Felipe Zmoginski

Felipe Zmoginski

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Por que a China não comemora ser 2º país que mais gasta com pesquisa?

Um estudo da União Europeia publicado neste final de ano apontou que a China, sozinha, responde por 17% dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) no mundo.

A análise avaliou os gastos com a criação de novas tecnologias por grandes empresas internacionais que submeteram pedidos de patente à Organização Mundial de Propriedade Intelectual. São considerados P&D investimentos na criação de novas patentes nas indústrias aeroespacial, farmacêutica e de telecomunicações, por exemplo.

De acordo com o estudo, os Estados Unidos mantêm folgada liderança neste ranking e responde por 42% dos gastos com P&D. O estudo selecionou as 2.500 empresas que mais investiram em pesquisa para aprofundar sua análise. Ao todo, os Estados Unidos tiveram 827 empresas inclusas no ranking, seguidos logo depois pela China, com 679 empresas.

Entre as companhias chinesas que mais investiram em pesquisa, estão a Huawei, que vive forte pressão para criar suas próprias patentes e assim driblar o bloqueio de exportações de itens de alta tecnologia, e a taiwanesa TSMC, grande fabricante de processadores e semicondutores.

Na terceira posição, aparece o Japão com 229 empresas listadas no ranking. Apenas em quarto lugar estão as companhias da União Europeia.

Os resultados da análise foram recebidos com moderada empolgação na China, uma vez que se esperava que os boicotes e bloqueios às companhias chinesas de tecnologia reduzissem o apetite destas por investimentos em P&D, sempre de retorno incerto.

Os dados mostraram, no entanto, resiliência das empresas chinesas em usar parte significativa de sua receita para apostar em inovações tecnológicas.

O avanço em duas áreas específicas é considerado estratégico na disputa tecnológica travada com os americanos: inteligência artificial e fabricação de processadores de arquitetura avançada.

Em ambas as áreas, a vantagem é norte-americana, mas as análises de especialistas demonstram que, ano a ano, a diferença para o segundo colocado, a China, vem diminuindo.

Continua após a publicidade

Para muitos analistas, o esforço chinês em manter elevado seu investimento em P&D só se justifica pelo cenário de rivalidade comercial. Em muitas áreas, como o mercado de semicondutores, seria mais barato simplesmente comprar itens prontos do exterior ou importar máquinas e equipamentos, em vez de tentar criar tecnologias próprias.

Empresas chinesas optam pelo caminho mais difícil — e custoso— justamente por não se sentirem seguras de que poderão contar com parceiros comerciais e fornecedores no Ocidente.

O resultado deste fenômeno é, ao mesmo tempo, positivo e negativo. Por um lado, o efeito benéfico é fomentar o desenvolvimento da indústria de tecnologia local. Por outro lado, o custo de operação das companhias chinesas fica mais elevado. Isso faz seus produtos serem menos competitivos, o que leva a um cenário de redução na velocidade do crescimento da economia chinesa.

Se há duas décadas, falar em crescimento de 10% na China era algo razoável, agora, uma expansão de 6% do PIB já é dada como grande conquista.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Deixe seu comentário

Só para assinantes