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'Está sendo bem traumático', diz brasileira sobre demissões no Twitter

Marcella Duarte

De Tilt, em São Paulo

04/11/2022 14h35Atualizada em 04/11/2022 15h04

O Twitter iniciou nesta sexta-feira (4) uma onda global de demissões e fechou temporariamente seus escritórios. A mudança, que também afeta a sede da companhia no Brasil, ocorre dias depois que o empresário Elon Musk (dono da Tesla e SpaceX) formalizou a compra da empresa por um valor aproximado de US$ 44 bilhões.

"Recebemos apenas uma mensagem padrão, hoje pela manhã, dizendo que nossos acessos estavam suspensos. Sabemos o que isso significa, mas não recebemos a notícia oficialmente [...]. Tudo isso está sendo bem traumático", relatou a Tilt uma funcionária brasileira do Twitter. Ela pediu para não ser identificada na matéria.

"Todo mundo que eu conhecia foi demitido", afirmou a profissional, que soube que sua equipe foi extinta, mas até agora não tem certeza se ela mesma foi desligada da companhia. "Eu não ficaria surpresa se o escritório do Twitter no Brasil fosse fechado", completou. No momento, a funcionária e outros colegas seguem em um limbo de informações.

A equipe brasileira da rede social tem em torno de 150 pessoas — em home office, a maioria delas não conseguiu logar em seus computadores e emails corporativos para trabalhar nesta manhã. Estima-se que — por enquanto — apenas cerca de 30 brasileiros não foram demitidos.

Tilt tomou conhecimento de que alguns profissionais brasileiros que trabalham para o Twitter em outros países — como Inglaterra — também foram desligados da companhia hoje.

Uma das áreas afetadas parece ser a de curadoria de conteúdo da plataforma, cujo papel, por exemplo, é selecionar e organizar publicações e transmissões ao vivo para para destacá-las nos Moments (assuntos do momento).

Fora do Brasil, também é possível ver relatos — no próprio Twitter — de engenheiros demitidos. Procurado por Tilt, o Twitter não se posicionou até o momento.

Funcionários no escuro desde que Musk assumiu

De acordo com a entrevistada, desde que assumiu, Musk não fez nenhum contato direto com os funcionários no escritório brasileiro. "Tudo que sabíamos vinha da imprensa. O mais perto de um contato foi ele entrando com uma pia no escritório dos Estados Unidos."

A brasileira faz referência a um vídeo publicado pelo bilionário em que ele aparece segurando uma pia com a legenda "let that sink in" — uma expressão popular que quer dizer algo como "hora de cair a ficha"; a palavra "sink" significa pia.

Nas gestões passadas dos antigos diretores-executivos, Jack Dorsey e Parag Agrawal (demitido recentemente por Musk), era diferente. "[Eles] Eram líderes muito abertos. Conseguíamos até falar com eles por email ou slack", lembra a brasileira.

Por que o Twitter decidiu demitir geral?

Elon Musk já havia sinalizado que demissões iriam acontecer diante da compra. Calcula-se que cerca de 3,7 mil profissionais sejam desligados. Esse número representa metade dos trabalhadores da empresa — apelidados de "tweeps".

O argumento é de redução de custos e imposição de uma nova ética de trabalho, segundo informações da agência de notícias Reuters, que teve acesso aos planos internos do Twitter.

A equipe de moderação de conteúdos possivelmente é mais um dos alvos nessa estratégia de cortar funcionários. O bilionário é um defensor do que ele chama de "liberdade de expressão" a qualquer custo.

"Times inteiros, inclusive o que eu fazia parte, estão sendo abolidos. Não apenas no Brasil, mas no mundo todo", ressalta a brasileira.

A notícia dos desligamentos começou a ganhar forma por volta das 21h (horário de Brasília) de ontem (3). Em email enviado aos funcionários, o Twitter informou que reduziria sua força de trabalho global durante o dia de hoje (4).

Os colaboradores que continuam contratados receberiam simplesmente uma mensagem sobre novas atribuições em suas contas corporativas. Os demais seriam informados da demissão em seus emails pessoais. Essa medida polêmica gerou grande expectativa e ansiedade.

Durante a madrugada, diversos acessos foram abruptamente revogados — computadores, emails e crachás, segundo relatos de profissionais demitidos e da imprensa estrangeira. A própria empresa informou que os escritórios estariam fechados nesta sexta-feira.

Por meio do próprio Twitter, muitos ex-funcionários estão compartilhando suas frustrações, agradecimentos as equipes e desabafando sobre suas demissões por meio das hashtags: #OneTeam (um único time) e #LoveWhereYouWorked (ame onde você trabalhou).

Veja alguns dos brasileiros: