazer fazer parte da família de pesquisa de ML Responsável no Twitter no último ano e meio - mais anúncios estão por vir", afirmou a analista de experiência do usuário (UX) Irene Font Peradejordi.

Além das hashtags, a maioria das postagens sobre os desligamentos contém o emoji "cara de saudação", representando um gesto de continência, mas que representa respeito e apreço aos amigos, sejam superiores ou subordinados.

"Essa tela cinza poderia ter sido um encontro? #LoveWhereYouWorked #OneTeam #TwitterBlue", disse Karen Zapata.

"Estou chorando. Não porque eu perdi meu emprego. Mas por causa do amor e apoio entre todos os Tweeps agora! Realmente me sinto tão sortudo por ter tido a chance de experimentar algo tão magnífico e especial. #LoveWhereYouWorked", declarou o ex-diretor de arte do Twitter, Anton Schulz. Logo em seguida, em outro tweet, ele contou que estava chorando muito.

O brasileiro Edson Caldas, que também era funcionário do Twitter, lamentou sua saída.

"Trabalhar no Twitter mudou completamente minha vida. Por mais de 4,5 anos, trabalhei com o grupo mais talentoso de pessoas (em vários países). E sempre terei orgulho do impacto que tivemos na plataforma. Se você precisa de profissionais altamente qualificados, basta #HireATweep !", disse Edson.

Um jornalista americano Andy Ngo publicou em sua conta da plataforma uma suposta mensagem de despedida de um engenheiro de software da empresa, Enrique Rueda. Após o post, o ex-funcionário aparentemente excluiu sua conta.

"A aquisição do Twitter por Elon não é pela liberdade de expressão. É literalmente uma tentativa de criar uma caixa de ressonância para ele e seus amigos, cujas visões e retórica conservadoras não foram toleradas em nenhum outro lugar. Veja sua resposta ao AOC, sua abordagem de comunicação com os funcionários, os sentimentos que ele expressa em sua página, sua abordagem para "melhorar o aplicativo". O Twitter está prestes a perder toda a sua moderação de conteúdo, suporte de infraestrutura e metade de sua força de trabalho. Se você mantiver ou excluir o aplicativo, apenas entenda como usuário, como consumidor, para onde estão indo seus dados, seu dinheiro e sua energia quando você participa da praça global do Elon", disse a mensagem do Rueda.

Sem aviso prévio

O Twitter foi oficialmente comprado pelo magnata Elon Musk - considerado pela Forbes o homem mais rico do mundo - no fim da semana passada, pelo valor de US$ 44 bilhões. Logo nas primeiras horas após o anúncio da aquisição, Musk demitiu os principais executivos da empresa.

Logo depois, não houve maiores informações se haveria demissão em massa, apenas rumores.

Segundo a Reuters, só ontem um comunicado interno teria sido enviado aos funcionários anunciando que uma série de demissões iriam começar a ocorrer a partir de hoje. No entanto, alguns funcionários alegaram que já na noite de ontem não conseguiram ter acesso aos logins da empresa.

"Começaremos o difícil processo de reduzir nosso quadro global nesta sexta-feira", anunciou o Twitter a seus funcionários nesta quinta-feira (3)", dizia o comunicado. A agência de notícias France-Press afirmou que teve acesso ao conteúdo do email.

A mensagem ainda dizia que todos os funcionários receberiam notícias nesta sexta pela manhã, quando os emails fossem abertos, mas não especificava quantos seriam afetados. A imprensa internacional divulgou que a especulação é de que a metade do quadro do Twitter em todo o mundo seja desligado.

O jornalista do The Washington Post Will Oremus postou o conteúdo do que parece ser o comunicado interno oficial por email. A mensagem diz que aqueles que não foram afetados pelas demissões seriam informados por meio de seus e-mails de trabalho, mas os que fossem demitidos seriam informados em seus e-mails pessoais.

"Aqui está a primeira comunicação oficial da nova liderança do Twitter para sua equipe, uma semana depois que Musk assumiu: um jogo divertido onde você descobre se foi demitido ou não às 9h de amanhã, com base em se o e-mail aparece em sua conta do Twitter ou conta pessoal", comentou.

Ainda de acordo com a imprensa internacional, o clima entre os funcionários que não foram demitidos até o momento é de tensão.

Nos Estados Unidos, um grupo de ex-funcionários recém desligados estaria mobilizando uma ação contra a empresa, sob a alegação de que não teriam recebido aviso prévio da rescisão do contrato, o que fere as leis trabalhistas dos EUA.

Em algumas de suas muitas declarações, Elon Musk afirmou que pretendia transformar o Twitter numa empresa lucrativa. E apontou algumas ações que ele consideraria necessárias, como os desligamentos em massa e também a cobrança de um valor mensal para as contas que fossem verificadas.