Ele faz de tudo para economizar: 'Não tenho móveis e nem eletrodomésticos'
Patrício Campanha, 36, chamou a atenção do público ao participar do segundo episódio da série Muquiranas Brasil, da Max. Sua vida é marcada pelo minimalismo radical e pelo sobrevivencialismo.
O que aconteceu
O gaúcho mora em uma casa aparentemente em ruínas, no bairro Lomba do Pinheiro, na zona leste de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Ele não possui móveis ou eletrodomésticos e cozinha os alimentos em um forno a lenha improvisado.
As paredes internas do imóvel foram removidas, e as telhas do telhado, substituídas por uma cobertura transparente. O objetivo, diz o gaúcho, era transformar a casa em estufa. E deu certo, pois o imóvel fica tão quente no verão que a própria família de Patrício, que é vizinha da residência, nem tem coragem de entrar.
A estufa é para produzir hortas verticais, que Patrício cria com objetos de descarte que encontra, como pneus e garrafas PET. Ele as comercializa na região, após ter deixado um emprego como operador de máquinas computadorizadas, no mês passado, para focar no próprio negócio. O episódio de Muquiranas facilitou a propaganda.
Ele toma banho frio, em uma caixa d'água instalada no imóvel, com uma mangueira pendurada no telhado. Para não gastar com móveis, ele dorme em uma barraca camuflada e guarda as roupas em contêineres de plástico. O colchão, doado pelo pai, fica sobre o chão da casa, de terra batida. Fica mais fácil de limpar, segundo ele.
Desilusão, acumulação e 'muquiranice'
Em entrevista a Splash, Patrício contou que sua vida nem sempre foi assim, tão desprovida de bens materiais. Até 2010, ele trabalhava e ganhava bem, vivia com a esposa e um cachorro em uma casa confortável. Ele diz que não esperava que a vida lhe pregaria uma peça.
Em uma única semana, ele perdeu o emprego, viu seu casamento terminar e enfrentou a morte do cachorro. "Para acelerar o pagamento das dívidas, vendi os imóveis, eletrodomésticos, e deixei a casa vazia", relembra. Esse período de crise culminou em uma fase de acumulação compulsiva, em que Patrício passou a colecionar objetos aleatórios na tentativa de preencher o vazio emocional.
No entanto, o acesso à psicoterapia o ajudou a superar essa fase e a adotar o minimalismo como estilo de vida. "O primeiro passo do minimalismo é o descarte", explica ele. Após limpar sua casa de objetos desnecessários, ele decidiu não voltar ao padrão de vida anterior. Em vez disso, optou por investir em algo que sempre amou: plantas. "Modifiquei a casa, tirei o forro e o telhado e substituí por telhado transparente que permite a luz solar entrar na casa e cultivar plantas em hortas verticais". Mesmo após conseguir um novo emprego, ele continuou com seu estilo econômico, reduzindo drasticamente seus gastos e mantendo um padrão de vida mínimo, economizando mais da metade do que costumava gastar.
A infância do gaúcho também foi marcada por dificuldades financeiras. As limitações, porém, fizeram com que Patrício desenvolvesse um senso ecológico que moldaria sua visão sobre o consumismo.
Gosto de lembrar da minha infância que, apesar de ser pobre e difícil, foi relativamente boa, porque tive uma liberdade criativa por causa da oportunidade que a dificuldade me concedeu. Eu mesmo fazia brinquedos de papel e ficava orgulhoso da minha criatividade e imaginação. Sou grato aos meus pais que, mesmo sem estudo, conseguiram me dar uma boa criação e me passar os seus valores morais e éticos
Patrício Campanha
Grãos em garrafas PET
O muquirana vê o minimalismo e o sobrevivencialismo como conceitos complementares. "Minimalismo é sinônimo de essencialismo, e sobrevivencialismo é sinônimo de segurança em todos os sentidos", explica. Ele acredita que o minimalismo não só economiza espaço, mas também ajuda a focar no essencial, preparando-se para situações reais de crise, como desemprego ou catástrofes climáticas.
Dessa maneira, para economizar, ele compra grãos e farelos no atacado e os armazena em vidros e garrafas PET, que dificultam a entrada de ar e a oxidação. "Assim eles podem durar muitos anos", comenta.
O estilo de vida de Patrício, embora recompensador para ele, pode afastar algumas pessoas. Ele não tem um relacionamento sério com ninguém no momento. Mas ele diz que não se importa, porque para ele o essencial é "aproximar as pessoas certas".
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Quero receberPara manter o equilíbrio emocional, Patrício segue uma rotina matinal que chama de "milagre da manhã", que inclui exercícios físicos e mentais, além de práticas de autoconhecimento. Os exercícios são feitos com pesos e halteres que ele mesmo construiu com barras de ferro e cimento, para economizar com academia e equipamentos profissionais.
Viver sem móveis e eletrodomésticos pode parecer radical para muitos, mas Patrício vê isso como uma adaptação natural. "O ser humano é adaptável. E, sim, eu uso recursos tecnológicos se precisar. Tenho condições de ter, caso eu queira ter", diz o muquirana, que não possui TV, computador, geladeira ou máquina de lavar. Para ter internet no celular, ele paga o plano mais barato.
Ele afirma que hoje gasta apenas 20% do que ganha, mantendo o restante em investimentos diversos. Para Patrício, ser muquirana não é apenas uma questão de economizar dinheiro, mas sim de valorizar o essencial e evitar desperdícios, garantindo uma segurança financeira e alimentar.
Ao refletir sobre sua participação no Muquiranas Brasil, Patrício enfatiza a importância de focar nos aspectos positivos de uma vida simples. "Somos felizes do jeito que estamos, mas vamos mudar, porque a evolução é constante", afirma. Ele também diferencia a muquiranice da mesquinharia, explicando que a primeira é baseado em objetivos, enquanto a segundo é movida pelo egoísmo. "Como muquirana, já fui confundido com uma pessoa egoísta e sem propósito. Mas é apenas de pessoas que não me conhecem".
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