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Marvel tem futuro em xeque com queda de bilheteria e crises nos bastidores

"Guardiões da Galáxia Vol. 3" arrecadou US$ 114 milhões em sua estreia nos cinemas norte-americanos - Divulgação/Disney
'Guardiões da Galáxia Vol. 3' arrecadou US$ 114 milhões em sua estreia nos cinemas norte-americanos Imagem: Divulgação/Disney

Colunista do UOL

14/05/2023 04h00Atualizada em 15/05/2023 21h28

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O lançamento de "Guardiões da Galáxia vol. 3" acontece em um momento delicado para a Marvel Studios. A empresa vê a bilheteria de seus filmes diminuir ao longo dos anos e convive com crises em seus bastidores, o que põe em xeque o futuro do Universo Cinematográfico Marvel (MCU, na sigla em inglês), ao menos da forma como conhecemos hoje.

O que acontece com a Marvel:

Bilheteria dos filmes caiu ao longo das fases do MCU, com estimativa de prejuízo em lançamentos recentes. A Fase 4, concluída em 2022, fechou com um faturamento médio de US$ 888,50 milhões (R$ 4,37 bilhões*), uma queda de 28% em relação à Fase 3 (que ocorreu entre 2016 e 2019). Números muito distantes do apogeu de "Vingadores: Ultimato", que faturou US$ 2,7 bilhões (R$ 13,28 bilhões) nos cinemas em 2019.

Primeiro lançamento da Fase 5, "Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania" teve receita de apenas US$ 477,50 milhões (R$ 2,33 bilhões), valor insuficiente para não dar prejuízo. Com um orçamento estimado de US$ 200 milhões (R$ 984 milhões), dentro da média do estúdio, a produção teria que ter arrecadado algo a partir de US$ 600 milhões (R$ 2,95 bilhões) para cobrir seus custos incluindo publicidade, segundo estimativa da coluna.

O dado não conta o que o estúdio ganhe com posterior exploração no Disney+, canais de TV, atrações de parques, produtos licenciados e mais. Também não considera eventuais despesas com residuais e participações (quando empresas e indivíduos, incluindo atores e atrizes, têm uma participação na receita).

A aprovação dos filmes junto à crítica e aos fãs também caiu. Antes, a aprovação média no Rotten Tomatoes, site que compila as opiniões da imprensa, ficava sempre na casa dos 80% (com o ápice de 88,2% na terceira fase), mas caiu para 78,8% na Fase 3 e 64,5% na Fase 4. O CinemaScore, que reflete a opinião dos fãs que compareceram na estreia, também apresenta um tombo parecido no mesmo período.

James Gunn dá adeus ao MCU, que sofre mais baixas nos bastidores. O diretor deixou o cargo para ser co-CEO da concorrente DC Studios, de Superman, Batman, Mulher-Maravilha e companhia.

Victoria Alonso, que era o braço direito do presidente do estúdio, Kevin Feige, foi demitida pela Disney. Victoria chefiava a área de pós-produção, que cuida dos efeitos especiais, uma das razões da insatisfação dos fãs. Oficialmente, a demissão foi por causa do envolvimento da profissional com o filme "Argentina, 1985", o que seria vetado em contrato.

'Guardiões 3' larga bem, mas futuro guarda novas preocupações

"Guardiões da Galáxia Vol. 3" largou bem, mas ainda está aquém das expectativas. Comparado com últimos lançamentos, o filme ostenta bons resultados. No primeiro final de semana nos Estados Unidos, foram arrecadados US$ 114 milhões (R$ 560,59 milhões), número bom para o pós-pandemia, mas menor que as projeções iniciais e que o total arrecadado no mesmo período em 2017 pelo volume 2 da série.

"Guardiões da Galáxia Vol. 3" está com 82% de aprovação no Rotten Tomatoes - ainda que seja boa, é a pior marca da trilogia. O mesmo acontece no Metacritic, com uma pontuação de 65.

Boa notícia para a Marvel: novo "Guardiões da Galáxia" não deve ficar no vermelho. O longa precisa faturar algo entre US$ 750 a 825 milhões (entre R$ 3,68 bilhões e R$ 4,05 bilhões) para "empatar" seus custos. Com US$ 530,9 milhões (R$ 2,60 bilhão) já em caixa, considerando a receita em todo o mundo (incluindo o Brasil) até o fechamento deste texto, o volume 3 deve bater a marca - ainda que por pouco.

A preocupação agora é: como manter essa retomada, já que boa parte dos personagens do filme se despede após o atual "Guardiões". Eles foram as importantes bandeiras do sucesso da Marvel nos cinemas antes do apogeu em "Vingadores: Ultimato". O único garantido em futuras produções, por enquanto, é o Senhor das Estrelas de Chris Pratt.

Jonathan Majors interpreta Kang, o vilão do Universo Cinematográfico da Marvel - Divulgação/ Marvel - Divulgação/ Marvel
Jonathan Majors interpreta Kang, o vilão do Universo Cinematográfico da Marvel
Imagem: Divulgação/ Marvel

Outra dor de cabeça é Jonathan Majors, que foi preso após ser acusado de agressão doméstica e alvo de novas denúncias. O ator foi escalado como Kang, o grande vilão da chamada "Saga do Multiverso" (que compreende as Fases 4, 5 e 6). O personagem já foi utilizado em série e filme, em um arco previsto para durar até 2026, com "Avengers: Kang Dynasty" e "Avengers: Secret Wars" (ainda sem títulos em português).

Por consequência, a agência responsável pela carreira do astro cancelou o contrato, assim como a empresa que cuidava das relações públicas de Jonathan Majors. Tanto a Marvel quanto a Disney ainda não se pronunciaram oficialmente sobre o assunto ou sobre o futuro do seu grande vilão. Devem estar esperando o remédio para a enxaqueca fazer efeito.

Quem vê tanto filme?

O fato é que o grande trunfo do MCU, que é a cronologia interligada e coesa, pode ter se tornado um peso.

Hoje, para compreender plenamente uma nova história, se faz necessário ter assistido a 32 filmes, isso sem falar das séries - as mais recentes, do Disney+, impactam diretamente no que vemos nos longas. Isso pode estar diminuindo o apelo desse universo para o público em geral, que vai aos cinemas eventualmente, mantendo o MCU apenas como o interesse de um nicho.

É habitualmente a plateia mais aberta que constrói um sucesso bilionário e justifica um orçamento enorme - ainda que, no caso da Marvel, esse nicho que sobra é grande e com apetite ao consumo. Fica agora o impasse: abrir mão da linha do tempo interligada para ampliar as bilheterias, ou diminuir o dinheiro gasto para se adaptar à menor audiência?

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*Os valores consideram a cotação verificada às 11h17 de sexta-feira, 12/05, de R$ 4,92 por US$ 1,00