Pioneiro no Corinthians, Disque-Marcelinho abriu chance de ídolo jogar no São Paulo; relembre
A Gaviões da Fiel, principal torcida organizada do Corinthians, lançou oficialmente na última quarta-feira o projeto de quitação da Neo Química Arena, com a disponibilização de um Pix para torcedores ajudarem o clube a liquidar a incômoda dívida de R$ 710 milhões com a Caixa Econômica Federal. Mas essa não foi a primeira vez que a torcida do Timão se mobilizou para ajudar o clube fora das quatro linhas.
O movimento de torcedores para quitar a Arena remete ao corintiano o ano de 1998, quando Marcelinho Carioca retornou ao clube após passagem de brilho entre 1994 e 1997, mas correu o risco de defender o rival São Paulo. Nesse meio-tempo, o ex-jogador decepcionou no Valencia, da Espanha, pelo qual disputou seis jogos e não anotou nenhum gol.
A contratação de Marcelinho por parte do Corinthians passou longe de ser do jeito tradicional, com negociação entre dois clubes ou diretamente com o atleta. Em janeiro de 1998, o retorno do ex-meia foi financiado pela Federação Paulista de Futebol (FPF), que topou desembolsar US$ 7 milhões para tirar Marcelinho da Espanha.
Eduardo José Farah, presidente da FPF na época, decidiu leiloar Marcelinho para Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo através do sistema Disque-0900. Ou seja, cada torcida tinha um determinado número para ligar, e o clube com mais ligações ficaria com o atleta em definitivo. A entidade que organiza o futebol paulista se colocou à disposição para pagar o salário de Marcelinho pelos primeiros seis meses.
Marcelinho Carioca tinha 27 anos na época do leilão
"Cada ligação custará R$ 3,00 e cinco automóveis serão sorteados entre os participantes, sendo um para cada torcida e o quinto automóvel entre os torcedores que votaram no time vencedor", informou o jornal A Gazeta Esportiva no dia 14 de janeiro daquele ano.
"O custo operacional gira em torno de 48,47% do total arrecadado. O que sobrar será da Federação até atingir os US$ 7 milhões; o restante será dividido entre os quatro grandes clubes" disse Farah ao anunciar o Disque-Marcelinho.
No dia 17 de janeiro, o Corinthians já liderava a primeira parcial para repatriar o ídolo, com 29,2% das ligações a seu favor, seguido por Santos (26,1%), São Paulo (25,2%) e Palmeiras (19,5%).
Identificado com o Timão, Carioca sofreu rejeição por parte das principais organizadas do trio de rivais. "Não queremos ele. Se algum associado pede a opinião da torcida, dizemos para ele ligar a favor do Santos, tirando ele do Corinthians. A torcida do Palmeiras não aceita o Marcelinho, porque a identidade dele é corintiana", disse Valdecir Marins da Silva, vice-presidente da TUP (Torcida Uniformizada do Palmeiras), ao jornal A Gazeta Esportiva.
"Somos contra o Marcelinho no São Paulo", revelou Rodrigo Brandamento, vice-presidente da Torcida Independente. "O disque 900 é uma brincadeira. Eu não vou ligar e sugiro que ninguém ligue", concordou Cosme Damião Freitas, representante da Torcida Jovem do Santos.
Posteriormente, na reta final do Disque-Marcelinho, os são-paulinos mudaram de ideia e acirraram a disputa para contratar o meia, ultrapassando os santistas na segunda colocação.
"Sem fazer uma campanha com nossos associados, nós já estamos bem cotados. Se nos empenharmos mais, acredito que nós temos chances de ultrapassar o Corinthians", discursou Rodrigo Brandamento.
Durante o período de ligações, mesmo com sua imagem ligada ao Corinthians, Marcelinho adotou postura neutra em suas manifestações. "Fiquei muito contente com o interesse dos quatro times e estou me preparando para dar o melhor ao vencedor", disse o craque ao jornal A Gazeta Esportiva.
No dia 26 de janeiro, após quase duas semanas de votação, o resultado final foi divulgado: Marcelinho retornou ao Corinthians, que teve a torcida mais engajada para que o negócio se concretizasse, com 62,5% das ligações, seguido de São Paulo (20,3%), Santos (9,5%), e Palmeiras (7,7%).
Marcelinho Carioca era conhecido domo Pé de Anjo
"O meu primeiro gol não importa se vai ser de placa ou contra quem. O certo é que vou correr para a Fiel", disse o ídolo em seu primeiro pronunciamento público depois do anúncio, no dia 27 de janeiro. Carioca foi apresentado junto a Gamarra e Vampeta, que também teriam passagens de sucesso vestindo a camisa alvinegra.
A reestreia de Marcelinho pelo Corinthians foi amarga, com derrota para o Vasco por 1 a 0 e eliminação no Torneio Rio-São Paulo de 1998. O clube atravessava momento conturbado, com salários atrasados e forte pressão em cima do técnico Vanderlei Luxemburgo.
No entanto, a equipe se recuperou do mau momento e, guiada pela genialidade de Marcelinho, acumulou conquistas importantes nos anos seguintes, como o bicampeonato brasileiro (1998 e 1999), o título paulista (1999) e o Campeonato Mundial (2000).
Quem não teve resultados positivos com o Disque-Marcelinho foi a FPF, que esperava 5 milhões de telefonemas e uma arrecadação bruta de R$ 15 milhões, sendo R$ 7,7 milhões à entidade e o restante destinado aos custos operacionais. Ao todo, a campanha teve pouco mais de 470 mil ligações e cerca de R$ 141 mil designados para a Federação.
Vaquinha de palmeirenses por Wesley
Wesley foi importante no Santos campeão paulista e da Copa do Brasil, em 2010
Em 2012, a torcida do Palmeiras participou de um movimento semelhante para a contratação do ex-volante Wesley. Na época, a diretoria palmeirense promoveu uma vaquinha para que o clube acertasse a chegada do atleta.
O projeto, no entanto, fracassou. O clube, que pretendia arrecadar R$ 21 milhões, recebeu apenas R$ 700 mil na campanha. O dinheiro foi devolvido aos palmeirenses posteriormente.
O Verdão contratou Wesley mesmo com o fracasso da vaquinha. O clube contou com a ajuda do fiador Antenor Angeloni para pagar R$ 14 milhões ao Werder Bremen, que detinha os direitos econômicos do jogador.
Wesley chegou ao Palmeiras sob forte expectativa (Sergio Barzaghi/Gazeta Press)
O Palmeiras, no entanto, se endividou com Antenor e quitou seu débito, de cerca de $50 milhões, apenas em 2022, na gestão de Leila Pereira.
Pelo Verdão, Wesley anotou 12 gols em 103 partidas, tendo conquistado a Copa do Brasil de 2012 e a Série B do Campeonato Brasileiro de 2013. O ex-jogador não deixou saudades na torcida alviverde.
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