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Opinião

Fracasso de 'Aquaman 2' marca o início da 'Era pós-super-heróis' do cinema

O Universo Estendido DC, conhecido pela sigla DCEU, terminou com mais um fracasso. "Aquaman 2: O Reino Perdido" estreou nos cinemas mundiais no final de dezembro e até o fechamento deste texto coletou uma bilheteria de apenas US$ 337 milhões em todo o mundo. O público já demonstra estar cansado das mesmas fórmulas desse tipo de produção, e o novo insucesso pode estar decretando o fim da "era de ouro" dos super-heróis na tela grande.

'Aquaman 2" tem um grande orçamento, estimado em cerca de US$ 205 milhões segundo a Variety. Trata-se da sequência do primeiro "Aquaman", de 2018, que alcançou a respeitável marca de US$ 1,15 bilhão de bilheteria. A aposta alta na continuação fazia sentido, mas só não é um "flop" retumbante porque já passou (por pouco) da arrecadação mínima para pagar os seus custos.

E olha que o herói oceânico foi o que se deu melhor na DC em 2023: "Shazam! Fúria dos Deuses", "Besouro Azul" e "The Flash" foram tropeços ainda maiores, com arrecadações irrisórias.

Essas produções foram bombardeadas pelo fogo amigo. Após a fusão da WarnerMedia com a Discovery, a divisão de filmes baseados nas histórias em quadrinhos da DC ficou a cargo do cineasta James Gunn e do produtor Peter Safran. Mais do que rapidamente, eles anunciaram o fim do DCEU, o universo compartilhado iniciado há alguns anos pelo diretor Zack Snyder e do qual todos os longas mencionados fazem parte. Veio o sentimento de beco sem saída, de projeto largado. Fim de feira.

Tem mais. "Aquaman 2", em sua maior parte, recicla ideias e referências de outras produções, inclusive de estúdios concorrentes. Parece uma reprise. O desgaste da fórmula está bem claro.

A Marvel Studios - de Os Vingadores - enfrenta o mesmo desafio. Por ter exagerado no volume de produções, a Casa das Ideias perdeu a sua magia. Virou carne de vaca. Pior: fica cada vez mais difícil surpreender, criando novamente aquela sensação de descoberta que tivemos com o primeiro "Homem de Ferro".

Resultado? "As Marvel", que estreou há dois meses, está fazendo ainda mais feio que "Aquaman 2": US$ 205 milhões nas bilheterias globais. Isso para um orçamento de US$ 275 milhões. É o maior fracasso na história da empresa. Mais uma vez o futuro do estúdio está em xeque.

Cinema busca um novo modelo

O fim melancólico do DCEU revela que o momento dos super-heróis definitivamente passou. Hollywood precisa desesperadamente encontrar outros motivos para levar o público aos cinemas, mas a indústria ainda busca uma nova fórmula. O próximo modelo passa necessariamente por orçamentos enxutos, dentro das bilheteiras menores, mas mantendo universos compartilhados e inúmeras continuações que fidelizem as pessoas.

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Os próprios super-heróis vão ter que se reinventar para continuarem a justificar a sua existência na tela grande. O maior desafio é com a própria DC. O já mencionado James Gunn anunciou os seus planos para o estúdio. Basicamente, quer copiar a fórmula da Marvel: vão introduzir um novo Superman em 2025, servindo de ponta para a criação de uma cronologia coesa. Uma ótima ideia - só que atrasada em 15 anos. Será que o público tem tempo e paciência para uma nova jornada do tipo?

O exemplo do passado

Não se engane: se tem uma coisa que o cinema sabe fazer é se recriar. Crises aconteceram diversas vezes, claro, mas a mídia - principalmente em sua vertente mais comercial - conseguiu encontrar novos rumos e fórmulas.

Foi o que aconteceu com os westerns. Os longas de bang-bang eram a grande febre nos anos 1940 e 1950. Quando o gênero entrou em declínio, vieram cineastas como Sergio Leone para criar uma versão mais bruta, autocrítica.

Os faroestes hoje quase nunca são divulgados dessa forma, mas o estilo continua vivo, sim. "Jornada nas Estrelas" nada mais é que um western espacial, enquanto "Breaking Bad" é a sua versão contemporânea. Isso sem mencionar "Yellowstone" e todos os seus derivados, que assumem o gênero sem nenhum pudor.

'As Marvels', lançado em novembro, se tornou o mais fracasso da história da Marvel Studios
'As Marvels', lançado em novembro, se tornou o mais fracasso da história da Marvel Studios Imagem: Disney/divulgação
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Estamos vendo o mesmo com os super-heróis. "The Boys", da Amazon, emprega essa visão crítica de autoparódia, enquanto o fracassado "Morbius" trouxe o terror. Os próprios filmes e séries da Marvel buscam explorar ou já tiveram elementos da comédia, romance e até thriller político em seus enredos.

A tendência é que esses elementos sejam mais e mais trazidos à nossa atenção, principalmente por meio das campanhas de marketing. Ou seja: você vai continuar vendo os super-heróis na tela grande, apenas não será avisado disso.

As apostas

Uma coisa é certa: Hollywood está com pouco apetite a riscos. Por isso, a era pós-super-heróis dificilmente será marcada por ideias totalmente inéditas.

Assim como as HQs, os games já se mostraram uma boa fonte de inspiração para longas-metragens e séries. "Super Mario Bros.: O Filme" foi a segunda maior bilheteria dos cinemas em 2023, com US$ 1,3 bilhão, enquanto "Sonic 3" chega no final de 2024. Adaptações do tipo vão se tornar ainda mais comuns. Isso sem falar das bonecas, com o sucesso de "Barbie" servindo de inspiração.

O fenômeno passa também pela nostalgia. Os estúdios já estão explorando o que foi sucesso na década 1990 e no começo da de 2000, usando a saudade para conquistar quem está entre os 30 e 45 anos de casa. Esse público é chave: além de terem dinheiro para finalmente consumir o que estava fora de alcance quando eram jovens, muitos já tiveram filhos e vão querer compartilhar com eles as suas próprias experiências.

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É por isso que, em 2024, vamos ver a estreia de "Beetlejuice 2" (o original é de 1988, mas foram as reprises na TV durante a década seguinte que o tornaram cult), '"Gladiador 2" e a continuação de "Twister".

Isso até que alguém conquiste um sucesso improvável, desencadeando uma série de tentativas de imitação. Afinal, a história do cinema acontece como êxito e se repete como farsa.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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