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Maior podcast de true crime do Brasil troca Globo por Amazon

Não são apenas as grandes estrelas das novelas ou das transmissões esportivas que estão trocando a Globo por novas casas. A partir de hoje (6), o podcast "Modus Operandi" — considerado o maior do gênero true crime no Brasil, sempre figurando entre os mais ouvidos das plataformas de áudio — está se juntando à Wondery, estúdio que faz parte da Amazon, após deixar uma bem-sucedida parceria com o Globoplay.

O programa tinha destaque dentro do Grupo Globo, que apresentava o "Modus Operandi" tanto em seu serviço de streaming quanto em chamadas na programação de seus canais pagos, da mesma forma que fazia com títulos como "O Assunto" e "Leila".

"Foi muito especial estar lá. Foram dois anos muito legais, mas era um novo momento. Estávamos buscando outras coisas", compartilha Mabê Bonafé, uma das criadoras e apresentadoras do "Modus Operandi", ao lado de Carol Moreira.

Para a nova fase, as duas foram atrás de um parceiro que abraçasse o atual momento do podcast, que completou quatro anos em janeiro. Depois de algumas conversas com outros players do mercado, chegaram no estúdio da Amazon, com o qual Mabê já mantinha um derivado do "Modus Operandi", chamado "Caso Bizarro", que segue a linha da mistura de terror com humor (chamado de "terrir").

A Wondery quer nos colocar na vitrine de outras coisas, o que faz mais sentido para a gente agora. Carol Moreira

De acordo com Fábio Silveira, Head Brasil de Conteúdo da Wondery, o estúdio já é reconhecido pelos seus investimentos no true crime em todo o mundo, e o programa preenche todos os requisitos do que eles buscam nesse tipo de produto. "É um território que estamos nos reforçando com o 'camisa 10'. Admiramos muito o trabalho delas".

Para os ouvintes, nada muda — ao menos por enquanto. O podcast continuará disponível em todas as plataformas de áudio, inclusive nas concorrentes do Amazon Music, como Spotify, Deezer e Apple Podcasts, sem qualquer exclusividade. Os novos episódios serão distribuídos às quintas, a partir das 5h da manhã.

Porém, atrás dos microfones, a parceria está permitindo uma ampliação da equipe e melhorando a qualidade do produto final. Hoje já são sete integrantes no time, entre roteiristas, revisores, produtora e, claro, a dupla que é a cara do programa. "A produção de um roteiro do 'Modus' pode levar de duas a quatro semanas - e os episódios são semanais", explica Mabê. "Com essa equipe conseguimos ter mais clareza e episódios com mais antecedência".

"O que elas fazem toda semana é impressionante. Isso demanda gente, demanda equipe, dedicação e comprometimento com criação de comunidade", elogiou Fábio Silveira.

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Crimes reais

O "Modus Operandi" une duas grandes tendências da internet: os podcasts, que surgiram em meados da década de 2000 e se consolidaram nos últimos anos como uma mídia de maior penetração; e o true crime, que traz relatos de crimes reais em formato documental ou dramático, rendendo sucessos como "O Golpista do Tinder" e "Dahmer: Um Canibal Americano".

Esse interesse das pessoas é porque temos boas produções sendo feitas, que diferem um pouco do viés sensacionalista do passado, de só focar na violência e vangloriar o assassino. Mabê Bonafé

As duas podcasters apresentam, claro, o seu próprio "twist" para a fórmula - o que talvez justifique o seu sucesso nessa febre.

"Cerca de 75% de nosso público são mulheres", revela Carol Moreira. "Nós trazemos um pouco da nossa sensibilidade [por também sermos]".

Um exemplo é justamente o episódio de estreia com a nova parceira, o 208, que aborda o feminicídio de Barbara Weaver em uma comunidade Amish dos Estados Unidos, em 2009.

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"Isso tem muito a ver com a curiosidade de entender a mente humana, mas também tem uma coisa de autopreservação. [As ouvintes] Falam muito que, consumindo esse tipo de conteúdo, elas conseguem se sentir mais seguras, no sentido de entender como algumas situações funcionam, e quais são as maneiras de evitar e realmente se proteger dessas situações", reflete Mabê.

No fim, são histórias. O crime é só uma parte, não é a história toda. As pessoas não são a única coisa ruim que aconteceu com elas. Elas têm sonhos, vontades, trabalhos, projetos. Quando falamos dos crimes, falamos também sobre a sociedade. Os crimes refletem a sociedade em que vivemos. Mabê Bonafé

Amazon e podcasts

É impossível analisar essa movimentação fora do contexto global dos podcasts.

Desde 2020, com o início da pandemia, dois tipos de produção se popularizaram: os "mesacasts", muitas vezes em vídeo e com convidados, em uma mistura de debate com talk show. O modelo se popularizou com expoentes como o "Flow" e o "Podpah", e teve o YouTube como uma grande vitrine. O outro é o podcast narrativo, no qual se encaixa o "Modus Operandi" - que, não por coincidência, começou no mesmo ano.

"O mercado tem espaço para todos os tipos de conteúdo", afirma Fábio Silveira. "Nisso, eu chamo atenção para os formatos narrativos. Existe um espaço muito forte no Brasil. Não é à toa que o 'Modus Operandi' segue crescendo, sendo influente e importante. Isso diz muito não só sobre a maestria da Carol e da Mabê, mas também que há demanda por esse conteúdo".

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O 'Modus Operandi' agora passa a ter o selo da Wondery, estúdio da Amazon
O 'Modus Operandi' agora passa a ter o selo da Wondery, estúdio da Amazon Imagem: Divulgação/Wondery

Contudo, a estratégia da Wondery nesse universo é diferente daquela adotada em outros braços da própria Amazon. Silveira explica que o modelo do estúdio não se baseia na exclusividade dos conteúdos (como ocorre em filmes e séries originais do Prime Video), mas sim na distribuição multiplataforma para ampliar a audiência, tornando-se rentável com publicidade e produtos derivados.

O executivo não compartilha o que está planejando para o futuro do "Modus Operandi", mas deixa escapar que o caminho é justamente esse. "Se olharmos para o 'Caso Bizarro', vamos ter uma pista clara", revela. Hoje, o derivado de "terrir" tem episódios em vídeo no YouTube e capítulos bônus exclusivos do Amazon Music. "Vamos sempre ofertar para os fãs mais do que eles amam. O formato vai depender do que cada podcast pede e do que entendermos que pode gerar a mais para os fãs".

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