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Comunidade LGBTQ+ alcança visibilidade sem precedentes em Tóquio-2020

Seiko Hashimoto, presidente do Comitê Organizador dos Jogos de Tóquio 2020, com máscara em referência à igualdade - REUTERS ORG XMIT: GDN
Seiko Hashimoto, presidente do Comitê Organizador dos Jogos de Tóquio 2020, com máscara em referência à igualdade Imagem: REUTERS ORG XMIT: GDN

AFP, em Tóquio

03/08/2021 12h51

Quando Tóquio sediou os Jogos Olímpicos em 1964, ser gay era um grande tabu no país. O contraste é total com as Olimpíadas 2020, que mostram uma diversidade sexual e de gênero sem precedentes na história do esporte.

Pelo menos 180 atletas que participam do evento são abertamente LGBTQ+, mais do que o triplo do número na Rio-2016, conforme apontado pelo portal 'Outsports', especializado em informações sobre pessoas LGBTQ+ no mundo dos esportes. E é um orgulho ser visto em Tóquio.

Na cerimônia de abertura, a polonesa Aleksandra Jarmolinska, do tiro esportivo, desfilou com uma máscara de arco-íris, que simboliza a comunidade LGBTQ+. Muito envolvida na defesa dos direitos da comunidade LGBT, a americana Raven Saunders comemorou sua medalha de prata no arremesso de peso, formando um X com os braços no pódio, em sinal de apoio aos oprimidos.

Do lado brasileiro, o ponteiro da seleção masculina de vôlei, Douglas Souza, é quem tem chamado a atenção. Ele, que se tornou o jogador de vôlei mais seguido do mundo, é um dos poucos atletas brasileiros que revelaram sua homossexualidade, em um país que tem tristes recordes de violência homofóbica.

Além de Douglas, Raven e Aleksandra, outros atletas ressaltaram a importância de estarem disputando uma Olimpíada. "Estou muito orgulhoso de dizer que sou um homem gay... E também um campeão olímpico! Quando eu era mais jovem, pensava que não iria conseguir nada por ser quem eu era", comentou o britânico Tom Daley, após sua medalha de ouro em Tóquio com Matty Lee na plataforma de 10 metros.

Essa também foi a primeira edição dos Jogos Olímpicos que contou com a presença de uma atleta transgênero, a halterofilista da Nova Zelândia Laurel Hubbard. Apesar de ter chegado bem classificada, Laurel não teve um bom desempenho e foi eliminada antes das finais do levantamento de peso. Gon Matsunaka, chefe da "Pride House" de Tóquio, um centro especializado em minorias sexuais que abriu suas portas em outubro de 2020, acredita que a neozelandesa sofreu pressão adicional, devido à atenção que recebeu.

"Atletas como ela não deveriam ter que ser corajosas só porque são transgêneros", disse Matsunaka à AFP, valorizando o gesto do coração que Laurel fez com os dedos na frente das câmeras no final de sua apresentação, que "pode ser interpretado como um sinal de apoio às pessoas trans".

O japonês Itsuo Masuda, de 73 anos, assistiu a edição de 1964 enquanto sofria de depressão e tinha ideias suicidas por não entender a própria sexualidade. Agora, Masuda está feliz por poder presenciar uma edição mais diversa, que traz esperança para a população LGBTQ+: "Temos um longo caminho a percorrer", completa ele.

Uma nova lei antidiscriminação não passou antes dos Jogos, devido à falta de consenso no Parlamento. Pela primeira vez, no entanto, um tribunal japonês decidiu em março deste ano que o não reconhecimento do casamento gay pelo país era inconstitucional. Masuda espera um dia ver atletas abertamente LGBT participarem dos Jogos e que não seja algo extraordinário: "Só temos que viver mais para ver isso".