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Eurocopa - 2021

Inglaterra x Escócia: como referendo afeta clássico de seleções mais antigo

Marcus Rashford em ação durante o Escócia 2 x 2 Inglaterra de junho de 2017, o último clássico entre as seleções - Mike Hewitt/Getty Images
Marcus Rashford em ação durante o Escócia 2 x 2 Inglaterra de junho de 2017, o último clássico entre as seleções Imagem: Mike Hewitt/Getty Images

Arthur Sandes

Do UOL, em São Paulo

18/06/2021 04h00

A 115ª edição do clássico mais antigo do futebol de seleções começa às 16 horas (de Brasília) de hoje (18), em Wembley, quando Inglaterra e Escócia se enfrentam pelo grupo D da Eurocopa. Em jogo, mais do que uma possível classificação antecipada dos ingleses para o mata-mata, estão duas guerras bem antigas, quase 150 anos de rivalidade em campo e um referendo de independência - talvez dois.

Os países constituem o Reino Unido com Irlanda do Norte e País de Gales, mas cada um tem sua própria seleção de futebol por estar associado à Uefa e à Fifa de forma independente. Sempre foi assim, desde que disputaram o primeiro jogo de seleções da história: o empate em 0 a 0 de 1872.

O retrospecto é equilibrado, com 48 vitórias inglesas contra 41 escocesas, mas em jogos decisivos a história é bem diferente. A Inglaterra venceu na Eurocopa de 1996 e nas Eliminatórias para Eurocopa 2000, quando a Escócia chegou a vencer em Wembley, mas caiu nos pênaltis em seguida. Pode-se dizer o mesmo sobre as Eliminatórias da Copa do Mundo de 2018, com uma vitória e um empate com gol de Harry Kane nos acréscimos.

Este empate em Glasgow foi o mais recente dos três jogos disputados desde o referendo de independência que a Escócia organizou em 2014, no qual a permanência no Reino Unido venceu com 55% dos votos. Com exceção da vitória frustrante de 1999, aquela que terminou em derrota nos pênaltis, os escoceses não levam a melhor sobre a Inglaterra desde um amistoso de 1985.

Some a isso o Brexit e um possível segundo referendo nos próximos meses, e o jogo de hoje passa a simbolizar muito mais do que três pontos na Eurocopa.

Guerras, família real e separatismo

Bandeiras de Inglaterra e Escócia - Steve Back/Getty Images - Steve Back/Getty Images
Imagem: Steve Back/Getty Images

O reino da Inglaterra invadiu a Escócia pela primeira vez no século 13, o que deu na Primeira Guerra de Independência da Escócia - aquela do filme "Coração Valente". Tentou mais uma vez décadas depois, mas não conseguiu conquistar o reino vizinho. Se os escoceses tivessem perdido aquelas guerras, provavelmente o clássico mais antigo do futebol hoje seria outro.

O caso é que a Escócia resistiu, manteve sua soberania, e o tempo passou. Em 1603, quando a rainha inglesa Elizabeth 1ª morreu em depressão e sem sucessor, seus conselheiros nomearam um primo dela, o Rei Jaime 6º, da Escócia, como monarca também da Inglaterra. Era o mesmo rei para dois países independentes, o que só mudou mais de cem anos depois, quando ambos formaram o Reino Unido sob regência de Ana da Grã-Bretanha - a do filme "A Favorita".

Estes três séculos de união, no entanto, podem estar perto de acabar. Muita coisa mudou desde o referendo de 2014, principalmente o Brexit, e o atual governo escocês já dá sinais de uma nova consulta à população depois da pandemia. "O tratado de 1707 nunca esteve tão próximo de ser quebrado", disse a premiê Nicola Sturgeon, há um ano e meio.

No meio desta disputa está a família real britânica, afinal Elizabeth II é a rainha dos dois países (e de outros 17). Há sete anos, quando soube do resultado daquele referendo escocês por telefone, ela teria "ronronado" de felicidade.