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Pedro e Paulo Markun

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Como lidar com o ChatGPT? Usuários de gerações diferentes dão suas dicas

Pretende usar o ChatGPT? Veja dez conselhos de quem já realizou muitos testes com a inteligência artificial - Gerd Altmann/ Pixabay
Pretende usar o ChatGPT? Veja dez conselhos de quem já realizou muitos testes com a inteligência artificial Imagem: Gerd Altmann/ Pixabay

Pedro e Paulo Markun

Colunistas do UOL

27/02/2023 04h00

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Como se fosse um tsunami noticioso, a inteligência artificial e seu mais recente sucesso, o ChatGPT, tem provocado reações diversas pelo mundo afora. Passou na primeira fase do exame da Ordem dos Advogados do Brasil, disse a um colunista do New York Times que quer ser humano e acabou se declarando apaixonado pelo seu interlocutor, e por aí vai.

Diante dessas e de outras, os colunistas arriscam seus palpites e apresentam dez "conselhos" para quem ainda não se aventurou nessa nova estrada —mais de cem milhões de pessoas já tinham feito isso até o final de janeiro.

Como representantes de duas gerações —a de Paulo (analógica) e a de Pedro (quase nativo digital, já que nasceu em 1986, junto com a internet, fruto da fusão das redes NSFnet e ARPAnet) —, os conselhos nem sempre são os mesmos.

Comecemos pelos de Paulo Markun.

1. Arrisque-se

O ChatGPT é surpreendente e fácil de usar, mas, no fim das contas, não passa de um completador de frases.

Por enquanto, pode ser experimentado gratuitamente, embora o lançamento recente da versão paga no Brasil tenha transformado os testes não pagos numa espécie de gincana. Às vezes funciona, outras, avisa que está atolado de serviço.

Embora pareça humano, onisciente, todo-poderoso, não faz nada se não for devidamente estimulado. Portanto, não tenha medo e arrisque uma questão ou demanda.

2. Não crie expectativas com temas de atualidade

Lembre que o GPT3 e o ChatGPT não estão conectados com a internet e, por isso, não navegam bem em temas da atualidade.

Confessa que não sabe responder quem é o presidente do Brasil (há alguns dias, seguia informando que era Jair Bolsonaro). Já sobre a Rússia, responde que é Vladimir Putin, eleito em março de 2018, para um mandato de seis anos.

Portanto, não se deve esperar dele o melhor desempenho em questões da atualidade.

Esse "defeito" pretende diminuir a chance de usar o mecanismo para produzir fake news. Mas nada impede que os abelhudos tentem esse caminho imbecil e perigoso.

3. Tente novos usos

Experimente novos usos, territórios que você não domina, jogue em todas as posições.

Paulo está se iniciando na linguagem de programação Python, tentando criar um programa a ser usado na pesquisa histórica para seu novo livro.

Com Pedro e outros aventureiros, esboçou um bestiário do século XXI, em que personagens fantásticos e suas imagens foram desenvolvidos pelo GPT3 e pelo Dall-E e aperfeiçoados com o uso do ChatGPT.

4. Seja desconfiado

Desconfie (sempre) dos resultados. Nesses primórdios dessa tecnologia, errar é mais que humano. Tanto que diante da pergunta "quem é Paulo Markun", a resposta do chatGPT foi esta:

"Paulo Markun é um jornalista, escritor e produtor cultural brasileiro. Ele nasceu em São Paulo, em 1947, e é formado em jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Ao longo de sua carreira, Paulo Markun trabalhou em diversos veículos de comunicação, incluindo as revistas Veja, IstoÉ e Senhor, o jornal Folha de S.Paulo e a TV Cultura. Ele também foi diretor da Fundação Padre Anchieta, responsável pela administração da TV Cultura e das rádios Cultura FM e Cultura Brasil. Além de sua carreira na mídia, Paulo Markun é autor de diversos livros, entre os quais se destacam "Getúlio", uma biografia do ex-presidente Getúlio Vargas, e "Fim do Silêncio", que aborda temas como direitos humanos, democracia e cidadania. Ele também é um dos fundadores do Instituto Vladimir Herzog, que tem como objetivo promover a defesa da democracia, dos direitos humanos e da liberdade de expressão no Brasil".

Para registro:

  • Paulo nasceu em 1952
  • Getúlio foi escrito por Lira Neto
  • E "O Fim do Silêncio" é uma obra coletiva que aborda a presença negra na Amazônia.

O resto, como diria Tim Maia, o resto vale.

5. Fique de olho em todos os chatbots

Procure acompanhar a rapidíssima evolução dos chatbots, não apenas o da Open Ai, mas os seus concorrentes.

Há muita grana envolvida nisso e se até agora eles não impactaram sua área de conhecimento ou trabalho, espere mais um pouco —e verá.

Por isso, vale reproduzir um trechinho do editorial do inglês The Guardian:

"Os seres humanos têm um longo histórico de pensamentos positivos e subestimam os riscos de novos avanços. Interesses comerciais impulsionam a tecnologia como uma nova religião, cujo artigo de fé central é que mais tecnologia é sempre melhor. Gigantes da web querem deslumbrar os usuários a superestimar a utilidade de suas ferramentas de IA encorajando a humanidade a ceder prematuramente autoridade a eles muito além de sua competência. A atitude empreendedora e a curiosidade científica produziram muitos dos avanços da era moderna. Mas o progresso não é um princípio ético. O perigo não está em máquinas sendo tratadas como humanos, mas em humanos sendo tratados como máquinas."

Agora, Pedro Markun. Sem pé no freio…

1. Se deslumbre!

Eu sei que você esta cético. Ou, talvez, ressabiado.

Como assim uma inteligência artificial vai transformar... tudo. Que petulância.

Tudo é muita coisa. E já está aí faz um boooom tempo....

O primeiro conselho que dou é você suspender um pouco o ceticismo para se deixar impressionar e maravilhar com essa criação essencialmente humana.

Fomos nós, nossos cientistas e nosso legado —milhões de textos escritos e produzidos ao longo do tempo pela humanidade— que deram vida ao ChatGPT.

Se surpreenda, ache estranho e um tanto assustador; pergunte coisas e faça pedidos inusitados —sem querer provar que "ele" é burro, esta "errado" ou que você é mais inteligente que a máquina.

Não se preocupe, você é.

2. Mas não se deslumbre

Conseguiu suspender um pouco a crítica àquilo que é novo e diferente? Ótimo. Mas não se deslumbre. O ChatGPT não é uma inteligência artificial. Ele não "pensa" nem "entende" da mesma maneira que a gente normalmente compreende o significado dessas palavras.

Ele é um modelo de linguagem capaz de prever a probabilidade de uma palavra vir depois da outra.

Exemplo:

"Era uma vez chapeuzinho _ _ _ _ _ _ _ _ "

Esse chapeuzinho muito provavelmente vai ser vermelho.

Em geral, ele é.

Mas tem também uma pequena probabilidade dele ser amarelo, pergunte ao Chico Buarque.

Essa matemática profunda tem várias limitações.

O ChatGPT é muito bom com os clichês, os padrões, o óbvio.

E também é bom de enrolar —de inventar coisas, quando não sabe o que dizer, mas fazer parecer que está sabendo.

A autoconfiança de um robô treinado extensivamente no lero-lero humano.

Então, o segundo conselho é: não se deslumbre e lembre-se sempre que, apesar de "parecer" que você está conversando com alguém, no fim do dia são apenas palavras prováveis. Não existe compreensão do que está sendo dito.

3. IAs devem melhorar a nossa vida

Experimente usar o ChatGPT para te ajudar. Seja no seu trabalho, na universidade, nos afazeres domésticos.

Precisa organizar as notas de uma reunião? Peça ao ChatGPT para te ajudar.

Quer escrever um e-mail formal para o síndico? O ChatGPT vai ser educado e objetivo.

Brigou com seu melhor amigo? O ChatGPT é uma escuta atenta e vai te dar conselhos óbvios —que nem por isso são menos relevantes.

As IAs estão aqui para ficar. Esse é só o começo.

Elas vão sacudir muitas coisas e, na opinião deste colunista, só vale a pena se a gente conseguir tirar algum benefício disso tudo.

Então tente encontrar usos que melhorem sua qualidade de vida, mesmo que um pouquinho.

4. IAs não podem se tornar a nossa vida

Já dizia o Ben Parker, tio do Homem-Aranha: "grandes poderes, grandes responsabilidades"

O ChatGPT pode te ajudar a escrever um documento no trabalho.

Ele também pode, muito convincentemente, escrever o documento inteiro.

É tentador copiar e colar.

Deixar o ChatGPT interagir com as partes chatas e trabalhosas e focar naquilo que só você pode fazer: tirar um cochilo, assistir uma série, sessão de Yoga

Tem aí dois perigos:

  • Um é que, como já disse aqui, no fim do dia essa não é uma inteligência que compreende aquilo que esta escrevendo. Tem boas chances do que está escrito ser sensato, estruturado e medíocre. Mas eventualmente pode ter ali erros, confusões e desinformações que podem causar dano real. Você, usuário, ainda é o piloto desse robô gigante.
  • O outro é que, assim como já é mais que sabido e pacificado que exercício físico faz bem e o sedentarismo traz várias consequências negativas para a saúde e a vida, o mesmo vale para o exercício mental.

Eu poderia facilmente pedir ao ChatGPT cinco conselhos para dar a vocês.

Mas me forçar a pensar no que eu —que venho experimentando essa tecnologia já faz algum tempo— acho importante compartilhar é uma forma de manter minhas ideias fluindo e minha mente sã.

5. Leia o livro

David Chapman, PhD em Inteligência Artificial pelo MIT, escreveu o livro que —até o momento— mais me impactou sobre inteligência artificial.

Chama-se "Melhor sem IA" e ainda não tem tradução em português. (Mas você pode pedir ao Google ou ao ChatGPT para traduzi-lo, se não dominar o idioma.)

Nele, ele pinta um quadro tenebroso sobre como o apocalipse a partir do avanço das inteligências artificiais já está em curso.

Faz isso de maneira clara e concisa e termina com um chamado para que todos nós possamos trabalhar para minimizar os riscos e os danos que essas novas tecnologias podem trazer para a sociedade.

Acho que é uma leitura essencial, feita não a partir de um lugar de negação da tecnologia, mas da compreensão de que o mundo vai seguir mudando e é nossa responsabilidade, como agentes da mudança, trabalhar para isso ser algo mais positivo que negativo.

Vá em frente, de olho no acostamento.