Felipe Zmoginski

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Opinião

Sucesso da Nvidia mostra que a China ficou para trás na evolução da IA?

A China é, além do maior exportador mundial, o segundo maior importador do mundo. Mais do que isso, as multinacionais instaladas na China dependem dramaticamente do mercado doméstico chinês. Não à toa, companhias como Apple, Microsoft e Tesla fazem lobby (que é legal nos Estados Unidos) em seu país para que os políticos americanos não sejam, assim, tão duros com a China.

Neste mês, no entanto, tivemos uma prova clara de que é possível ser uma corporação de sucesso mesmo sem o vasto mercado chinês à disposição. Este é o caso da Nvidia, companhia que divulgou uma alta de 769% em seus lucros no último trimestre de 2023 e viu suas ações se valorizarem 265% só no mês de fevereiro.

Só no dia da divulgação do balanço financeiro da Nvidia, os papéis da companhia subiram 13%. Para efeito de comparação, estes 13% de alta em um único pregão significa US$ 247 bilhões, o que é o valor de mercado, somado, de três das maiores companhias brasileiras: Petrobras, Vale e Itaú.

O retumbante sucesso da Nvidia tem nome e sobrenome: a dependência dos mercados mundiais de chips que suportem aplicações de inteligência artificial, a IA. É consenso entre os especialistas que IA é a próxima grande revolução tecnológica e companhias do mundo todo terão apetite progressivo por chips deste tipo.

Bem, pouca gente pode fornecê-los. Um destes poucos é a Nvidia.

O dado interessante neste processo de boom no mercado de ações é que ele aconteceu justamente quando as vendas da Nvidia desabaram na China. A empresa, de origem americana, está proibida de exportar chips de arquiteturas mais avançadas para a China. O resultado desse movimento é que as vendas trimestrais de semicondutores da Nvidia para o país chinês caíram de US$ 2,9 bilhões no último trimestre de 2022 para "modestos" US$ 900 milhões no mesmo período de 2023.

Ora, mesmo com um tombo deste tamanho em um mercado estratégico, como o chinês, os papéis da Nvidia tiveram toda essa alta. Sinal de que, ao menos para o mercado financeiro, é possível sobreviver muito bem, obrigado, mesmo se você não vender suas mercadorias para os chineses.

O ponto fraco desta estratégia de "privar" a China de chips avançados é que isto empurra o país a acelerar o desenvolvimento in house de seus próprios chips avançados.

Neste mês, a Huawei apresentou sua nova linha de chips para IA, chamada Ascenso. São bons, mas não são competitivos, ainda. Usam tecnologia mais antiga e, portanto, são mais caros de produzir que os da competidora Nvidia. Em algum momento, porém, podem se tornar mais baratos na China, como, aliás, já aconteceu com todos os produtos industrializados feitos no mundo: das geladeiras aos automóveis.

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Por ora, o sucesso da Nvidia é inquestionável. Mas como se diz no mercado de ações, o resultado passado não garante resultados futuros. A conferir.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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