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Pedro e Paulo Markun

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

É deepfake da Margot Robbie? Na dúvida, dicas podem te ajudar a descobrir

Só a Margot Robbie do centro é real; as duas da ponta são deepfakes que estão em vídeo em um perfil do TikTok - Montagem com reprodução/ TikTok/unreal_margot e Getty Images
Só a Margot Robbie do centro é real; as duas da ponta são deepfakes que estão em vídeo em um perfil do TikTok Imagem: Montagem com reprodução/ TikTok/unreal_margot e Getty Images

Pedro e Paulo Markun

Colunistas do UOL

02/07/2022 04h00

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Está no TikTok: num vestido azul justo tomara que caia, Margot Robbie caminha num corredor de apartamento em direção à câmera levando duas taças e uma garrafa de espumante, balança a cabeça ao ritmo da música e segue adiante. A cena foi vista mais de 17 milhões de vezes. Nada surpreendente para uma das atrizes mais bem pagas do mundo e que a revista Time colocou na lista das cem pessoas mais influentes do mundo em 2017.

Mas tem um detalhe importante, pelo menos para estes colunistas: a conta do TikTok chama-se "Unreal Margot" —uma confissão discreta de que todas as postagens são falsas.

Não foi a única manifestação pop do fenômeno dos "deepfakes": recriações digitais em vídeo capazes de aplicar o rosto de uma pessoa sobre outra. Recentemente, o pré-candidato Ciro Gomes colocou o rosto do presidente Jair Bolsonaro numa cena do filme "Esqueceram de Mim".

Há aparições menos ingênuas de Margot Robbie. Versões fake estão presentes em vários sites pornôs. O Mr Deepfakes traz a moça estrelando meia dúzia de vídeos, todos precedidos de uma advertência de que são totalmente falsos.

Para os colunistas, esse material pareceu mais tosco que o do TikTok (afinal, considerando o objetivo final da obra, talvez isso seja secundário).

Tom Cruise atrapalhado

Deepfakes envolvendo celebridades não são uma novidade. No ano passado, Tom Cruise tropeçou numa sala, antes de conversar animadamente para a câmera. Tudo cascata, claro.

Mais recentemente, circulou outro, envolvendo Elon Musk, que aparece promovendo uma criptomoeda irregular. Não é preciso prestar muita atenção para desconfiar do comercial... Aquela história de que, quando a esmola é demais, até santo desconfia.

O Brasil já tem gente experimentando as possibilidades da tecnologia.

Bruno Sartori, jornalista e ex-estudante de Direito que tem canal no Youtube com mais de 300 mil inscritos:

  • Construiu uma voz semelhante à da ex-presidente Dilma Rousseff;
  • Colocou o ex-juiz Sergio Moro declamando poema de duplo sentido sobre flores e o cume ou respondendo às perguntas embaraçosas de um garoto;
  • Recriou o comercial em que Fernanda Montenegro contracena com um bebê para promover um banco;
  • Colocou Lula encarnando Pablo Vittar;
  • Fez Bolsonaro como Chaves informando que não há vacinas.

A UE está de olho

Na guerra da Ucrânia, as deepfakes tem sido usadas com frequência. Não é à toa que a União Europeia já prepara uma atualização do código de práticas sobre desinformação que se aplica ao setor de tecnologia.

Um dos objetivos é garantir base legal para multar as empresas, caso não se envolvam diretamente no combate às contas falsas ou a conteúdos forjados.

Por enquanto, o código de conduta tem sido aplicado num regime de voluntariado, mas a UE concluiu que é preciso ter um esquema de corregulação válido nos 27 Estados-membros.

Nos Países Baixos, que muitos ainda conhecem como Holanda, a própria polícia postou um vídeo que mostra um rapaz chamado Sedar Soares andando num campo de futebol e contando sua história.

Sedar tinha 13 anos, em 2003, quando estava numa estação de metrô em Roterdã, brincando de jogar bolas de neve e foi assassinado. No vídeo fake de agora, sua versão recriada pede que as pessoas não deixem o crime impune. Após sua publicação, vista por mais de 130 mil pessoas, a polícia recebeu várias novas pistas do assassino —até agora não localizado.

Como identificar um deepfake

Como parte de uma pesquisa acadêmica, o MIT criou um site em que os visitantes são convidados a julgar se o que veem é real ou fake.

Também ajudou a unir acadêmicos e empresas de tecnologia, como Meta e Microsoft, na tentativa de construir um algoritmo que identifique deepfakes. O Deepfake Detection Challenge oferece um milhão de dólares aos pesquisadores que conseguirem esse feito.

A partir de 100 mil vídeos deepfakes e 19.154 vídeos reais hospedados na competição pública Kaggle, os especialistas treinaram uma série de redes neurais para detectar deepfakes.

Também chegaram a oito pontos de observação que qualquer um pode examinar num vídeo, para tentar separar realidade de ficção:

  1. Preste atenção no rosto. As manipulações de deepfake de ponta são quase sempre transformações faciais.
  2. Preste atenção nas bochechas e na testa. A pele parece muito lisa ou muito enrugada? O envelhecimento da pele é semelhante ao envelhecimento do cabelo e dos olhos? Os deepfakes geralmente são incongruentes em algumas dimensões.
  3. Preste atenção nos olhos e sobrancelhas. As sombras aparecem em lugares que você esperaria? Deepfakes muitas vezes não conseguem representar totalmente a física natural de uma cena.
  4. Preste atenção nos óculos. Existe algum brilho? Há muito brilho? O ângulo do brilho muda quando a pessoa se move? Mais uma vez, os deepfakes geralmente falham em representar totalmente a física natural da iluminação.
  5. Preste atenção nos pelos faciais ou na falta deles. Parecem reais? Deepfakes podem adicionar ou remover bigode, costeletas ou barba. Mas muitas vezes não conseguem deixar essas transformações totalmente naturais.
  6. Preste atenção nas pintas e manchas da pele. Elas parecem reais?
  7. Preste atenção no ato de piscar. A pessoa pisca o suficiente ou pisca demais?
  8. Preste atenção no tamanho e na cor dos lábios. Combinam com o resto do rosto da pessoa?