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Como técnicas de pôquer ajudaram base do Palmeiras a vencer jogos

Felipe Mojave, jogador profissional de pôquer - Arquivo Pessoal
Felipe Mojave, jogador profissional de pôquer Imagem: Arquivo Pessoal

Eder Traskini

Do UOL, em Santos (SP)

24/08/2021 04h00

João Burse: "Coloca na cabeça desses meninos que eu não quero a bola cruzada na área quando tem escanteio, porque toda vez eu falo para eles: não bate escanteio na área. Sabe o que acontece durante o jogo? Gabriel, o que acontece?"

Gabriel: "Desculpa, professor, bati a bola na área."

No que João Burse respondeu:

Na hora, ele não se lembra da jogada. Não sei se é o calor do jogo, o que é, mas não consegue. Qual técnica do pôquer você pode trazer pra ele?

A conversa aconteceu em janeiro de 2017, em Araraquara, durante a preparação do sub-20 do Palmeiras para a Copa São Paulo de Futebol Jr. O técnico João Burse, hoje no Cianorte, apresentava o brasileiro multicampeão de pôquer Felipe Mojave para uma palestra, organizada pela psicóloga Gisele Silva.

Mojave sorriu. Era exatamente aquele momento que o jogador de pôquer esperava, um encaixe perfeito para uma de suas estratégias desenvolvidas para esse jogo de cartas: o "optimum play".

"Você tem que visar a jogada top, a melhor. É a mesma coisa quando você está no seu trabalho, você está acostumado a entregar matérias boas, mas foi a melhor matéria que você entregou? Então, essa estratégia é pensar só nisso: não existe trabalho bom, só o ótimo. Isso faz você lembrar que o ótimo naquela jogada é o escanteio curto, não existe outra jogada, só essa", explicou Mojave em entrevista ao UOL Esporte.

Alguns dias depois, o jogador de pôquer que havia se aproximado do Verdão principalmente por causa do meia Moisés, recebeu um áudio de agradecimento de Burse. Gabriel, que hoje joga no FC Seoul, da Coreia do Sul, havia batido o escanteio curto.

"O que aconteceu no jogo? Os meninos ganharam de 1 a 0, com gol de bola curta de escanteio. Foi uma experiência transformadora. Sigo eles até hoje. Na época, essa situação do treinamento validou toda a estratégia do pôquer que eu estava trazendo: a definição para executar uma jogada. No pôquer, eu chamo de plano de jogada. É você saber no que você pensa primeiro para executar de forma adequada", lembrou.

Mojave tinha tanta proximidade com os atletas do alviverde na época que chegou a ir na concentração para jogar pôquer na véspera de um jogo. A visita foi autorizada pelo então técnico Cuca, que deu uma "bronca" com Moisés, mas não por causa do "penetra" do carteado.

"Moisés me falou: 'Como o mundo tem uma mentalidade atrasada, se a gente perder o jogo, vão falar que foi porque ficamos jogando pôquer até tarde, então vou pegar autorização do treinador'. O treinador era o Cuca, que respondeu por áudio: 'Conheço esse menino aí, ma,s pô, vai trazer ele nesse campeonato aqui que não vale nada? Traz na Libertadores, a gente precisa ganhar a Libertadores'. Fiquei até emocionado, a gente não espera que o cara vá conhecer. Imagina que vá ter um pé atrás em um meio conservador como o futebol. Foi muito legal", relembrou.

Mesa de pôquer no CT do Palmeiras - Fábio Menotti/Ag. Palmeiras - Fábio Menotti/Ag. Palmeiras
Imagem: Fábio Menotti/Ag. Palmeiras

Quem é Felipe Mojave

Mojave conheceu o pôquer pela televisão, em uma época que o SBT transmitia alguns torneios em TV aberta. Ele chegou a jogar de forma online, mas sua carreira foi para outros lados: se tornou o gerente mais jovem da história do banco onde trabalhava e também viu sua banda começar a fazer vários shows por semana.

Mesmo assim, o pôquer insistia em bater à porta de sua vida, até que conseguiu entrar. E foi de vez. Depois de muito rejeitar o convite do chefe para jogar pôquer com ele, Mojave topou e se apaixonou pelo esporte.

"Fiquei fissurado. Vi que o pôquer não era só um jogo, mas que era ótimo para trocar ideia com os amigos, fazer um networking... Eu entrei na internet e saí comprando todos os livros de pôquer que eu vi pela frente, tenho eles até hoje", contou.

Ainda assim, para ele, era só diversão. Não havia aspiração de deixar a carreira no banco para se dedicar ao esporte. Isso mudou quando, sendo apenas um jogador casual, ele venceu uma etapa do campeonato brasileiro.

"Começaram a dizer que eu tinha que me profissionalizar por causa dos resultados, mas eu não queria. Isso mudou quando fui para mesa final de um campeonato no Rio de Janeiro. Um empresário que representava uma marca chegou em mim dizendo que estavam me observando e queriam me patrocinar: eu iria rodar o mundo para jogar pôquer representando a marca. Eu nunca tinha saído do ABC paulista...", riu Mojave.

Foi assim que ele se profissionalizou e entrou no Circuito Mundial. Logo em seu primeiro torneio na Europa, se tornou o primeiro brasileiro premiado em torneios no Velho Continente. Hoje, vivendo na Áustria para facilitar o deslocamento para os principais campeonatos do planeta, ele é um dos maiores jogadores de pôquer do Brasil e do mundo.

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