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Biografia de Wanderlei Silva teve entrevistas por WhatsApp e ao vivo

Capa da biografia Wanderlei Silva Sem Coleira - Divulgação
Capa da biografia Wanderlei Silva Sem Coleira Imagem: Divulgação

Ana Flávia Oliveira

Do UOL

10/10/2020 04h00

Imagine escrever uma biografia de um grande ídolo do esporte com parte das entrevistas captadas por WhatsApp. Esse foi o desafio dos jornalistas Thiago Parijiani e Luis Henrique Gurian, que acabam de lançar "Wanderlei Silva Sem Coleira".

Como Wanderlei morou por quase dez anos (entre 2007 e 2016) nos Estados Unidos, os autores tiveram que ser criativos. "Começamos por telefone e WhatsApp e fizemos muitos áudios, não só com ele, mas com os outros entrevistados. Dessas 200 horas (de entrevistas), 150 horas são via Whatsapp e 50 in loco", conta Parijiani.

O jornalista, que é fã de Wanderlei, começou a reunir material sobre a vida e carreira dele em 2003. Mas o processo de captação de entrevistas só foi iniciado em 2015, com a adesão de Gurian ao projeto e a viagem dos dois a Curitiba para colher depoimentos de familiares e amigos.

A obra é como um grande quebra-cabeça, apresentando diversas faces do homem que ficou conhecido do público pela agressividade nos ringues. Revela um Wanderlei sensível, emotivo, inseguro com a própria imagem no espelho e que propositalmente nutria raiva dos adversários antes da luta para que pudesse nocauteá-los sem remorso. "A gente quis mostrar o lado humano, porque o lado lutador está no Youtube", diz Parijani.

Gurian ressalta que esse lado mais emotivo do Wanderlei é quase uma "herança genética". "A gente nota que é uma família de gente muito emotiva", diz o jornalista contrapondo o ser humano e o lutador, que costumava chutar a cabeça de adversários caídos no chão, quando a regra do MMA ainda permitia o golpe conhecido como tiro de meta.

"Ele desenvolve, não vou dizer um personagem, mas o lado lutador. Ele mostra toda essa força. Traz certamente tudo aquilo que ele tem desde a infância, as dificuldades todas pelas quais passou. Ele carrega para dentro do ringue e é o que faz com que a força física dele se transforme numa força mental muito grande".

A biografia passeia por fatos da infância e adolescência que ajudam a explicar como o menino de família humilde da periferia de Curitiba se transformou num dos maiores lutadores brasileiros da história. Revive, por exemplo, as dores da infância humilde, como as primeiras brigas de rua e o desejo infantil por ter um vídeo-game, sinal de status na década de 1980. E revela a alegria do homem ao ver a si próprio como personagem de jogos

Com riqueza de detalhes, desnuda a relação do ídolo com os familiares, e como os ensinamentos dos pais, dona Leopoldina e seu Holando (morto em 2012) estão presentes na vida do homem e do lutador.

A obra também não deixa de fora o lado que erra, assume os arrependimentos, revelando, por exemplo, que a mudança da família Silva para os Estados Unidos foi resultado de uma exigência da esposa Téa após descobri uma traição do marido.

"Quando você escreve sua biografia, é como quando você faz terapia, que você começa a contar e vai se conhecendo, vai vendo as suas reações em determinadas situações, as besteiras que você fez e o que você faria diferente", disse Wanderlei em entrevista ao UOL Esporte.

Os autores ainda passeiam pelo lado coach de Wanderlei Silva, fazendo a biografia parecer, por vezes, uma obra de auto-ajuda. "Você percebe que tem muita coisa que são dicas de verdadeiros coachs no Brasil. É um livro que vai mostrar que o personagem está num ponto diferenciado de independência econômica, onde apenas 3% dos seres humanos chegam, mas passou por situações adversas como qualquer um já passou ou está passando".

Em dos capítulos, Wanderlei dá "dicas para viver melhor". Entre os ensinamentos estão praticar gratidão, evitar pensamentos negativos, ser o seu maior motivador, não ser omisso e respeitar seu dinheiro.

Gostaria de deixar um legado de coragem para você que está desacreditado no trabalho ou na vida para não abaixar a cabeça diante das dificuldades. A valentia e a bravura que tive serve para qualquer um".

Trecho de "Wanderlei Silva Sem Coleira"

O livro tem o prefácio escrito por Royce Gracie e depoimentos de lutadores como Rodrigo Minotauro Nogueira, Cris Cyborg, Lyoto Mchidam Fabrício Verdum, Maurício Shogun Rua, e até mesmo de Chael Sonnen, com quem o Wanderlei teve uma briga durante a gravação do TUF (The Ultimate Fight Brasil) em 2014.

"Wanderlei Silva Sem Coleira" - BB Editora
Thiago Parijiani e Luis Henrique Gurian
168 páginas