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Pedro e Paulo Markun

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Estas obras de arte sumiram, mas você ainda pode vê-las - no metaverso

"Flores de Papoula", quadro de Van Gogh roubado, incluído no app de realidade virtual The Stolen Art Gallery - Reprodução/Compasso UOL
"Flores de Papoula", quadro de Van Gogh roubado, incluído no app de realidade virtual The Stolen Art Gallery Imagem: Reprodução/Compasso UOL

Pedro e Paulo Markun

Colunistas do UOL

19/07/2022 04h00

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Fomos conhecer um museu de arte diferente. Poucas obras, todas muito famosas e com um traço em comum: estão desaparecidas. O The Stolen Art Gallery, iniciativa da Compass, uma empresa do grupo UOL que hospeda esta coluna, explicita bem uma das características do metaverso: levar a gente a espaços normalmente inalcançáveis, como uma estação orbital, o topo de uma montanha e, por que não, um museu de arte roubada.

O museu tem vídeo no Youtube e pode ser "visitado" por qualquer pessoa, usando um aplicativo para celular. Mas é o Oculus Quest que oferece a melhor experiência. (O download para IOS, Android e Oculus pode ser feito no site da Compass.)

Pedro e Paulo Markun no The Stolen Art Gallery, experiência imersiva no metaverso - Reprodução - Reprodução
Pedro e Paulo Markun no The Stolen Art Gallery, experiência imersiva no metaverso
Imagem: Reprodução

É um espaço sombrio, e as cinco telas (de Van Gogh, Rembrandt, Cézanne, Caravaggio e Manet) estão dispostas num círculo. Uma luz zenital dá mais dramaticidade ao cenário. O som ambiente incorpora barulhos de uma carruagem, um vozerio de rua, música sacra. Ao se aproximar da obra, surgem três botões: informações, lupa e o que dá acesso ao avatar do pintor.

Esses avatares têm alguma semelhança com os artistas. Mexem os olhos e a boca, mas não têm braços nem pernas. São como estátuas falantes —e a locução é da mesma voz. Se fossem várias vozes, seria melhor.

Os textos são na terceira pessoa: o avatar de Van Gogh ou Cézanne fala sobre o autor e a obra roubada, mas como se fosse um locutor. As informações sobre o artista, o quadro e os roubos são interessantes.

Outra vantagem do metaverso: a gente pode olhar bem de perto uma obra que custaria milhões de dólares, sem nenhum segurança reclamar. É só usar o recurso da lupa. Os detalhes dos quadros vão acompanhando as informações do narrador. Talvez pudesse haver notícias de jornais da época, já que os roubos foram muito divulgados.

Você já foi em museus e viu estudantes de artes, aspirantes a artistas ou mesmos curiosos tentando redesenhar uma pintura inspiradora? Aqui dá para fazer isso também. Outros recursos no aplicativo permitem interagir com amigos numa mesma visita, discutir suas impressões e compartilhar notas e informações.

Segundo os desenvolvedores, uma equipe de artistas, designers e arquitetos levou três meses para criar a "galeria de arte roubada". As obras expostas são:

  • Natividade com São Francisco e São Lourenço, de Caravaggio
    Natividade com São Francisco e São Lourenço - Caravaggio - Wikimedia Commons - Wikimedia Commons
    Imagem: Wikimedia Commons

    Roubada de um oratório na Sicília, Itália, em uma noite de tempestade em 1969.
  • Tempestade no Mar da Galileia, de Rembrandt
    Tempestade no Mar da Galileia - Rembrandt - Domínio público/ www.gardnermuseum.org - Domínio público/ www.gardnermuseum.org
    Imagem: Domínio público/ www.gardnermuseum.org

    Única paisagem marítima de Rembrandt, foi levada do Gardner Museum em Boston em 1990, no maior roubo de arte da história moderna.
  • Paysage d'Auvers-sur-Oise, de Cézanne
    Paysage d'Auvers-sur-Oise - Cézanne - Domínio público - Domínio público
    Imagem: Domínio público

    Avaliado em 2 milhões de libras (pouco menos de R$ 6 milhões), o quadro desapareceu justo na virada do milênio, do museu Ashmolean, da Universidade de Oxford.
  • Chez Tortoni, de Manet
    Chez Tortoni - Manet - Domínio público/ www.gardnermuseum.org - Domínio público/ www.gardnermuseum.org
    Imagem: Domínio público/ www.gardnermuseum.org

    A pintura estava pendurada no Museu Isabella Stewart Gardner de Boston, Massachusetts, EUA, até 18 de março de 1990. Nunca foi encontrada.
  • Flores de Papoula (também conhecido como Vaso e Flores ), de Vincent Van Gogh
    O quadro "Flores de Papoula", de Van Gogh - AFP / Cortesia Ministério Egípcio da Cultura - AFP / Cortesia Ministério Egípcio da Cultura
    Imagem: AFP / Cortesia Ministério Egípcio da Cultura

    Roubado do Museu Mohamed Mahmoud Khalil no Cairo em agosto de 2010.

Roubo de obras de arte é coisa antiga e intrigante. Os colunistas têm dificuldade de entender, à primeira vista, qual o sentido de roubar algo tão único que qualquer tentativa de venda ou exibição pode resultar na descoberta dos ladrões e na recuperação da peça.

A Mona Lisa de Leonardo da Vinci era pouco conhecida antes de 1911, quando Vincenzo Peruggia se escondeu num armário do Museu do Louvre com dois outros italianos e passou a noite ali, saindo na manhã seguinte com a Mona Lisa. Foram para Paris de trem e esconderam o quadro no assoalho do apartamento.

Mas em dois anos, não conseguiram achar um comprador. Ao oferecerem a pintura para um negociante de Florença, o sujeito ligou para o diretor de um museu italiano que pegou a obra e chamou a polícia. Happy end, como nos melhores filmes.