Campeão! (Com a seleção)

Messi leva Argentina ao título da Copa América e conquista glória que faltava na carreira

Marinho Saldanha Do UOL, em Brasília (DF) Carl de Souza/AFP

Lionel Messi já tinha sido eleito melhor do mundo seis vezes. É um dos maiores artilheiros da história, não importando os critérios de computação. Ele já foi campeão de tudo que um jogador pode conquistar. Pelo Barcelona, no caso. Em um currículo interminável de façanhas, só faltava um tópico relevante: um título pela seleção argentina. Hoje (10), depois da vitória sobre a seleção brasileira no Maracanã por 1 a 0, não falta mais.

O Maracanã talvez não pudesse ser palco melhor, a essa altura, considerando a frustração que o craque teve de aturar há sete anos, com a derrota na prorrogação para a Alemanha no mesmo local, pela final da Copa do Mundo. É algo que ele nunca vai apagar da memória. Agora, ainda que não seja o Mundial, a Copa América já pode bastar como justiça. Ainda mais depois de um jejum de 28 anos sem título para uma fábrica de talentos como a seleção argentina.

Estamos falando de um jogador que já foi muito cobrado por, supostamente, "não ser o mesmo" quando veste o azul e branco da seleção em comparação ao azul e grená do Barça. Ou que "não tinha a essência do futebol argentino", por ter saído muito jovem de seu país.

A cena de todos os jogadores argentinos correndo em direção a Messi assim que o árbitro deu o último apito foi emblemática.

Messi não só foi regente do time com a técnica, a habilidade, a categoria que lhe rende o apelido de "ET". Mas com algo que os "hermanos" valorizam tanto: a liderança. Aos gritos com companheiros ou rivais, sangrando, apanhando, sofrendo, essa foi a Copa América de Messi, e a taça não poderia ser erguida por outra pessoa.

Quis o destino que na primeira competição após a morte de Maradona, um gênio com a camisa 10 tiraria a Argentina de um jejum de títulos.

Carl de Souza/AFP
Buda Mendes/Getty Images

Cicatrizes e bênção de Maradona

Messi nunca tinha conquistado um título pela seleção principal. Até agora, suas glórias não passavam de um Mundial Sub-20 e de uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 2008. Pouco para um dos maiores da histórias e que ainda joga tanto.

Sobravam razões para ele dar tudo nesta edição da Copa América. Foram tantas desilusões, que a "fome" poderia ter sido muito bem esquecida. Mas, Messi não virou as costas para sua seleção.

Decepções? Vamos lá: ele estava em campo quando a Argentina levou 3 a 0 do Brasil na decisão da Copa América em 2007. Não conseguiu evitar o empate em 0 a 0 que levou a decisão para os pênaltis em 2015 e 2016, e nas duas vezes o título ficou com Chile. Isso depois de carregar o peso de ter perdido a Copa de 2014, para Alemanha, quando estava possivelmente no auge.

Foi como se, na primeira Copa depois da morte de Maradona, um pouco do sentimento que Don Diego tinha pela 10 da seleção residisse naquele fardamento. E Messi assimilou. Não apenas na habilidade, mas no perfil de líder, de luta, de regente dentro e fora de campo. Messi não foi o jogador calado que costuma ser. Falou o jogo todo, em todos os jogos e até provocou adversários em voz alta. Teve, enfim, ao seu modo, a jornada de Maradona que os argentinos sempre esperavam.

Seguimos toda liderança do Messi. Hoje vimos novamente como ele faz a diferença, e todos tentamos acompanhá-lo. É um líder, um ídolo. Estamos muito felizes por tudo que ele significa."

Lautaro Martínez, atacante da Inter-ITA e da seleção argentina

O melhor que pode acontecer para um amante do futebol é poder desfrutar de ver Messi. Desejo que ele possa jogar por muitos anos ainda, até os adversários desfrutam de enfrentar ele."

Lionel Scaloni, técnico da Argentina

Sempre digo que os prêmios individuais são secundários, estamos aqui por outra coisa. Quero elogiar o grupo de trabalho por tudo que está fazendo. Temos um objetivo e só pensamos nisso."

Lionel Messi, mero jogador da Argentina

Phil O'Brien/EMPICS via Getty Images

Fim de jejum de 28 anos

A Argentina voltou a vencer. E fazia tempo. Com o título da Copa América conquistado contra o Brasil, os "hermanos" quebram um jejum de 28 anos sem nova taça no armário.

Desde a Copa América de 1993 que outra glória não aparecia pelo caminho da seleção. Dos 28 jogadores convocados para a disputa, 19 nem eram nascidos no último título argentino antes deste. Foram, desde então, dez edições da competição, com cinco títulos do Brasil, dois do Uruguai, dois do Chile e um da Colômbia.

De quebra a Argentina iguala o Uruguai como maior vencedor histórico do torneio, com 15 taças no total.

Alexandre Schneider/Getty Images

Tornozelo sangrando, provocação a Mina

A trajetória de Messi na Copa América foi além do campo. Não restaram somente dribles, gols e assistências para serem lembrados. Ainda que muitos possam ser.

A semifinal contra a Colômbia marcou a caminhada do craque na competição. No início do segundo tempo, após uma entrada de Frank Fabra, o tornozelo esquerdo do camisa 10 teve um corte. Ele ficou um tempo fora do jogo, os médicos argentinos fizeram um curativo, mas Messi se negou a sair definitivamente. Permaneceu, sangrando, e ainda acertou a trave pouco antes do fim da partida. Nos pênaltis, marcou a sua cobrança, superando as dores naturais da lesão.

As penalidades, por sinal, mostraram uma nova faceta de quem sempre se caracterizou por ser um jogador "frio". Um Messi sanguíneo e provocador ganhou forma no pênalti desperdiçado pelo zagueiro Yerry Mina. Ao se lembrar da dancinha feita pelo ex-palmeirense quando marcou nas quartas de final contra o Uruguai, aos berros, Lionel disse: "Dança agora! Dança agora!".

Ali ficou ainda mais evidente a liderança que ele assumiu no grupo.

Alexandre Schneider/Getty Images Alexandre Schneider/Getty Images
Reprodução/Instagram

"Messimania" no Brasil

Até mesmo a rivalidade Brasil x Argentina fica abalada quando o assunto é Messi. A passagem do craque pelo Brasil nesta Copa América prova isso. Independentemente das restrições impostas pela pandemia de novo coronavírus, sobraram torcedores fazendo de tudo para ganhar atenção do astro.

Seja o pai que batizou o filho de Lionel Messi em Goiânia, os torcedores que se hospedaram no hotel que recebeu a Argentina em Cuiabá, o jovem que ganhou autógrafo que virou tatuagem nas costas ou o menino que incomodou os demais jogadores argentinos com uma buzina — do Brasil — só para tentar ver o ídolo em Brasília. Messi rompe qualquer disputa.

Por isso não era raro nem estranho ver, a cada chegada da delegação, partida, ou mesmo momentos em que aparentemente não havia nenhuma chance de contato, torcedores por volta dos locais pelos quais Messi passaria. E o mais comum eram brasileiros dispostos a torcer, sem sombra de dúvida, para quem seria a maior arma do tradicional rival.

"Messimanícos"

  • Tatugem autografada

    Em Brasília, Messi conheceu Igor Magalhães, que tem as costas totalmente tatuadas com imagem do craque. Impactado, o jogador quebrou protocolo e autografou a arte, que também virou tatuagem.

    Imagem: Reprodução/Instagram
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  • Lionel Messi de Goiânia

    Em Goiânia, Messi foi esperado por Wolney Ciqueira, que batizou o filho de Lionel Messi, em homenagem ao camisa 10. O pai carregava o pequeno e a certidão de nascimento nos braços.

    Imagem: Eder Traskini/UOL
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  • 'Messimania' em Cuiabá

    Em Cuiabá, o hotel que serviu de concentração para Argentina lucrou com a 'Messimania'. Houve quem se hospedou só para ficar mais perto do astro argentino.

    Imagem: Bruno Braz / UOL Esporte
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  • Melhor que Neymar

    Ilir Prendi fez um cartaz em inglês, por ser língua universal, e esperou Messi na chegada argentina a Brasília. O fã prefere o argentino a Neymar e torcia pelo título

    Imagem: Marinho Saldanha/UOL
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  • Buzina, carta e apito

    Antes da semifinal, a chegada argentina já movimentava muita gente. Entre eles, Tiago Rivera, que usou uma buzina (do Brasil) e um apito, além de uma carta para atrair Messi.

    Imagem: Marinho Saldanha/UOL
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Mauro Pimentel/AFP

Último ato: final entre amigos

Neymar já tinha derramado as lágrimas da decepção quando atravessou o gramado do Maracanã e deu um longo abraço em Messi. A cena deu o tom exato da relação entre os dois e de como ambos os lados se tratam com respeito e afeto.

Parceiros em um dos maiores ataques da história — a formação do MSN no Barcelona — Messi e Neymar voltaram a se encontrar em uma final pela primeira vez desde o Santos x Barcelona do Mundial de Clubes em 2011 (uma goleada por 4 a 0). Neymar torceu por Messi na semifinal. Disse que queria enfrentá-lo. Mas, novamente, o argentino levou a melhor.

No jogo derradeiro da campanha do primeiro título com a seleção argentina, Messi passou em branco. Teve uma oportunidade claríssima já no segundo tempo, quando o Brasil já estava desesperado atrás do empate. Frente a frente com Ederson, poderia ter optado pela clássica cavadinha para encobrir o goleiro. Poderia ter batido no canto, sem nem pensar direito, como já fizera inúmeras vezes na carreira. Mas a tentativa de drible — atributo que o craque domina com destreza ímpar — culminou com um raríssimo escorregão. O gol na final não veio.

Mas não fez falta. A confirmação do título veio com a reverência de todos os companheiros, que imediatamente correram para abraçá-lo assim que o árbitro encerrou a partida. A Neymar, curiosamente, o abraço foi a resposta que restou.

A trajetória da Argentina antes da final: sem brilho, mas o que vale é o título

  • Argentina 1 x 1 Chile

    Messi marcou um golaço de falta, mas foi insuficiente para seleção argentina. No segundo tempo, o time de Scaloni mostrou fragilidades e acabou cedendo empate para o Chile.

    Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF
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  • Argentina 1 x 0 Uruguai

    Sem brilhar, a Argentina bateu o Uruguai com gol após cobrança de escanteio. Messi deu assistência. A equipe conseguiu, ao menos, resolver seus problemas defensivos.

    Imagem: Alexandre Schneider/Getty Images
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  • Argentina 1 x 0 Paraguai

    Messi driblou, achou Di María que enfiou lindo passe para Papu Gómez marcar. Assim se definiu a vitória magra da Argentina contra o Paraguai.

    Imagem: REUTERS/Juan Ignacio Roncoroni
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  • Bolívia 1 x 4 Argentina

    Messi deu show, fez dois gols e deu uma assistência. Contra um adversário mais fraco, a Argentina desencantou e, finalmente, deu indícios de que era candidata ao título.

    Imagem: CHICO FERREIRA/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
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  • Argentina 3 x 0 Equador

    Novamente, Messi deu show. Com um gol de falta e duas assistências, o craque liderou a equipe às semifinais da Copa América, e com status renovado.

    Imagem: Heber Gomes/AGIF
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  • Argentina (3) 1 x 1 (2) Colômbia

    Com assistência de Messi para Lautaro, a Argentina pulou na frente. Mas sofreu o empate. A decisão acabou indo para os pênaltis, onde brilhou E. Martínez.

    Imagem: Pedro Vilela/Getty Images
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Getty Images Getty Images

Messi ou Cristiano Ronaldo?

  • Lionel Messi - 35 títulos

    Campeonatos nacionais (10) Copas nacionais (7) Supercopas nacionais (7) Liga dos Campeões (4) Supercopa Uefa (3) Mundial de Clubes (3) Copa América (1)

    Imagem: Gustavo Pagano/Getty Images
  • C. Ronaldo - 32 títulos

    Campeonatos nacionais (7) Copas nacionais (6) Supercopas nacionais (6) Liga dos Campeões (5) Supercopa Uefa (2) Mundial de Clubes (4) Eurocopa (1) Nations League (1)

    Imagem: Alex Pantling/Getty Images
Thiago Ribeiro/Thiago Ribeiro/AGIF

Despedida no Qatar?

O título acaba com a última —e única— vírgula possível de se fazer na carreira de Messi? Não totalmente. A Copa do Mundo é a glória máxima para um jogador, e ele ainda não tem. (A não ser que você considere a Liga dos Campeões o máximo, então... aí, tudo bem.)

Aos 34 anos, a vitória certamente motivará o astro a buscar o último passo rumo ao topo: a conquista do Mundial. A competição no Qatar, em 2022, pode significar a despedida da seleção, com ou sem taça.

Mas quem duvida de Messi? Quem poderia afirmar que ele não conseguirá tal feito? Ainda mais agora, com uma nova versão, integrando a qualidade que sempre teve com o espírito copeiro da Argentina. E com a segurança que lhe confere o primeiro título.

Poderia parecer loucura alguém esperar mais de Messi. Com tudo que ele já tinha feito, nesta Copa América fez ainda mais. Portanto, o que está por vir é imprevisível. A única certeza é que parece não haver limites para a camisa 10 da Argentina.

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