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Viajante cego e viciado em esportes radicais já conheceu mais de 130 países

Cegueira e problemas de audição não impediram Tony de conhecer belezas do mundo, como este tempo religioso em Singapura - Arquivo pessoal
Cegueira e problemas de audição não impediram Tony de conhecer belezas do mundo, como este tempo religioso em Singapura
Imagem: Arquivo pessoal

Marcel Vincenti

Colaboração para Nossa

07/02/2022 04h00

O inglês Tony Giles (www.tonythetraveller.com) teve todas as razões para se encantar com o mundo das viagens desde sua primeira infância: seu pai trabalhou como marinheiro por muitos anos e, neste emprego, realizou grandes jornadas pelo planeta, navegando até distantes países como a Austrália.

Inspirado pelas histórias marítimas de seu progenitor e querendo seguir seus passos, Tony, porém, logo percebeu que não poderia viajar tão facilmente: ele nasceu com um problema de visão que, ao longo dos anos, o deixou completamente cego. E, ainda criança, recebeu o diagnóstico de que tinha uma grave deficiência auditiva.

Durante sua adolescência, entretanto, Tony conseguiu aprender a ser independente. Passou seis anos em uma escola para jovens cegos, onde aprendeu Braille e recebeu um intenso treinamento de mobilidade, inclusive para transitar sozinho por cidades.

Logo depois, entrei na universidade e, entre 2001 e 2002, resolvi realizar uma grande viagem. Parti sozinho para um mochilão que, durante cinco meses, passou por Austrália, Nova Zelândia e Sudeste Asiático".

Passeio de barco na Indonésia - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Tony passeia de barco na Indonésia
Imagem: Arquivo pessoal

Ele conta que foi ótimo começar a viajar sozinho pela Oceania, onde há países que também falam inglês e que oferecem cidades organizadas, de fácil mobilidade. "Mas, após deixar a Austrália e a Nova Zelândia, fui para o Vietnã e a Tailândia, que me deram um choque, com suas cidades cheias de buracos, esgoto ao céu aberto, calçadas quebradas e trânsito caótico", lembra.

Tony logo aprendeu técnicas de sobrevivência para explorar lugares desconhecidos, como começar a se hospedar em hostels, onde fazia amizade com outros mochileiros e com a equipe dos estabelecimentos, que o ajudavam a transitar pelos destinos que eu estava visitando.

Mas, mesmo assim, passei por situações complicadas. Nesta viagem pela Tailândia, por exemplo, quase caí no rio durante um passeio de barco por Bangkok. E, também em Bangkok, uma senhora gritou comigo dentro do ônibus, porque sentei, sem saber, no assento reservado aos monges".

Tony alimenta um elefante na Zâmbia - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Tony alimenta um elefante na Zâmbia
Imagem: Arquivo pessoal

E o inglês não parou mais de viajar: hoje com 43 anos, ele ainda pega constantemente a estrada e já pôde conhecer mais de 130 países.

Do Brasil ao Japão

Além de não enxergar, Tony precisa de aparelhos auditivos para conseguir escutar os sons do mundo. E, nas últimas décadas, aprendeu a explorar os destinos que visita com seu tato, paladar e a audição que consegue ter com a ajuda da tecnologia.

Amo visitar destinos históricos como as antigas cidades da Europa, nas quais posso tocar monumentos históricos com as mãos.

Tony gosta de conhecer monumentos através do tato - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Tony gosta de conhecer monumentos através do tato
Imagem: Arquivo pessoal

"Também gosto de passear por desertos como o Saara e sentir a areia voando com o vento e batendo no meu corpo. E nunca abro mão de participar de passeios com guias, para escutar suas explicações", diz ele.

Além disso, Tony conta que adora cidades com muita energia, como, por exemplo, Salvador e o Rio de Janeiro, onde diariamente escutava música saindo de algum lugar. "O Brasil, aliás, é um lugar incrível. É um país com ótima comida e onde você pode provar uma fruta diferente por dia", afirma.

Com sua capacidade cada vez mais desenvolvida para conhecer os lugares através de apuradas sensações, Tony conseguiu desbravar a fundo os mais diversos países, passando por locais como Japão, Canadá, Cuba, África do Sul, Egito, Venezuela, Singapura, Nicarágua e grande parte da Europa.

Gosto pelo desafio

Nestas jornadas, ele desenvolveu um gosto especial por atividades radicais. Até agora, foram 17 pulos de bungee jumping e três de paraquedas em três oportunidades.

Tony também já esquiou na água, fez rafting em rios perigosos e encarou um passeio de bugue com muita emoção no Rio Grande do Norte.

São atividades que me trazem muito prazer, como curtir a adrenalina de uma enorme queda no bungee jumping ou sentir meu corpo todo molhado após a travessia de um rio".

Tony em tirolesa na Colômbia - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Tony em tirolesa na Colômbia
Imagem: Arquivo pessoal

E perrengues, logicamente, já existiram. Na Zâmbia, quase se afogou ao cair na água num rafting pelo rio Zambezi. Por sorte, nada de grave aconteceu. "Foi uma experiência assustadora e, ao mesmo tempo, emocionante", relembra.

Em março deste ano, o britânico pretende visitar o Paquistão, um país com cidades frenéticas e paisagens repletas de natureza que promete ser uma grande experiência sensorial.

E a vida de viajante de Tony parece estar longe do fim: "meu objetivo é conhecer todos os países do mundo", afirma.