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Luciana Bugni

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Aconteceu com Arthur: como não passar por abusivo enquanto se acha vítima?

BBB 22: Acusado de abusivo, ele diz que está sofrendo também - Reprodução/Globoplay
BBB 22: Acusado de abusivo, ele diz que está sofrendo também Imagem: Reprodução/Globoplay

Colunista do UOL

23/03/2022 04h00

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Toda conversa sobre Arthur Aguiar, favorito do público a ganhar o BBB, é cercada de acusações. Primeiro porque o público erra ao trazer o passado do moço para tentar desvalorizá-lo. Depois de dois meses observando-o diariamente, é impossível acusá-lo de traidor, safado ou seja lá o que for. No que diz respeito à sua esposa, Maira Cardi, hoje Arthur é impecável.

A questão é que ele se vê e é visto no Big Brother como vítima. Meio desambientado — pode se dizer até com uma expressão tristonha —, ele sempre está lamentando alguma coisa. Se incomoda com reações de pessoas e prova, com uma retórica irreparável, que está sempre certo. O resultado a gente vê às terças. Ele nunca chegou perto de sair nos vários paredões em que esteve e sua torcida só cresce.

Então porque a discussão sobre ele cresce tanto aqui fora? Na segunda (21), o programa colocou no alto do trending topics do Twitter a palavra Gaslighting. O termo complicado se refere às atitudes de um homem num casal: desvalorizar a fala da mulher, elevar a voz, distorcer o que ela está dizendo e deixá-la confusa. Dá para ver várias situações parecidas com essa na complexa discussão entre ele e Laís.

O jogo, chamado de Discórdia, é feito para dar audiência. É difícil fazer com que, do jeito que a brincadeira é proposta, aquele seja um lugar de diálogo. Os nervos ficam à flor da pele e as frases saem todas tortas mesmo. Deve ser por isso que, como acusou Arthur, Laís vive pedindo desculpas depois. Meio estabanada, ela distorce histórias e tem dificuldade de ver o todo. Que bom que tem humildade de pedir perdão. Mas isso obviamente irrita Arthur. No fim das contas, ele acabou tachado por ela de arrogante. Não tem como sair algo de bom daí: não ao vivo, na frente de todo mundo.

Laís tira dos bolsos mágoas antigas: assume que deu "show", mas se chateia que ele diga isso, por exemplo. Relações construídas desse jeito são difíceis de virarem conversas saudáveis. Dá para entender os dois.

Mas então porque ele foi acusado de gaslighting?

Arthur foi machista, mas não foi abusivo. Quando o público escuta Arthur aqui do lado de fora, sabe que ele é mais forte que Laís. Sabe que ele consegue verbalizar o que quer com muito mais facilidade. Inteligente, ele coloca sujeito, predicado e tom de voz na medida para ser compreendido. Estando certo ou errado, fica difícil discordar. É para analisar o jogador? Impecável. Mas é difícil olhar para ele sem ver o homem. E ver que ao lado há uma mulher nervosa, tentando se expressar com dificuldade enquanto é "jantada" em rede nacional. Tá tudo certo, é um jogo em que os participantes se propuseram a tal experimento. O problema é que nós, mulheres, nos reconhecemos em Laís.

Temos histórias de abuso em que homens falaram mais alto que a gente para ganhar território, expuseram nossas atitudes sob a própria ótica de um jeito que a gente passou a questionar a própria sanidade. Sabemos como funciona esse mecanismo e temos convicção de como é difícil se expressar adequadamente antes de sair de discussões assim. Errada ou certa, Laís sequer teve a oportunidade de enxergar onde poderia melhorar.

Em uma treta de acusações para todo lado, o negócio é desviar do tiro e não atirar. Por isso, após tantas interrupções, ela acabou ficando calada.

A última palavra foi do homem. Ui, gatilho, reclamaram as mulheres na internet, acostumadas a perderem discussões do mesmo jeito e dormirem engasgadas com o que não conseguiram dizer.

Uma pena. Claramente não é possível mudar isso num reality show projetado para haver confusão, times de torcidas e polêmicas. Mas na vida real, não tem nada como esfriar a cabeça. A discussão inflamou? Falou sem parar e nem ouviu a justificativa do outro? Epa. Tem algo errado nessa vitória aí.

Relações não se constroem com alguém que sempre dá a última palavra, por melhor que essa pessoa construa as frases.

Não é o caso de Arthur e Laís, que nem são amigos, mas quando há amor em um casal, é sempre importante parar, escutar, tentar entender o ponto de vista do outro e achar um espaço saudável para defender o seu. Dá para fazer isso até quando se está muito magoado, acredite. Maíra e Arthur e a relação que reconstruíram são a prova disso.

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