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Como Neymar reagiu rápido à acusação da Nike e evitou trauma de 2019

Bom desempenho em campo na Copa América, com dois gols e duas assistências, ajudaram a "abafar" caso - Thiago Ribeiro/NurPhoto via Getty Images
Bom desempenho em campo na Copa América, com dois gols e duas assistências, ajudaram a "abafar" caso Imagem: Thiago Ribeiro/NurPhoto via Getty Images

Danilo Lavieri e Gabriel Carneiro

Do UOL, no Rio de Janeiro

30/06/2021 04h00

No fim de maio, uma notícia publicada pelo "Wall Street Journal", dos Estados Unidos, e confirmada pelo UOL Esporte, colocou Neymar no centro de mais uma polêmica nos bastidores. Dois anos depois de uma acusação de estupro por Najila Trindade, que não se comprovou, o jogador viu seu nome nas manchetes com confirmação da Nike — sua antiga fornecedora de material esportivo — sobre de uma investigação por abuso sexual a uma funcionária. Imediatamente, o medo de todos próximos ao jogador e dentro da seleção brasileira era o mesmo: será que a novela vai se repetir mais uma vez às vésperas de uma Copa América?

Uma reação rápida por causa do conhecimento prévio das acusações que viriam, um excelente rendimento dentro de campo e a crise de bastidores da CBF ajudaram o episódio a ser praticamente esquecido em tempo recorde quando o assunto é o atleta do PSG.

Desta vez, Neymar já estava preparado para que mais uma bomba caísse em seu colo às vésperas da Copa América. Desde o início do ano, ele sabia da possibilidade do vazamento e, durante todo o processo até a publicação, conseguia informações sobre os rumos da investigação, segundo apurou o UOL. O jogador preparou a todos ao seu redor, blindou seu estafe e, quando a notícia saiu, a repercussão durou poucos dias.

Primeiro porque a própria Nike disse que não tinha achado nada conclusivo nas investigações prévias. Segundo, porque o noticiário rapidamente se virou para uma revolta do vestiário contra a CBF por causa da mudança de sede da Copa América do Brasil em meio a uma crise política de Rogério Caboclo, que seria afastado dias depois da presidência da entidade justamente por uma acusação de assédio com direito a áudios no Fantástico.

Neymar - Thiago Ribeiro/AGIF - Thiago Ribeiro/AGIF
Neymar vibra com gol da vitória do Brasil marcado por Casemiro, com sua assistência, contra a Colômbia
Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF

Em toda essa crise, inclusive, o atleta do PSG assumiu papel importante de liderança entre os jogadores, fato que ainda não tinha sido visto em outros momentos importantes da seleção. Ele foi um dos que bateu de frente com a direção da CBF pelo rumo das decisões, tudo isso sem deixar de pautar a famosa "resenha" do vestiário, coisa que já era sua marca quase desde a primeira convocação.

Dentro de campo, a reação de Neymar também foi rápida. Ele alcançou na atual janela de seleção brasileira, entre jogos das Eliminatórias da Copa do Mundo e Copa América, sua melhor sequência vestindo a Amarelinha. Tite disse em coletiva que era difícil pará-lo quando ele estava em bom momento físico e psicológico. "As coisas funcionam diferentemente para ele", resumiu. Não é qualquer um que pode sonhar em ultrapassar o recorde de gols de Pelé com a seleção. Na verdade, ele é o único.

Na Copa América, ele é protagonista como já se esperava segundo números da própria Conmebol: líder de assistência ao lado de Messi mesmo com um jogo a menos, líder de chances criadas ao lado do paraguaio Alejandro Gamarra, e o mais caçado da competição.

A espiral de dois anos atrás

A reviravolta deste ano não foi possível às portas da Copa América de 2019, também realizada no Brasil, com o jogador mergulhado em uma espiral de notícias ruins. O jogador se apresentou à seleção naquela ocasião dias depois de ter agredido um torcedor na arquibancada na final da Copa da França. O episódio rendeu a perda da faixa de capitão da Canarinho após uma conversa dura com Tite.

Como se não bastasse, em uma de suas primeiras aparições dentro de campo, ele tomou um drible de um atleta do sub-20 do Cruzeiro que completava os treinamentos e reagiu o derrubando. O rolinho poderia passar apenas como mais um detalhe para um jogador de futebol. Mas não para ele. Não com o número recorde de jornalistas fazendo uma cobertura presencial na Granja Comary com o torneio sendo disputado no país depois de 30 anos.

Neymar - Juan Mabromata/AFP - Juan Mabromata/AFP
Neymar e Gabriel Medina no jogo do Brasil contra Paraguai pela Copa América de 2019
Imagem: Juan Mabromata/AFP

Dias depois, a acusação de Najila informada com exclusividade pelo UOL caiu como uma bomba na Granja Comary. O jogador teve o apoio de toda a comissão e do elenco. Ninguém duvidou que o atleta era inocente, mas o ambiente era inviável. Diretores e vices da CBF defendiam a saída do atleta, pressionavam Tite por uma tomada de decisão e era impossível que qualquer entrevista coletiva fosse feita sem que o tema fosse relembrado.

A cobertura da seleção na Copa América virou quase um caso de polícia e passou a integrar o noticiário dessa forma literalmente quando a Polícia Civil foi à Granja em busca de informações daquele caso. O astro não estava só nas discussões de mesa redonda, mas também em noticiários de Datena e Roberto Cabrini em horário nobre.

Por isso, a seleção foi para Brasília para um amistoso contra o Qatar sob alerta. O receio era sempre de alguma manifestação contra o jogador. O esquema de segurança era redobrado. Horas antes de a bola rolar, a repercussão do caso já tinha afastado um dos principais repórteres da Globo com direito a nota lida por Willian Bonner no "Jornal Nacional".

O jogo nem começou, e Neymar sofreu uma lesão grave. A sua descida do campo foi acompanhada por membros da comissão e imprensa e o vestiário abriu as portas para seu pai, fato inédito na Era Tite — que sempre considerou o local sagrado. A novela foi parar com a visita de Jair Bolsonaro em um hospital na capital federal e o corte do jogador em seguida. A saída, temia-se, seria uma grande perda técnica para um torneio com enorme pressão após a eliminação na Copa do Mundo de 2018. No fim, porém, a seleção se virou muito bem sem o astro.

Mas não é que o time e a comissão técnica queiram reviver a experiência agora. Na sexta-feira, o camisa 10 voltará a ser titular absoluto do Brasil, contra o Chile, pelas quartas de final, após ser preservado no fim de semana. Certamente, como protagonista em busca do título que ele só pôde comemorar dos camarotes do Maracanã em 2019.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Ao contrário do que informado anteriormente, o Brasil enfrenta o Chile na sexta e não o Equador. O erro foi corrigido.