Madri viveu dias de enorme expectativa em junho de 1959.
Era a primeira vez que o público do país poderia ver de perto a um tal Pelé, campeão mundial pela seleção brasileira no ano anterior, empilhador de recordes no outro continente com só 18 anos. Além disso, seria numa partida contra o Real Madrid, tetracampeão europeu com Di Stéfano fazendo chover. Os reis do mundo.
O Santos impôs rígida concentração a seus jogadores e solicitou até a escalação de um árbitro neutro. Sabia o peso do jogo. O Real Madrid preparou o que tinha de melhor poucas semanas depois de conquistar a Europa pela quarta vez. Estavam em campo Gento, Puskas e o próprio Di Stéfano. Os espanhóis também sabiam o peso desse confronto e a mídia local não parava de reforçar: seria a passagem de coroa e cetro?
Em campo, diante de 70 mil torcedores no estádio Santiago Bernabéu, Pelé acertou um chutaço de fora da área logo aos dez minutos para abrir o placar a favor do Santos. O Real reagiu de forma avassaladora, com três gols de Mateos com participações de Di Stéfano. No segundo tempo, Pepe diminuiu num pênalti sofrido por Pelé, o Real fez outro com Puskas, Coutinho recolocou o Santos no jogo, mas Gento fechou o placar em 5 a 3. Um jogaço, de tirar o fôlego.
Mais de 60 anos depois, o único encontro entre Pelé e Di Stéfano é parte da história do futebol, mas desconsiderado por muitos nas estatísticas de jogos e gols "oficiais" do brasileiro por não ter valido pontos em uma competição.
A discussão de gols "oficiais" do Rei do Futebol voltou à tona nas últimas semanas. É que Messi ultrapassou Pelé em gols por competição marcados por um único clube, enquanto Cristiano Ronaldo está próximo de ultrapassar o brasileiro em gols totais por competição. É como se esse gol contra o Real Madrid em Santiago Bernabéu, com súmula, arbitragem, regras da época e times uniformizados, não valesse o mesmo por estar fora da régua do que "vale pontos".
É como se mais de 40% dos gols de Pelé não tivessem que ser levados em conta.