Felipe Zmoginski

Felipe Zmoginski

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

É ano do Dragão: para a China, significa mais grana para tecnologias verdes

Quando o tema é China, os números são sempre superlativos. Nesta semana, o país entra em seu mais importante feriado, o Ano-Novo lunar, quando mais de 500 milhões de chineses viajam das cidades onde vivem, para os municípios e vilarejos onde nasceram. O gasto energético com esta movimentação é descomunal.

O país, maior emissor de gases de efeito estufa do mundo, é também o maior consumidor mundial de carvão e o segundo maior consumidor de petróleo, dados que fazem da China um vilão ambiental, certo? Não exatamente. Para observar a responsabilidade chinesa pela poluição no mundo é recomendável levar em conta dois fatores: emissão per capta e taxa de exportações.

Com 1,4 bilhão de habitantes, a China é "apenas" o 91º emissor de CO2 do mundo, bem atrás de países como Chile, México, Portugal, França ou Espanha. Ou seja, para viver, se alimentar e se aquecer, um chinês polui muito menos que seus equivalentes latino-americanos ou europeus.

Mais, o consumo de petróleo na China é menor que nos Estados Unidos, mesmo o país americano tendo quase um quinto da população chinesa.

É relevante notar que grande parte da emissão chinesa se deve ao fato de o país ter o maior parque industrial do mundo e ser o maior exportador de itens industrializados do planeta. Em outras palavras, a emissão que é contabilizada como chinesa, na verdade, é para produzir carros, celulares, roupas, computadores e brinquedos que são utilizados por europeus e americanos, por exemplo.

Para além disso, a China fechou 2023 como o país que mais investiu em energias não fósseis, aí contabilizadas tecnologias eólica, solar, hidráulica e nuclear. Os gastos, de acordo com a Bloomberg, foram de US$ 132 bilhões, mais do que a soma dos investimentos dos países da União Europeia e Estados Unidos em energias limpas.

De acordo com o planejamento de Pequim para o próximo triênio, o objetivo é rebalancear a matriz econômica do país para atividades que demandem menos energia. Leia-se, menos indústria pesada e mais soluções de alta tecnologia, como inteligência artificial.

A razão para a elevação nos investimentos em energias verdes bem como para atividades econômicas que demandem menos energia pode ter menos a ver com a preocupação com o meio ambiente, embora certamente o aquecimento global seja uma preocupação real. O motivo mais premente pode ser apenas geopolítico, o de diminuir a dependência chinesa da importação de petróleo, uma commodity que já levou o mundo a muitas guerras.

A grande contribuição chinesa para a geração de energia sustentável, no entanto, pode vir de seu projeto de fusão nuclear, testado em um laboratório na cidade de Hefei, leste do país. O método de fusão, em que o núcleo de dois átomos se funde em um, mais pesado, liberando grande quantidade de energia é considerado uma inovação de grande impacto, testada por pesquisadores em várias partes do mundo.

Continua após a publicidade

Em Hefei, no último ano, os cientistas chineses conseguiram manter um reator de energia por fusão funcionando de forma estável por mais de sete minutos. Pode parecer pouco, mas é o mais longo período de um reator deste tipo em funcionamento.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Deixe seu comentário

Só para assinantes