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Top 10 momentos marcantes das Olimpíadas de Tóquio

Norte-americana Simone Biles decidiu não participar da maioria das competições para cuidar de sua saúde mental - Mustafa Yalcin/Anadolu Agency via Getty Images
Norte-americana Simone Biles decidiu não participar da maioria das competições para cuidar de sua saúde mental Imagem: Mustafa Yalcin/Anadolu Agency via Getty Images

Alexandre Cossenza e Bruno Braz

Do UOL, em São Paulo e no Rio de Janeiro

09/08/2021 04h00

Sorrisos, lágrimas, recordes, frustrações, problemas pessoais, conquistas LGBTQIA+, polêmicas... Mesmo diante de todos os obstáculos ocasionados pela pandemia do coronavírus, as Olimpíadas de Tóquio levaram aos amantes do esporte um misto de emoções, que já deixam um ar de saudade a quem acompanhou os 18 dias de evento na capital do Japão. Para reviver estes sentimentos, o UOL Esporte trouxe abaixo dez momentos marcantes e que já entraram para a história dos Jogos. Confira:

O drama de Simone Biles na ginástica

Simone Biles - Laurence Griffiths / Equipa - Laurence Griffiths / Equipa
Imagem: Laurence Griffiths / Equipa

Apontada como a principal atleta das Olimpíadas de Tóquio e com uma expectativa de conquistar até seis medalhas de ouro, a ginasta Simone Biles trouxe os holofotes para uma questão que humanizou a estrela e que abrange toda a população mundial: a saúde mental. Após ter uma apresentação aquém do esperado no salto por equipes que rendeu uma prata para os Estados Unidos, a norte-americana surpreendeu a todos ao comunicar que não disputaria mais as finais individuais para se preservar e reconectar corpo e mente.

A decisão contou com o irrestrito apoio da federação de ginástica norte-americana e também do comitê olímpico do país. Biles, então, acompanhou todas as provas em que era favorita da arquibancada da Arena Ariake, passando apoio às suas compatriotas e também à brasileira Rebeca Andrade, que faturou um ouro no salto e uma prata no individual geral. O retorno da estrela só aconteceu na última disputa, a trave, onde fez uma apresentação mais simples e conquistou o bronze, sendo aplaudida de pé por todos os presentes no ginásio.

Jogos em meio à covid-19: ginásios vazios e atletas contaminados

Brasil contou com torcida formada por atletas: nadadora Ana Marcela esteve presente (cabelo verde) - Julio César Guimarães/COB - Julio César Guimarães/COB
Imagem: Julio César Guimarães/COB

Adiada em um ano por causa da pandemia do coronavírus, as Olimpíadas de Tóquio foram marcadas pelo ineditismo dos ginásios vazios e também pela contaminação de alguns atletas, integrantes de delegações e funcionários envolvidos diretamente na organização dos Jogos.

Até pouco tempo antes do início do evento, ainda discutia-se a possibilidade de se ter público, porém, ele acabou acontecendo, de fato, com os portões fechados. A "torcida" nos locais das provas acabou se resumindo aos membros credenciados dos países, que chegaram a fazer certo barulho, principalmente os brasileiros.

Em relação às contaminações ligadas diretamente ou indiretamente às Olimpíadas, os números —segundo a organização— passavam dos 380 casos de 1º de julho até 6 de agosto, data de fechamento desta reportagem. Destes, mais de 200 eram de pessoas contratadas para trabalhar nos Jogos.

Entre os casos mais famosos relacionados a atletas está o do americano Sam Kendricks, bicampeão mundial do salto com vara e rival direto do brasileiro Thiago Braz. Ele acabou impedido de competir no Japão.

Polêmicas de arbitragem com Medina e Maria Portela

Gabriel Medina em Tóquio 2020 - AMP decepções - Reuters - Reuters
Imagem: Reuters

O bordão criado pela TV Globo para as Olimpíadas de Tóquio dizia que os Jogos despertavam "o melhor de nós". Porém, a mensagem foi difícil de ser seguida à risca por alguns telespectadores quando eles se depararam com as disputas no surfe e no judô, uma vez que as participações do surfista Gabriel Medina e da judoca Maria Portela foram cercadas de polêmicas de arbitragem que geraram bastante revolta entre os brasileiros.

Medina brigava por uma vaga na final contra o japonês Kanoa Igarashi e, tanto aos olhos dos leigos quanto dos especialistas, realizou manobras melhores que seu adversário. Porém, os juízes não enxergaram dessa forma e deram uma melhor pontuação ao anfitrião, levando as redes sociais à loucura. Em seu desembarque no Brasil, o surfista deixou claro também que não concordou com a avaliação.

No caso de Maria Portela, ela enfrentou a russa Madina Taimazova nas oitavas de final e a luta foi para o golden score, onde quem pontuasse primeiro se classificaria. A brasileira aplicou um golpe com suspeita de wazari, mas após consulta ao VAR, a arbitragem não o validou. Para completar, o árbitro aplicou uma terceira punição (shido) na judoca e a eliminou, levando-a aos prantos e gerando muita revolta entre os brasileiros e a comunidade do judô.

Laurel Hubbard, a 1ª mulher trans em uma Olimpíada

Laurel Hubbard na tentativa de levantar 125kg - REUTERS/Edgard Garrido - REUTERS/Edgard Garrido
Imagem: REUTERS/Edgard Garrido

As Olimpíadas de Tóquio entraram para a história por terem a primeira mulher transgênero disputando os Jogos. Trata-se da levantadora de peso neozelandesa Laurel Hubbard, de 43 anos, que ficou longe do pódio e não avançou para a segunda fase ao não conseguir levantar 120kg e 125kg no arranco. Após a disputa, ela anunciou sua aposentadoria.

Hubbard —que chegou ao Japão como sétima colocada no ranking mundial— é elegível para competir nas Olimpíadas desde 2015, quando o COI emitiu novas diretrizes permitindo a qualquer atleta transgênero a competir como mulher, desde que seus níveis de testosterona estejam abaixo de 10 nanomoles por litro por pelo menos 12 meses antes de sua primeira competição.

"A idade me alcançou. Na verdade, para ser honesta, provavelmente já me alcançou há muito tempo", declarou em seu comunicado de despedida do esporte.

A neozelandesa ganhou uma medalha de prata no Mundial de 2017.

Os talentos mirins do skate

Rayssa Leal, a skatista brasileira ganhadora da medalha de Prata Em Tóquio aos 13 anos de idade. Foto: Wander Roberto/COB - Reprodução / Internet - Reprodução / Internet
Imagem: Reprodução / Internet

Em sua primeira participação na história das Olimpíadas, o skate conquistou a todos com o espírito infantil das talentosas Kokona Hiraki, do Japão, Sky Brown, da Grã-Bretanha, e Rayssa Leal, do Brasil.

A japonesa e a britânica, por exemplo, se tornaram as mais jovens medalhistas olímpicas em 85 anos com seus 12 e 13 anos, respectivamente. Hiraki levou a prata no skate park e Brown conquistou o bronze na mesma modalidade. Já a brasileira Rayssa, de 13 anos, garantiu a prata no skate street na semana anterior.

A modalidade street, aliás, tornou-se a que teve a menor média de idade da história das Olimpíadas, com 14 anos. Diferentemente de outras modalidades que também têm competidores jovens, caso da ginástica, o skate não estabelece idade mínima para que um atleta dispute os Jogos Olímpicos. As idades mínimas para elegibilidade olímpica são estabelecidas pela federação internacional de cada esporte e, no caso do skate, existe a possibilidade de que isso seja imposto em breve.

Djokovic "pistola" e sem medalha

 top 10 momentos marcantes djokovic - AFP - AFP
Imagem: AFP

No tênis, Novak Djokovic chegou com o sonho de alcançar um feito inédito, mas acabou decepcionando —em mais de uma maneira. O atual número 1 do mundo, que nesta temporada já venceu o Australian Open, Roland Garros e Wimbledon, tinha a chance de se tornar o primeiro homem da história a completar o Golden Slam, feito em que um tenista vence os quatro torneios do Grand Slam além da medalha de ouro olímpica em simples. Favoritíssimo ao ouro, o sérvio deixou a desejar na semifinal e acabou eliminado pelo alemão Alexander Zverev. Depois de quatro atuações impecáveis, Nole jogou seu pior tênis justamente na primeira partida em que foi ameaçado.

Sem a chance do Golden Slam, Djokovic ainda podia conquistar o bronze nas simples e nas duplas mistas, e foi aí que sua aventura olímpica tomou contornos de fiasco. Nas simples, atirou uma raquete na direção da arquibancada e destruiu outra junto ao poste da rede durante a derrota para o espanhol Pablo Carreño Busta. Em seguida, o que restava de espírito olímpico esgotou quando o sérvio alegou uma lesão para nem entrar em quadra nas duplas mistas, deixando sua parceira, Nina Stojanovic, sem chance de brigar por um lugar no pódio.

Ouro dividido no salto em altura

top 10 momentos marcantes tamberi - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

O que faltou a Djokovic sobrou para Mutaz Essa Barshim e Gianmarco Tamberi, do salto em altura. Os dois atletas saltaram 2,37m sem cometer nenhum erro, mas quando o sarrafo subiu para 2,39m, ambos falharam em suas três tentativas. Um oficial da competição perguntou se catari e italiano, os únicos na briga pelo ouro, gostariam de decidir a medalha em um "jump-off", desempate em que vence o primeiro a saltar a próxima altura, mas com apenas uma tentativa por vez para cada competidor.

Foi aí que Barshim perguntou: "Podemos ficar com dois ouros?" Quando o oficial acenou positivamente com a cabeça, Tamberi saltou no colo do catari, e os dois comemoraram a decisão. Os saltadores, que são amigos e treinam juntos, dividiram o degrau mais alto do pódio. "Eu olho para ele, ele olha para mim, e nós sabemos. Olhamos um para o outro e sabemos que é aquilo, está resolvido. Não há necessidade [de desempate]", disse Barshim à Reuters.

As nuances da Jamaica no atletismo

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Imagem: Reuters

Na primeira edição dos Jogos Olímpicos depois da aposentadoria de Usain Bolt, a Jamaica não teve representante na final dos 100m rasos —algo que não acontecia há 21 anos. Os dois jamaicanos inscritos na prova em Tóquio, Yohan Blake e Oblique Seville, não passaram das semifinais. Blake, que era considerado o herdeiro de Bolt e tem o segundo melhor tempo da história nos 100m (9s69), fez 10s14 em sua semifinal no Japão e ficou em sexto; Seville fez 10s09 e ficou em quarto na sua série. Tyquendo Tracey, que é o atual campeão jamaicano, desistiu de competir por causa de uma lesão antes das eliminatórias.

No feminino, a história foi bem diferente: a Jamaica varreu a prova e dominou o pódio, repetindo o feito do país em Pequim-2008. Elaine Thompson Herah conquistou seu segundo ouro consecutivo (também venceu no Rio, em 2016) e quebrou um recorde olímpico que durava desde Seul-1988, quando Florence Griffith Joyner correu os 100m em 10s62. A jamaicana fez 10s61, sua nova melhor marca pessoal. A prata também foi histórica: Shelly-Ann Fraser-Pryce (10s74) se tornou a primeira atleta a conquistar quatro medalhas olímpicas nos 100m. Shericka Jackson (10s76), também da Jamaica, completou o pódio e conquistou o bronze.

Cavalo "fujão" e outro sacrificado no hipismo

 top 10 momentos marcantes jet set cavalo - Behrouz Mehri/AFP - Behrouz Mehri/AFP
Imagem: Behrouz Mehri/AFP

No hipismo, uma cena curiosa e outra nada feliz. No Cross Country, a amazona sueca Therese Viklund caiu da égua Viscera, que saiu em disparada para fora do percurso. O conjunto foi eliminado, mas Viklund não sofreu lesões —sua queda foi amortecida pelo colete airbag. Viscera, de 13 anos, era uma das sensações dos Jogos. Há pouco mais de cinco anos, ela teve uveíte —doença nos olhos— e precisou ter seu olho esquerdo removido em 2018. Na época, a expectativa era de fim de carreira para Viscera no hipismo de alto nível, mas a égua se adaptou bem e voltou a competir como antes.

A segunda aconteceu no Concurso Completo de Equitação (CCE). O cavalo Jet Set, montado pelo suíço Robin Godel, teve de ser sacrificado depois de mancar no percurso do Sea Forest Cross Country Course. Uma ultrassonografia mostrou uma ruptura irreparável no membro inferior direito, logo acima do casco. O animal sofreu a lesão em um dos obstáculos aquáticos e, segundo a Federação Equestre Internacional (FEI), "por motivos humanos e com a concordância dos proprietários e do atleta, foi tomada a decisão de adormecer o cavalo" —adormecer é um verbo usado como referência ao sacrifício do animal.

Fim de uma era no basquete

 top 10 momentos marcantes gasol - Xinhua/Pan Yulong - Xinhua/Pan Yulong
Imagem: Xinhua/Pan Yulong

O torneio olímpico de basquete marcou o fim de uma era. Ou melhor, duas eras. Para a Espanha, a derrota para os Estados Unidos nas quartas de final significou o fim da carreira olímpica dos irmãos Pau e Marc Gasol. Pau, 41 anos, vestiu as cores do país desde 2001 e conquistou três medalhas. Prata em Pequim-2008 e Londres-2012 e bronze na Rio-2016. Marc, 36 anos, estreou pela seleção espanhola em 2006 e, além de duas pratas olímpicas, foi campeão mundial com a Espanha em 2006 —quando Pau foi o MVP— e 2019.

A Argentina, que também foi eliminada nas quartas, viu a despedida de Luis Scola, que defendia a seleção do país desde 1999. O atleta de 41 anos foi aplaudido de pé por todos no ginásio, inclusive jogadores e técnicos adversários em seu último jogo —a derrota para a Austrália por 97 a 59. Vestindo as cores do país, Scola foi campeão olímpico em Atenas-2004 e bronze em Pequim-2008. Com ele, a Argentina também foi vice-campeã nos Mundiais de 2002 e 2019.