Muito além de Punta Cana

Piratas, praia cinematográfica e uma vila italiana em pleno Caribe: as surpresas da República Dominicana

Beá Jordan Para Nossa, de Santo Domingo, República Dominicana Getty Images/iStockphoto

Nas vias da história

Pelas ruas de paralelepípedos com casas coloridas, tijolos aparentes e o odor das flores de maio perfumando as esquinas é possível notar que, apesar de a colonização da República Dominicana ter sido espanhola, há uma riqueza de diversidade no estilo da zona colonial de Santo Domingo, a capital.

Espalhadas pelas praças e dentro das construções mais antigas é comum encontrar fontes e chafarizes, arcos, cúpulas e estampas com figuras geométricas que imediatamente te transportam para a casa do tio Ali, da novela 'O Clone' — ou para o Marrocos, caso você tenha um passaporte mais carimbado.

Para entender a relação da Espanha com a cultura arábe, é preciso lembrar que os mouros ocuparam a Península Ibérica de 711 d.C até 1492 — período em que Carlos V derrotou os muçulmanos e liberou as grandes navegações comandadas por Cristóvão Colombo. Essa era deixou heranças vivíssimas na cultura hispânica e refletiu também na República Dominicana.

A capital e suas histórias foram o ponto de partida desta viagem, que incluiu também a descoberta de uma pequena vila 'italiana' na região em Altos de Chavón e o passeio até Saona, uma ilha que te faz sentir-se num cartão-postal caribenho — com direito a ver locações do filme "Piratas do Caribe".

E como fica Punta Cana, o destino mais conhecido pelos brasileiros? Segue linda, mas deixo para a próxima viagem.

Quando a América nascia

Santo Domingo foi fundada em 1496 por Bartolomeu Colombo após os taínos, povo nativo da ilha, destruírem o primeiro assentamento de Cristóvão Colombo em retaliação aos abusos dos colonizadores que chegaram na região em 1492.

Nesse clima de resistência nasce a primeira cidade colonizada da América, no território da chamada ilha Hispaniola, que hoje está dividida entre a República Dominicana e o Haiti. As terras antes ocupadas por mais de 500 mil taínos foram invadidas e os europeus batizaram a região como Novo Mundo.

No passeio pela zona colonial de Santo Domingo descobrimos outros tantos lugares que são "primeiros da América". É assim desde a rede de esgoto original da cidade à catedral, passando pela primeira rua das bandas de cá do Atlântico — não deixe de visitar a Calle Las Damas. E que tal celebrar esse tanto de "pioneiros" do melhor jeito: com um trago na primeira taberna da América?

A Pat'e Palo foi fundada em 1505 por arquitetos e engenheiros que chegaram da Espanha para construir o Palácio de Don Diogo Colombo, filho de Cristovão Colombo.

Em paralelo a essa história, corre a lenda de que o nome da taberna homenageia um pirata holandês apelidado de Pate Palo. Ele foi chamado assim por ter perdido a perna esquerda na batalha do Guernsey contra os ingleses. Há quem diga que Pate Palo tenha morado na primeira taberna das Américas por um tempo, mas, para todos os efeitos, a história oficial conta que o nome da taberna é apenas uma homenagem ao pirata holandês, que não raramente era visto em tabernas comendo, bebendo e comemorando a derrota de seus inimigos.

Hoje um restaurante com mesas ao ar livre e cardápio especializado em comida europeia, o lugar é ideal para curtir um fim de tarde após uma visita ao igualmente icônico Museu de las Atarazanas Reales, que fica a 250 metros.

Reprodução
Pátio interno do hotel: charme colonial

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Para ficar: a região da zona colonial oferece diversos tipos de acomodações, mas se você quiser sentir como era a vibe das casas da realeza, escolha o hotel Hodelpa Nicolás de Ovando.

Localizada na Calle Las Damas (sim, aquela primeira rua pavimentada das Américas), a antiga residência de Nicolás de Ovando (o primeiro governador nomeado em nosso continente), construída em 1502, foi totalmente reformada e hoje abriga este emblemático hotel de charme.

Alguns quartos ainda exibem as paredes de pedra originais ou as vigas expostas no teto. No pátio central, a sensação é de estar em um casario do período colonial.

As histórias de quem não chegou ao destino

A chegada de Critóvão Colombo à ilha Hispaniola transformou o trafego marítimo da região. O fluxo de navios aumentou, a ilha passou a ser fundamental para rota comercial e para o tráfico de escravizados, além disso, com o Novo Mundo, a disputa entre as potências europeias pela colonização das Antilhas também refletiu no trânsito de navios.

Mais gente circulando, as características naturais da região e a falta de infraestrutura de algumas tripulações naquela época desenham a tríade de fatores que explica a ocorrência de tantos acidentes marítimos na região.

O mar do Caribe é conhecido por suas ondas fortes e marés. A região também fica mais suscetível a tempestades tropicais a depender da época do ano e conta com recifes submarinos e bancos de areia que representam perigos para a navegação. Tudo isso, aliado a conflitos e ataques de piratas, fizeram da região um lugar conhecido por grandes naufrágios que impediram suas tripulações de chegarem ao destino final.

Parte desta história você conhece no passeio pela zona colonial. Em frente ao Rio Ozama e próximo ao mar, está o Museu de las Atarazanas Reales. A imponente construção do século 16 abrigava um estaleiro naval, conhecido como atarazana, onde eram construídos e consertados os navios que percorriam as rotas comerciais do Novo Mundo.

Divulgação
Reprodução do porão de um navio no museu: repare nas redes de dormir, item dos povos taínos que os colonizadores adotaram

Hoje, o espaço restaurado é sede de um dos museus náuticos mais modernos do mundo. Ali está guardada parte do acervo encontrado em doze naufrágios que aconteceram na costa dominicana entre os séculos 15 e 19 — desde embarcações dos primeiros navegantes europeus até navios de guerras afundados em conflitos.

Entre as relíquias recuperadas, estão instrumentos de navegação, joias, louças, remédios, moedas, ampolas de mercúrio, prata americana e outros itens que aproximam os visitantes dos tesouros que, até a década de 1970, estavam no fundo do mar.

Com uma curadoria interativa, o museu coloca os visitantes "à bordo" da artilharia de um navio para mostrar como viviam os tripulantes responsáveis por disparar os canhões. Nesse setor, um dos intercâmbios culturais entre europeus e taínos chama a atenção. Os invasores adotaram a redes indígenas no porão a fim de otimizar o espaço e proteger a guarnição — antes, eles dormiam ao relento e ficavam mais suscetíveis a doenças.

Beá Jordan/UOL

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Para visitar: o Museu de las Atarazanas Reales fica na Calle Atarazana, na zona colonial de Santo Domingo. Ele abre de terça a domingo das 10h às 18h. Para ficar por dentro da programação, vale a pena seguir a página @museodelmarrd no Instagram. Crianças a partir de 6 anos pagam US$ 4 e adultos, US$ 7.

Vale saber: Atarazanas é uma palavra de origem árabe que significa "casa de fabricação" ou "local de construção", referindo-se principalmente a estaleiros ou arsenais navais usados para construir, reparar ou armazenar embarcações. Hoje, o termo é também associado a edifícios históricos que preservam esse legado, muitas vezes convertidos em museus ou espaços culturais.

A Itália Caribenha

A cerca de uma hora e quarenta minutos do centro histórico de Santo Domingo está Altos de Chavón, pequena vila que imita a região Toscana do século 16 e, não por acaso, ficou conhecida como Itália Caribenha.

O charmoso complexo cultural foi desenhado pelo cineasta Roberto Coppa e abriu as portas em 1976. Cafés, boutiques e galerias de arte garantem um agradável passeio até chegar a uma das estrelas do lugar: a Igreja San Estanislao.

Além de ter sido inaugurada pelo próprio Papa João Paulo II, outra curiosidade marca sua história: Michael Jackson teria casado ali com Lisa Presley em maio de 1994. Esta história nunca foi confirmada, mas é fato que, até hoje, o templo é muito disputado por noivos de todo o mundo.

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Anfitreatro em estilo grego em Altos de Chavón

A vila de pedras também conta com um anfiteatro construído em estilo gregoriano e com capacidade para 5 mil pessoas. O palco a céu aberto foi inaugurado em grande estilo com um show de Carlos Santana e Frank Sinatra, em 1982, e, desde então, já recebeu vários artistas do porte de Shakira e Julio Iglesias.

A Itália Caribenha está localizada na região de La Romana, mais especificamente dentro do resort de luxo Casa de Campo, que ocupa uma área de 2.800 hectares.

Hóspedes têm acesso livre a todo o complexo, mas turistas também podem visitá-lo. Agências oferecem passeios para a região ou — a dica de ouro do nosso guia — você pode fazer reserva em um dos restaurantes que ficam dentro da vila e aproveitar para conhecer o local no dia.

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Uma das praias privativas do Casa de Campo Resort & Villas

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Para ficar: inserido no complexo que abriga a vila que emula um antigo povoado mediterrâneo, o premiado Casa de Campo tem acomodações que se dividem entre suítes e as chamadas villas, casarões sofisticados que podem abrigar famílias — alguns deles têm vista para o mar, jardins privativos e piscinas exclusivas.

Entre as opções de lazer do complexo estão três campos de golfe, um centro equestre, quadras de tênis, esportes aquáticos e uma marina. Detalhe de luxo: os hóspedes podem selecionar a opção de reservar um carrinho de golfe para facilitar o deslocamento dentro do resort.

Uma ilha cinematográfica

Um dos passeios mais aguardados por quem visita a República Dominicana é o que leva até Saona. A explicação é simples: a ilha sintetiza tudo aquilo o que a gente idealiza de um cartão-postal do Caribe: areia branca, coqueiros e águas cristalinas.

O caminho mais fácil para ir até a Saona à partir de Santo Domingo é se deslocar até a praia de Bayahíbe e, de lá, embarcar em uma lancha ou um catamarã para uma jornada de cerca de 1h20 mar adentro.

Durante o trajeto, o guia Jonathan Guilamo mostra o encontro das águas turvas do oceano Atlântico com o o mar cristalino do Caribe. Ele também revela que, por ali, foi filmado "Piratas do Caribe" e, mais à frente, observamos trabalhadores montando as estruturas de um reality de sobrevivência que está se preparando para uma nova temporada.

Antes de chegar ao nosso ponto de parada em Saona, ainda fomos apresentados à parte da ilha aonde, segundo o guia, se passa o filme "A Lagoa Azul". Quem era telespectador da Sessão da Tarde foi à loucura, mas a informação é controversa, já que, pelo menos oficialmente, o sucesso de bilheteria estrelado nos anos 1980 pela atriz Brooke Shields foi gravado em Fiji e na Jamaica — porém, minhas memórias em frente à TV se esforçam a dar crédito para o nosso guia.

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Em Saona, encontrei aquela paisagem que a gente espera do Caribe: coqueiros na areia branca banhada por um mar translúcido

Ao descer do barco e colocar os pés na areia fofa e branca, o programa principal é entremear o descanso à sombra dos coqueiros com mergulhos nas águas calientitas. Há também no local tendas que vendem artesanatos, cangas e outros souvenires.

A Saona é a maior ilha da República Dominicana, tem 110 km², e está localizada a 19 km ao sul do continente, pertencendo à província de La Romana. A beleza das águas cristalinas e da vegetação tropical faz parte da reserva do Parque Nacional Cotubanamá.

Ao comprar o passeio, você paga também por uma taxa referente ao parque e recebe uma pulseira que te identifica como turista. Isso é feito porque, naquela região, apenas cerca de 500 moradores de uma vila de pescadores estão autorizados a permanecer. Quer prolongar a estada no paraíso? Existe a possibilidade de alugar a casa dos nativos por algumas noites.

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Praia de Bayahibe: para curtir o mar caribenho

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Para passear: as praias de Bayahibe têm se tornado cada vez mais famosas, não só por ser uma opção mais barata e menos disputada do que outras regiões do Caribe, mas por preservar belezas naturais e assentamentos místicos. O Parque Nacional de Cotubanama, situado na região, guarda um lugar sagrado para os taínos.

Conta o guia Jonathan Guilamo que ali os nativos faziam cerimônias de agradecimento, purificação e fertilidade, deixando oferendas aos deuses. A região foi uma das primeiras a ser ocupada pelos indígenas e, posteriormente, se tornou uma importante rota de fuga por abrigar muitas cavernas, que hoje podem ser visitadas em passeios turísticos.

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Para ficar: uma opção para quem pretende visitar a ilha Saona e outras praias da costa dominicana é se hospedar em Bayahíbe. Um dos hotéis pioneiros na região é o Viva Dominicus Beach, da rede Wyndham.

Com atmosfera tropical, o resort atende no sistema all-inclusive (com refeições, lazer e passeios incluídos) e oferece acomodações em apartamentos e em bangalôs à beira-mar, ideais para famílias. O complexo inclui diversos tipos de restaurantes, spa, esportes aquáticos e atrações para todas as idades, incluindo animados shows noturnos.

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