Topo

MMA


UFC: Brasileiro que disputa cinturão venceu alcoolismo e usa nome indígena

Alex Poatan sobe na balança na pesagem cerimonial para a luta principal do UFC 281 contra Israel Adesanya - Jeff Bottari/Zuffa LLC
Alex Poatan sobe na balança na pesagem cerimonial para a luta principal do UFC 281 contra Israel Adesanya
Imagem: Jeff Bottari/Zuffa LLC

Do UOL, em São Paulo

12/11/2022 04h00

Alexsandro Pereira não cresceu no luxo e começou a trabalhar cedo, aos 12 anos. Atuou como servente de pedreiro e engraxate, mas foi no emprego como borracheiro em um bairro pobre de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, onde nasceu, que ganhou responsabilidades de adulto ainda na adolescência. Entre um expediente e outro, e com uma rotina definida e confortável, ele conheceu a bebida e começou a gastar parte do que ganhava com álcool.

Já com 22 anos, Alex percebeu que havia aumentado o consumo de bebidas alcoólicas e resolveu parar. As tentativas, frustradas, serviram para o paulista procurar alternativas. Em 2009, ele começou a lutar kickboxing, viu que tinha talento para a arte marcial e aos poucos foi esquecendo a bebida. A ascensão o levou ao MMA e o transformou em Alex Poatan. Com o apelido consolidado, chegou ao UFC e agora é candidato a ídolo nacional na disputa do cinturão dos médios (84 kg), contra seu rival histórico Israel Adesanya. A luta acontece na noite de hoje (12), em Nova York (EUA).

"Trabalhava em uma borracharia desde os 12 anos. Comecei a beber e foi só aumentando o grau desse vício. Teve um momento que pensei: 'quero parar'. Tentei sozinho, parei por uns dois meses, mas voltava. Depois três meses, voltava. O máximo que consegui foi ficar seis meses [sem beber], mas voltei daquele jeito", contou o lutador em entrevista ao UOL Esporte.

"Foi quando procurei o esporte. Mesmo entrando para o esporte, o kickboxing especificamente, demorou quatro anos para conseguir parar de beber. Então foram literalmente duas lutas: a porradaria e a luta para sair desse vício. Hoje, faz quase 10 anos que não bebo absolutamente nada", afirmou Poatan.

O lutador, que rapidamente se tornou campeão no kickboxing, não começou a beber por algum trauma ou problema pessoal. Ele simplesmente foi apresentado às bebidas alcoólicas e gostou.

Gostava de beber e bebia. Mas nunca aconteceu nada [um trauma]. Conheci cedo, gostei e estava confortável para mim. Bebia todos os dias. Só não bebia quando estava doente e precisava tomar remédio. Graças a Deus eu pude superar"
ALEX POATAN

Livre do vício, Poatan conta a história de superação que o levou ao octógono mais famoso do mundo e sabe: o relato contra o alcoolismo pode ajudar outros dependentes.

Apelido tem origem indígena

Lutador do UFC Alex Poatan tem origem indígena - Reprodução - Reprodução
Alex Pereira ganhou apelido de Poatan, palavra indígena
Imagem: Reprodução

Alex Pereira rapidamente se transformou em Alex Poatan no mundo da luta. O sobrenome quase não é usado nos eventos esportivos. Já o apelido se consolidou e marca a origem do atleta.

A alcunha Poatan foi dada a Alex por Belocqua Wera, primeiro treinador do paulista no kickboxing. Além de batizar o aluno, o mestre foi o responsável por descobrir a ancestralidade indígena.

"Ele [Belocqua] sempre gostou da cultura indígena, se não me engano os pais dele eram indígenas. Ele sempre quis carregar isso [na carreira], mas já era treinador, para ele ficaria mais difícil mostrar, resgatar essa cultura. Como eu estava começando, ele perguntou: 'Você não tem nenhum familiar que é indígena, seus pais nunca falaram alguma coisa?'. Eu cheguei em casa, perguntei e descobri que meus avós eram indígenas, mas minha família não tinha muita informação", revelou Poatan.

Quando falei para ele [Belocqua], ele ficou super alegre e disse: 'Sua força, sua aparência, tudo indicava que tinha algo ligado à cultura indígena. Até o momento eu nunca tinha tido acesso a nada neste sentido. Fomos trabalhando em cima disso e ele deu esse apelido: Poatan. Seria mão forte, eu explico assim para todo mundo. São dois nomes: Po atan".

O significado transformou o lutador, que tatuou pedras na mão esquerda para representar a história.

"Algumas pessoas falam mão de pedra, eu tatuei na minha mão inclusive. Poderia ser mão de ferro, mas eu acho que a pedra está mais ligada à cultura indígena. Foi mais ou menos dessa forma."

Poatan dá 'energia' no ringue

Atualmente morando nos Estados Unidos, Poatan treina na academia do compatriota e ex-campeão Glover Teixeira, onde aperfeiçoa as técnicas que o levaram ao patamar em que está. No entanto, Alex ressalta também como o apelido sempre ajudou a aumentar sua motivação.

De acordo com o atleta, os gritos de Poatan sempre deram um gás a mais em cima de um ringue ou octógono.

"Sempre carreguei o nome depois que comecei a usar. Mas eu digo mais por sentir uma energia. Quando eu estava no ringue, ele [o técnico Belocqua] e outras pessoas sabiam que isso me empolgava e começavam a gritar 'Poatan, Poatan'. Isso me instigava, me dava um gás. Mas não visando marca [marketing], nada", disse.

Antes do UFC, brasileiro venceu Adesanya duas vezes

As primeiras conquistas de Alex Poatan no mundo da luta vieram no WGP, evento de kickboxing nacional. Campeão brasileiro na arte marcial, ele começou a se aventurar no MMA.

Em 2016, começou a escrever a história que o traz para a luta deste sábado, que ele classifica como a "mais importante da carreira". Em abril daquele ano, ele enfrentou pela primeira vez Israel Adesanya no Glory of Heroes 1. O brasileiro venceu na decisão.

Cerca de um ano depois, Poatan e o nigeriano voltaram a duelar, desta vez em São Paulo, no Glory of Heroes 15. O paulista perdia o combate, mas conseguiu a reação e nocauteou Adesanya no terceiro round.

Hoje considerado um dos principais lutadores do UFC, o nigeriano tem 12 vitórias em 12 combates pelo peso-médio e faz a sexta defesa do título da divisão. Em 23 lutas no MMA, Adesanya só perdeu quando deixou sua divisão de peso para tentar conquistar o cinturão meio-pesado de Jan Blachowicz e foi superado em decisão unânime dos juízes.

Já o brasileiro tem carreira mais curta no Ultimate. Venceu três lutas, duas por nocaute, e se credenciou para a disputa do cinturão justamente por ter vencido o rival duas vezes no kickboxing.

Retrospecto pode ajudar no 'jogo mental'?

Israel Adesanya, lutador do UFC - Jeff Bottari/Zuffa LLC - Jeff Bottari/Zuffa LLC
Israel Adesanya é um dos principais lutadores do UFC na atualidade
Imagem: Jeff Bottari/Zuffa LLC

Até que ponto um retrospecto favorável pode ajudar em uma luta valendo o cinturão do UFC? Questionado, Poatan de cara falou que as duas vitórias não entravam no octógono.

"Estou esquecendo essas duas lutas que fiz com ele, porque se eu confiar nessas lutas e chegar na hora e ficar parado, não consigo ganhar dele. Nós tivemos grandes evoluções neste período. É colocar tudo isso em prática que vai certo, estou muito bem nos meus treinos, confiante, empolgado para a luta", disse.

Em seguida, porém, ele admitiu. Em um duelo por título, em que a força mental é colocada à prova, ele pode ter vantagem.

"No jogo mental, sim [ajuda ter duas vitórias]. A forma como foi a segunda luta. Eu conectando os golpes [neste sábado], ele sentindo, vai sentir o receio. Ele não vai parar, mas vai procurar outra forma para me segurar, pode fugir da estratégia da sua equipe. Para mim é muito bom, pode ser um passinho na frente se eu souber utilizar isso", concluiu o lutador.

UFC 281: Adesanya x Alex Poatan

Data: sábado, 12 de novembro de 2022
Horário: às 20h (de Brasília); card principal previsto para 0h
Local: Madison Square Garden, em Nova York (EUA)
Transmissão: Canal Combate

CARD PRINCIPAL
Israel Adesanya x Alex Poatan
Carla Esparza x Zhang Weili
Dustin Poirier x Michael Chandler
Frankie Edgar x Chris Gutierrez
Dan Hooker x Claudio Puelle

CARD PRELIMINAR
Brad Riddell x Renato Moicano
Dominick Reyes x Ryan Spann
Erin Blanchfield x Molly McCann
Andre Petroski x Wellington Turman
Matt Frevola x Ottman Azaitar
Karolina Kowalkiewicz x Silvana Gomez Juarez
Michael Trizano x Seung Woo Choi
Julio Arce x Montel Jackson
Carlos Ulberg x Nicolae Negumereanu